A dor e a delícia de ser mãe

Há três meses, a jornalista Patrícia Bra­sil, 28 anos, convive com o mal estar típico do início de gravidez. Depois de um tratamento para estimular a ovulação, ela e o esposo, o gerente de estoque Leandro Al­ves, 30 anos, comemoram a che­gada do primeiro filho. Nes­se mesmo período, a supervisora de call center Fabíola Rafaela Santos Evan­gelista, 29 anos, trocou a rotina de trabalho e es­tudos pelos cuidados com a filha.
A pequena Mariana Rafaela Santos Evangelista, que nasceu em janeiro, já era sonhada desde a época do namoro. Fabíola e o esposo, o técnico em pintura automotiva, Cléber Bispo Evangelista, 26 anos, combinaram que depois do segundo ano de casamento teriam um filho. O plano deu certo e a gravidez foi confirmada apenas dois meses depois do prazo estabelecido.
Patrícia e Leandro também haviam marcado uma data para a chegada do primeiro filho: quatro anos de casamento. O desejo de terem uma criança veio antes do previsto, mas o sonho teve que ser adiado por causa da dificuldade para ovular. “Durante o tratamento, que durou dois anos, pensava: 'será que Deus não quer que eu seja mãe'”, lembra a jovem, que manteve segredo a respeito do tratamento para evitar questionamentos e cobranças.

Adaptações do corpo
A alegria após a  confirmação só não é maior por causa dos enjoos. “Brinco que o meu marido está mais feliz do que eu, porque não sente nada”, diz Patrícia. E esse não é apenas o único sintoma característico da gestação. O corpo da mulher passa por diversas adaptações durante o período da gravidez, conforme explica o ginecologista e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (FM-UFG), Vardeli Alves de Moraes.
Essas mudanças, de acordo com ele, “decorrem do aumento da produção dos hormônios estrogênio e progesterona” e são mais sentidas pelas mães de primeira viagem, que desconhecem a maioria dos sintomas. “Nas gestações seguintes a mulher compreender melhor as alterações do corpo”, considera. Entre as modificações estão o aparecimento de manchas no rosto, os chamados melasmas,  resultado da atuação do hormônio estrógeno.
Há ainda o aumento da frequência cardíaca, ocasionada pela retenção do líquido circulante nos vasos sanguíneos, e do volume urinário, pois o útero em crescimento comprime a bexiga.  Com o aumento de peso, além das dores na lombar, a gestante terá dificuldade de manter o equilíbrio. Para facilitar a locomoção, a mulher passa a caminhar com as pernas afastadas.
Sintomas como a azia  ou queimação podem ser evitados por meio de uma alimentação equilibrada, com a ingestão de frutas, verduras e alimentos mais naturais. Patrícia tem investido nesse tipo de dieta. “Tento seguir as indicações da minha médica e tomar as vitaminas prescritas para que bebê nasça mais saudável”, explica.

Gravidez inesperada
Em 2010, uma semana an­tes do dia das mães, a publicitária Fernanda Rodrigues, 22 anos, descobriu que estava grávida. E mais: já estava no quarto mês de gestação. Ao con­trário do que em geral ocorre, ela não sofreu alterações corporais típicas do pe­río­do gestacional. “Era perceptível que eu estava engordando, mas não parei de mens­truar e não senti enjoos”, lembra.
O susto inicial foi grande porque Fernanda não sabia como a família reagiria. A vida só começou a entrar nos eixos depois que a publicitária, à época ainda estudante universitária, conversou com mãe e recebeu o apoio dos parentes. Nesse período, o acompanhamento do ex-na­mo­rado, pai de Alice Ro­dri­gues, hoje com um ano e sete meses, foi importante para que o medo inicial cedesse lugar às rotinas da gestação.
Ela, então, percebeu que nunca mais estaria sozinha. “Sou muito independente e, por causa disso, muito carente. Me tornei responsável pela Alice pelo resto da vida, mas sei que se precisar de alguém, nem que seja para abraçar e chorar junto, ela estará ao meu lado. Não há amor no mundo maior do que pelo filho.  É muito incondicional”, analisa a publicitária.  
A interação com a filha foi estimulada desde a barriga. Fã de rock, Fernanda costumava ouvir músicas da banca americana The Strokes durante a gravidez. Ela diz que a filha até hoje se recorda das canções. A menina também é antenada nas redes sociais da internet, parte fundamental do trabalho da mãe. “A Alice já sabe que no computador podemos ver fotos e entrar no 'Face' (Facebook)”, relata.
Para a psicóloga Noecyr Mendonça, o pai e até mesmo os irmãos devem conversar com o feto sobre as expectativas de sua chegada, sobre os sentimentos que nutrem por ele e sobre as dificuldades enfrentadas, além de cantar, ler histórias e acariciar o ventre.

