UFG a caminho

Educação

Aos 50 anos, Universidade Federal de Goiás vem se transformando em centro de excelência

Nos últimos anos, a Universidade Federal de Goiás vem comemorando diversas conquistas, como a ampliação do espaço construído, o nível de excelência em muitas áreas, a consolidação de mestres e doutores pesquisadores e a criação de uma série de novos cursos, ampliando inclusive as opções no período noturno. Para amarrar todas as festas numa celebração só, a instituição mira o próximo mês de dezembro, quando completa 50 anos de existência.

Nessas cinco décadas, muita gente se formou na UFG. Goiânia, que em 1960 ainda era uma cidade adolescente cheia de sonhos, saiu ganhando com a fundação da Universidade Federal, criada um ano depois de outra instituição importante para Goiás, a Universidade Católica, que em 2009 festejou seus 50 anos junto com o título de Pontifícia (PUC-GO).
No nascimento das duas instituições, durante décadas alguns cursos socialmente importantes ficaram restritos a uma ou outra, como Medicina na UFG e Psicologia na PUC-GO. Mas agora, com o crescimento populacional, o desenvolvimento econômico do Estado e o aumento da demanda, tudo se nivelou. Ambas se agigantaram. A comparação entre as duas, no entanto, pode parar por aqui. A UFG, como universidade pública, tem um perfil e um status bem diferentes de qualquer outra entidade que não seja também pública.
De acordo com seu atual reitor, Edward Madureira, a UFG chega aos 50 em grande forma por causa de largos investimentos em qualificação nas décadas de 1980 e 1990. O que se vê hoje, em termos de amadurecimento, projeção de excelência no quadro de professores, são ramificações, frutos colhidos de sementes bem plantadas. “Foi naquela época que nossos professores saíram para fazer seus cursos de mestrado e doutorado, o que elevou o capital intelectual da universidade”, avalia.
Fortemente preparados, muitos professores voltaram dos Estados Unidos, França, Alemanha, e até mesmo de centros de excelência brasileiros, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Esses professores ajudaram a dar uma cara nova ao quadro de pós-graduação da UFG, que, a partir do final da década de 1990, começou a crescer bastante, segundo Madureira, culminando no patamar atual.
Hoje, são quase 1.200 doutores pesquisadores nos quadros de docência da Universidade, que oferece 37 opções de mestrado e 19 de doutorado. “Isso distribuído em todas as áreas. Não há praticamente um setor que fique de fora”, diz o reitor. Ele reconhece que há algumas lacunas, como o Direito e a Comunicação Social, que ainda não têm doutorado, só oferecendo os cursos de mestrado. O primeiro reativou sua pós-graduação stricto sensu há dois anos, que havia sido extinta. No caso da Comunicação, que abrange os cursos de Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas, a grade do mestrado foi montada há três anos.
Os outros setores – como Ciências da Saúde, Física, Matemática, Química, Ciência da Computação, Letras e Ciências Agrárias – estão completamente preenchidos nesta demanda. A Universidade, inclusive, já inicia a tradição em formar doutores, como no curso de Engenharia Agrônoma, de onde vem o próprio reitor. Cria absoluta da UFG, Madureira fez ali a graduação, o mestrado e o doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas, entre as décadas de 1980 e 90, tendo trabalhado como pesquisador na iniciativa privada, mas voltando como concursado no corpo docente, em 1994.

