O gigante de água

Thaís Lobo

Se você acha que o clima no Brasil é quente e, muitas vezes, incômodo, espere até conhecer o mais novo planeta descoberto pelos cientistas americanos. Com uma temperatura média de 200°C e um ano que dura apenas 38 horas, o GJ1214b causou frisson entre os cientistas por apresentar uma estrutura diferente de qualquer outro astro no universo.

Até agora nós tínhamos os planetas gasosos e os rochosos. Esse planeta tem essa diferença: ele é formado basicamente por água,” destaca o diretor do Planetário da UFG (Universidade Federal de Goiás), Juan Bernardino Marques Barrio.
Além da grande quantidade de água, o novo planeta chama a atenção pela sua atmosfera, composta de vapor e, por isso mesmo, impede a evaporação do líquido.
Contudo, essa estrutura - aliada a altas temperaturas – apresentam situações pouco conhecidas dos humanos, como o gelo quente. “O gelo é água em estado sólido e isso pode acontecer por queda de temperatura ou aumento de pressão. Nesse planeta, a pressão é muito alta e isso pode fazer com que a água entre em estado sólido mesmo estando quente”, explica o pesquisador do Observatório Nacional no Rio de Janeiro, Jorge Márcio Carvano.
Localizado fora do sistema solar, na 13º constelação zodiacal, a de Ophiuchus, e há 40 mil anos-luz da Terra, o GJ1214b tem um raio 2,6 vezes maior que o da Terra, pesando 7 vezes mais. Ele foi observado pela primeira vez em 2009, mas só agora os pesquisadores conseguiram dissecar o gigante de água, através de observações no telescópio Hubble da Nasa.
Ainda assim, segundo Barrio, não há como afirmar a existência desse e dos outros 763 planetas já catalogados. “Eu diria que são 763 candidatos a planeta, porque você não observa eles diretamente, mas sim as perturbações na estrela,” ressalta.
Carvano discorda. Ele explica que cada vez que um planeta passa na frente de uma estrela,, ela produz oscilações que são observadas pelo telescópio. Para ele, essas observações são provas da existência desses astros.

Vida possível?
Apesar da existência de água que, do ponto de vista humano, possibilitaria a vida, é quase impossível encontrar algo animado no GJ1214b por conta da alta temperatura do planeta.
Mas para Carvano, sempre há possibilidades. “Nós procuramos vida em planetas similares à Terra, mas temos que levar em conta que nosso conhecimento é muito limitado”, argumenta.
Ele afirma ainda que essa nova descoberta comprova a existência de uma grande diversidade nos planetas da galáxia, realidade que não era imaginada antes. Já Barrio acredita que essas pesquisas são fundamentais porque quanto mais conhecermos o universo, mais conhecimento teremos de nós mesmos. “Essas descobertas nos permitem avaliar a nossa história egressa e as possibilidades de evolução do nosso sistema solar. Nós estamos identificando que o sistema solar é único, não existe outro igual”, considera o pesquisador goiano.