Mudança de foco
A chegada de um bebê gera expectativas e mudanças nos planos da vida das mamães. Para Fernanda, esse reordenamento de prioridades pode ser percebido em pequenos detalhes. “Até a maneira de olhar para a vitrine de uma loja mudou. Hoje, procuro coisas que possam ser interessantes para a Alice”, exemplifica.
Se antes da maternidade ela tinha sua própria rotina, sem justificar as saídas com os amigos, por exemplo, atualmente ela diz que primeiro leva em consideração as necessidades da filha. Fernanda verifica se há  alguém para cuidar de Alice ou se a menina não precisa de atenção especial, tendo em vista que passam pouco tempo juntas durante a semana.
O filho de Patrícia e Leandro também começa a gerar mudanças na casa. A mãe de primeira viagem planeja transformar um dos cômodos do apartamento onde vive no quarto para o bebê. Ela  já  comprou livros que falam sobre o tema gravidez para esclarecer dúvidas sobre o assunto. “Me sinto mãe e nesses já nesses três meses tenho me pensado a respeito dos cuidados que vou ter depois que ele nascer. Só agora entendo os sentimentos da minha mãe”, conta a jornalista.
Assim como Patrícia, Fabíola também buscou informações sobre gestação navegando em sites específicos para grávidas e conversando com a mãe e com as cunhadas sobre seus medos e dúvidas. Ela relata que os primeiros meses depois do nascimento da filha estão sendo difíceis, mas prazerosos. “O foco do casal está todo voltado para a Mariana”, reconhece Fabíola
Afastada do trabalho devido a licença maternidade, ela trancou a faculdade de administração.  Evangélica, pretende redirecionar os estudos para a área de teologia e aconselhamento de casais, pois percebeu que o nascimento do primeiro filho transforma as relações familiares. Para Fabíola, muitas vezes, a mãe centra sua atenção apenas na criança e esquece de envolver o pai nas rotinas do bebê.

Adaptando o corpo


* Pele: Surgem manchas conhecidas como melasmas, resultado da atuação do hormônio estrógeno
* Útero: Aumento uterino provoca falta de ar. Além disso, o útero comprime a bexiga, o que aumenta a frequência urinária.  
* Coluna: Com o aumento de peso, a gestante terá dificuldade para manter o equilíbrio. Para facilitar a locomoção, passa a caminhar com as pernas afastadas
* Coração: Frequência cardíaca aumenta por causa da retenção do líquido circulante nos vasos sanguíneos.


Mamães necessitam de cuidados especias

Para a psicóloga Juliana Borges Naves, que atua na Maternidade Nascer Cidadão, a mãe é uma cuidadora que também necessita de atenção especial, tanto física quanto emocional. Durante a gravidez, a mulher tem uma maior exigência de afeto: fica mais sensível e carente. A psicóloga Noecyr Mendonça destaca que esse é um período de transição na vida da mulher. Ela terá que assumir mais um papel, o que pode interferir em sua rotina e nos planos pessoais.
Juliana sustenta que a criança ocupa um lugar de fantasia na vida mãe. O conflito entre as expectativas criadas em relação a criança e a realidade pode gerar problemas para a mãe, entre eles a depressão pós-parto. “Nesses casos, depois do nascimento a realidade não atende às expectativas criadas. Há um descompasso entre o lugar de fantasia que o bebê ocupa e o que de fato ocorre após a sua chegada”, explica. É o que acontece quando a mãe não consegue amamentar, por exemplo.
Os grupos de gestantes são uma alternativa para compartilhar as dúvidas e dissipar as fantasias e os medos. Na Maternidade Nascer Cidadão, as mães se reúnem às terças, a partir das 08h. Além do apoio psicológico e da troca de experiências, recebem dicas da doula Ellen Kuhl, profissional especializada em acompanhar o trabalho de parto que ensina técnicas de relaxamento e respiração. Para participar do grupo não é preciso realizar inscrição.
Para a Juliana esse encontro é importante porque proporciona a troca de experiências entre as gestantes. “Mulheres de todas as idades participam. Com as conversas fantasias terríveis, como a morte no parto, podem ser deixadas de lado”, avalia.
Noecyr pontua que cada fase da gestação possui medos específicos. Nos primeiros meses a mulher convive com a dúvida se está ou não gestante, no último trimestre aumenta a ansiedade em relação ao parto e o medo de ser destruída no momento em que o filho, uma nova geração, a substitui. Ela também experimenta o medo das mudanças corporais estéticas e de não ter leite ou de não saber cuidar do bebê.