Obras
O aumento da demanda fez a UFG crescer em número de alunos e de cursos, puxando também a necessidade de mais espaço. Quem deixou de passear pela Universidade há dez anos, por exemplo, ao fazê-lo agora leva um susto. O Campus II (Samambaia), que fica no setor Itatiaia, ganhou cara de cidade universitária, mas ainda com intermináveis obras. De acordo com Madureira, só na gestão dele, de 2006 para cá, foram executadas mais de 70 obras, entre construções e reformas. “A intenção é entregar mais outras 90 nos próprios quatro anos”, diz.
As obras estão sendo feitas em todos os Campi, os dois de Goiânia e também os de Jataí, Catalão e Goiás, com um investimento de R$ 97 milhões, de 2006 a 2009. Entre as que foram entregues recentemente (contando com as iniciadas na gestão anterior, de Milca Severino, atual secretária de Educação), estão os restaurantes universitário e executivo, o Cine UFG e um enorme prédio que sedia o Centro de Cultura e Eventos da Universidade, todos no Campus Samambaia. “Também estamos entregando a Casa do Estudante, aqui, e um Centro Cultural na Praça Universitária, que será inaugurado em junho”, diz.
Segundo o reitor, quase todas as faculdades estiveram em obras nestes últimos anos. Tirando as incontáveis intervenções tidas como menores, só o Campus Samambaia conta com cerca de dez obras de médio e grande portes sendo executadas atualmente, inclusive uma na rua principal, que virou a via de pernas para o ar, retirando todo o asfalto para duplicação.
No volume de obras em execução ou projetadas para este ano, há também a entrega do Instituto de Matemática, Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (IESA), a ampliação da Faculdade de Letras e o novo prédio da Faculdade de Educação Física. Este abrigará um curso de graduação de Dança, que começa no ano que vem.
Um novo bloco na quadra das engenharias, que abrigará também a Engenharia Mecânica e a Engenharia Ambiental, além do novo prédio da Faculdade de Artes Visuais (FAV), que vai abrigar o curso de Arquitetura, serão outras novidades para a paisagem da cidade universitária da UFG ainda em 2010. A faculdade de Música ficará com o prédio que dividia com a FAV.

Cursos
Na entrada do prédio da reitoria, que, aliás, é uma construção erguida há poucos anos, algumas fotos aéreas ilustram a diferença entre o começo da Universidade e sua atual fase de crescimento. Os gatos pingados de prédios dos tempos iniciais nem se comparam com a malha de blocos recentes e um mini boom em construções que vai da entrada leste, pelo Itatiaia, à entrada oeste, onde estão as instalações da Faculdade de Veterinária e Agronomia.
Se antes o Campus Samambaia era demasiado isolado, a realidade hoje é bem diferente. Os bairros em volta cresceram, criando uma corrida imobiliária cada vez mais acirrada na região. Também cresceu a movimentação no próprio Campus, com atividades inclusive no final de semana. O que parece não ter aumentado, pelo menos proporcionalmente, é a frota de ônibus coletivo que atende aquela área.
A Universidade vem assimilando muito mais alunos vindos da rede pública de ensino, ou seja, em sua maioria, pessoas que não têm condições de ir para a faculdade de carro e precisam usar o transporte coletivo. Além de haver a velha tradição de estudante ser o sujeito mais sem grana do planeta. O resultado da deficiência pública são ônibus superlotados, que atendem a comunidade local e os alunos da UFG de forma precária.
Atualmente, a UFG conta com um quadro de 20,5 mil alunos matriculados em cursos presenciais e mais de dois mil estudantes de Educação a Distância (EaD). A maioria frequenta aulas no Campus Samambaia. Além disso, nos últimos quatro anos, o número de vagas no vestibular praticamente dobrou na instituição, passando de 3 mil para 5,8 mil, com expectativa de chegar a 6,7 mil até 2012.

 

O efeito do crescimento
De acordo com Edward Madureira, os números apresentados estão diretamente ligados à criação de novos cursos, mas também à ampliação de alguns já existentes. A primeira turma de muitos deles ainda nem se graduou, como é o caso da Engenharia Mecânica, criada em 2009. Esse crescimento faz parte de dois projetos formatados entre 2005 e 2007, o Expansão I e o REUNI (Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), dentro dos quais mais de 50 cursos de graduação foram montados na UFG.
Só em Goiânia foram criadas mais de 30 graduações. Entre elas, as de Arquitetura, Estatística, Engenharia Química e Museologia. Nesse período também foram montados os cursos de Psicologia, Ciências Contábeis, Administração, Economia. As três últimas são parte da área de Ciências Econômicas, a única que foi criação autônoma, para atender a uma demanda há muito pendente, fora do programa federal de expansão.
Outro efeito desse crescimento foi a movimentação noturna nos Campi da UFG, uma vez que boa parte dessa grade é ministrada à noite, como os cursos da área de Ciências Econômicas. “Hoje, só no Campus Samambaia, temos uma quantidade surpreendente de alunos no período noturno”, diz Madureira. Segundo ele, cerca de três mil alunos circulam no local durante à noite, ou seja, 15% do total.
Sem contar os alunos que vão para a Praça Universitária, onde fica o Campus I, Colemar Natal e Silva (nome do primeiro reitor da Universidade). “A tendência é aumentar esse volume de alunos, porque são cursos mais novos, que ainda não completaram todas as turmas”, observa Madureira.
Segundo o reitor, os novos cursos ajudaram a preencher grandes lacunas, não só em relação a algumas áreas, como de Ciências Econômicas, mas também no que diz respeito à ociosidade da noite na UFG. “Hoje, o aluno tem a opção real de estudar nesse período em cursos de alta demanda, junto com as licenciaturas tradicionais, como Letras. Isso modifica completamente a estrutura da universidade”, avalia.

Destaque
Olhando a UFG hoje, a maior conquista, segundo Madureira, foi sem dúvida a posição de destaque como agente do desenvolvimento do Estado. Para ele, a Universidade, com seus 1200 doutores e uma boa estrutura para desenvolver pesquisas de alta tecnologia, é um potencial que Goiás precisa explorar mais. “É um quadro de pessoal com nível de excelência altíssimo, pronto para contribuir”, diz.
Outro destaque é a avaliação dos cursos feita pelo Ministério da Educação (MEC), por meio do Enade. Medicina, Direito e Odontologia, por exemplo, pioneiros da instituição e símbolos do status quo, em matéria de formação tradicional, estão entre os mais bem qualificados do País, com nota máxima (Conceito A). O curso de Matemática também segue a mesma linha.
“Quase todos os cursos tiram notas entre 4 e 5. As notas menores, muitas vezes, ficam por conta da rebeldia dos estudantes, que boicotam a prova”, diz o reitor. Segundo ele, quando isso acontece, a Universidade procura fazer um trabalho de conscientização, como aconteceu com os alunos de Ciências Sociais, que reprovavam o Enade e por isso faziam uma prova péssima.
Depois de várias conversas, em 2009, eles foram mais aplicados e tiraram nota máxima, ficando entre os cinco melhores do país. “Agora quem precisa se conscientizar são os alunos de História. No ano passado, eles foram muito mal”, provoca o reitor.

Universidade pública é para o povo
Entra ano e sai ano e os estudantes universitários mantêm firme a tradição de contestar, principalmente os alunos de cursos ligados às ciências humanas. Para eles não basta uma universidade cheia de salamaleques em torno de títulos e avanços tecnológicos. O que eles querem é uma instituição com tudo isso, mas também com amplo acesso da população menos favorecida.
Seguindo uma cartilha que oscila entre a utopia e a realidade social, em que poucas cabeças oriundas das classes pobres entram para o universo acadêmico, os estudantes reivindicam uma nova postura para a universidade pública. “Hoje, perguntamos qual é a universidade que queremos. E a resposta ainda não é esta que temos”, diz o estudante de Psicologia da Universidade Federal de Goiás, Luciano Alvarenga Montalvão.
Ele se refere aos avanços conquistados pela UFG nos 50 anos de existência da instituição, que serão celebrados em dezembro próximo. Hoje, a Universidade tem pesquisadores reconhecidos internacionalmente, como a enorme equipe que faz um estudo de ponta em nanotecnologia, envolvendo doutores e mestres das áreas de Ciências Biológicas, Física, Química e Farmácia, em parcerias de sucesso com a iniciativa privada.  
Nada disso tira o foco de Montalvão, que é coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes da UFG (DCE), e fala em nome de um grupo que representa a maior parte do corpo discente da Universidade. Segundo ele, não há como negar o avanço da instituição, mas ainda é pouco para uma entidade que deveria exercer seu papel público em primeiro lugar. Esse papel seria o de colocar nos bancos de faculdade o maior número possível de estudantes pobres, que representam a maioria da sociedade.
“Como instituição pública, o que a UFG tem de fazer é criar e fortalecer núcleos de pesquisa que atendam às necessidades na área de saúde, moradias, populares, planejamento urbano, transporte”, diz Montalvão. Segundo ele, a UFG tem núcleos de pesquisa ligada à Nestlé e à Monsanto (gigante multinacional de agroquímicos), mas isso não resolve os problemas urgentes da ampla maioria.
Montalvão dá um exemplo do que poderia ser feito e que, segundo ele, não é levado em conta. “O acesso de minorias sociais e étnicas deveria ser obtido também por meio da fomentação de cursinhos populares. Exatamente como fazemos com o Comunidade Faz Arte. Por meio dele, em 2009, conseguimos colocar 30 alunos na UFG, dos 150 que frequentavam as aulas”, diz.
Em sua opinião, o atual número de cotas sociais e étnicas não é o bastante. Os alunos precisam travar uma luta cotidiana para conseguir mais. “A gente constrói uma universidade popular é no enfrentamento”, afirma. Esta luta se faz por meio de engajamentos e projetos como o de dar cursos de formação política para os alunos de Ensino Médio de escola pública, com o objetivo de fazê-los entrar na universidade já conscientizados politicamente. “Esse projeto está em via de ser aprovado pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura”, diz Montalvão.
Segundo ele, ações como esta possibilitam o contato dos alunos da UFG com a comunidade, despertando a população para o fato de que a universidade é popular, é sua, portanto. O discurso é reto e claro. O modelo que querem não é este. “A UFG está sendo disputada, em todas as instâncias, mas, principalmente no que diz respeito ao processo de expansão, ligado ao REUNI (Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais)”, analisa.
“Não aceitamos o REUNI, que vale para todas as universidades públicas, como também não aceitamos o projeto da UFG, que pretende apenas formar profissionais e pesquisadores altamente qualificados, que chamamos de Centros de Excelência, a exemplo da Universidade de São Paulo (USP). Não aceitamos porque isso pode ser traduzido como a formação de um contingente de mão-de-obra que só atende os interesses da iniciativa privada, em especial de grandes grupos econômicos”, defende.
O estudante argumenta que o que estraga o projeto de expansão é o modelo que almeja o mercado e não a população. “Queremos uma universidade pautada num projeto que garanta o acesso e a permanência das classes populares. Como se faz isso? Em primeiro lugar dando a elas a possibilidade do acesso, como acabando com a taxa do vestibular”, diz.
Ele estima que uma grande quantidade de candidatos não concorre a uma vaga na UFG por não poder pagar a taxa do vestibular. Acha insuficiente a assistência dada pela Pró-Reitoria de Assuntos da Comunidade Universitária (Procom) a alunos carentes. Uma dessas ações é a isenção da taxa do vestibular, que em 2009 custou R$ 95.
Na universidade ideal dos estudantes representados por Montalvão, o número de cotas (políticas de ações afirmativas) deveria aumentar até que a universidade conseguisse colocar os alunos da rede pública em igualdade de concorrência com os oriundos da rede particular de ensino. Além disso, deveria criar novas políticas de ação e inclusão.
Depois de tudo isso, diz Montalvão, ainda teriam de se criar mecanismos de permanência do aluno na universidade, como uma bolsa permanência, por exemplo, para despesas com moradia, creche, verba para transporte, alimentação, entre outras ações.
É claro que se todas essas reivindicações saíssem do papel, ainda haveria perguntas: com um ensino básico de qualidade duvidosa, alguém aprenderia a pensar sistematicamente? Depois do acesso a essa universidade, os alunos formados nela, conscientizados e cheios de ideias, trabalhariam onde?

Gilberto G. Pereira

R$ 450 milhões em folha de pagamento
“O número é impressionante, mas vou detalhar isso.” Foi o que disse o reitor da UFG, Edward Madureira, ao ser perguntado sobre o orçamento anual da instituição. R$ 500 milhões. Mas Madureira logo desfaz qualquer equívoco que a cifra de meio bilhão de reais pudesse causar. “Noventa por cento desse valor vão para a folha de pagamento, tanto da ativa quanto pensionistas e aposentados”, diz.
Com R$ 500 milhões passíveis de investimento, o Campus II da UFG (Campus Samambaia) seria inundado em obras, a julgar pelo volume de construções e reformas impresso na paisagem atual da Universidade. Mas o que sobra depois da folha são meros R$ 50 milhões, que ainda são dedicados ao orçamento de custeio capital, termo técnico para os gastos com energia, telefone, material didático, segurança e limpeza, entre outros.
Então o que sobra para o investimento em tantos canteiros de obras? Quase nada. Na verdade, o que alimenta a vontade de levantar prédios da atual gestão são os recursos extras repassados pelo governo federal dentro dos projetos de expansão, como o REUNI. É graças a ele que a UFG está investindo mais de R$ 30 milhões em obras, só agora em 2010. No ano passado, a quantia foi parecida, algo em torno de R$ 35 milhões. É o que ele chama de recurso de capital carimbado.
Há outras fontes de recursos que jogam no caixa da Universidade verbas menores, mas significativas do ponto de vista operacional, tanto para pesquisas quanto para a continuidade do melhoramento de infraestruturas. Uma dessas fontes é a FINEP, órgão de financiamento ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). A FAPEG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás) também começa a ter uma regularidade no repasse dos recursos. “A UFG é extremamente competitiva nos editais da FAPEG e da FINEP”, diz o reitor.
Esse nível de excelência a que chega a UFG também diz respeito à sua capacidade de captar verbas em vários órgãos, por meio de seu quadro de pesquisadores. Além da FINEP e da FAPEG, há o CNPq, responsável por grande parte de pesquisa no país, e a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Estas também injetam recursos na Universidade. “Às vezes, até em editais internacionais a gente consegue captar alguma coisa, e em editais de grandes corporações como a Petrobras”, comenta Madureira.
Mais um poro de captação de recursos são as emendas de deputados federais e senadores de Goiás. Tanto as individuais quanto as emendas de bancadas, que são de valor maior. No plano individual, cada deputado tem R$ 12 milhões disponíveis por ano para aplicar em projetos de sua base. “Muitos deles colocam uma fatia desse total aqui na UFG”, lembra o reitor. Além disso, diz ele, a instituição tem um acerto com a bancada que anualmente executa uma emenda cuja verba é aplicada na construção do novo Hospital das Clínicas.

Papel social
Na pauta de discussão de qual é o papel de uma universidade pública, muitos problemas são discutidos. Desde que foi fundada, como qualquer instituição desse status, as questões sempre se renovam. Nos últimos anos, o projeto de expansão do ensino superior fez muita gente entrar nas universidades públicas, mas a maioria teve de se contentar com as privadas, muitas das quais de péssima qualidade.
Esse tipo de observação também está na leitura feita por Luciano Montalvão, estudante de Psicologia e coordenador geral do DCE. Mas, quando se traz o debate para a esfera local, a reitoria da UFG contra-argumenta que suas políticas de expansão e de qualificação são todas executadas com um olho em direção ao papel social que ela sempre teve.
Um exemplo que reitor utiliza é a expansão do Hospital das Clínicas, que é o maior do Estado, com 300 leitos atualmente. “Agora está sendo construído um novo bloco de internação com 600 leitos e, com isso, será o maior hospital do Centro-Oeste”, diz Madureira. Segundo ele, isso tudo faz parte do papel social da universidade. “Para ter um curso de Medicina, Enfermagem, Nutrição, Odontologia e Farmácia, não precisaria ter um hospital do tamanho que a UFG tem. Este Hospital atende a sociedade mesmo”, reforça.
Nas declarações do reitor, há marcadamente fatos que contam pontos para o papel social da UFG e outros que demonstram lacunas ou falta de articulação com a própria sociedade. No primeiro caso, além do exemplo do Hospital das Clínicas, há outros fatores como o atendimento às comunidades indígenas na formação de professores. Os índios vêm para a universidade, prestam o vestibular para um curso especial e se formam professores que darão aulas nas aldeias indígenas.
Outro exemplo de inserção nas camadas mais necessitadas da sociedade foi um curso especial de Direito oferecido para os beneficiários da reforma agrária e agricultura familiar, ministrado na Faculdade de Direito do Campus da cidade de Goiás. “Esse curso sofreu questionamentos por setores da sociedade, mas a UFG bancou a iniciativa”, diz Madureira.
A discussão das cotas também atualiza o debate do papel da UFG. Enquanto o DCE afirma que é muito pouco o que a universidade faz, o reitor acredita que a medida, por ser pontual, alcança o objetivo de evitar que gerações inteiras continuem alijadas do espaço acadêmico. Não se refere apenas aos negros, mas à camada pobre da sociedade, porque, segundo ele, as cotas na UFG são basicamente sociais. “Tem um recorte racial, mas mesmo esse recorte é dentro do recorte da escola pública, ou seja, negros vindos de origens desfavorecidas”, afirma.
Por outro lado, algumas observações parecem pairar no vazio. Segundo o reitor, na discussão das políticas públicas, a Universidade tem uma contribuição boa, porque muitos problemas da cidade, desde o trânsito, o transporte, a educação básica até a saúde, têm a participação da UFG nas soluções.
O fato é que tudo isso ainda não se apresentou solucionado, não por responsabilidade da instituição, mas exatamente porque parece faltar a liga entre o poder público e potencial do think tank da UFG. A realidade é a mesma do gari que almeja doutorado. Se atinge o fim, é exceção. No horizonte da classe que precisa de serviços públicos mais ágeis e sadios, o que há se parece mais com pesadelo do que com sonhos.