Chanson d’amour

Sabah Moraes apresenta hoje, no Teatro Sesi, as principais músicas da inesquecível Edith Piaf
ADALTO ALVES


Decisões cruciais, muitas vezes, são tomadas em situações prosaicas. A cantora Sabah Moraes e seu marido, o músico Ney Couteiro, quebravam cabeça para escolher o tema de um espetáculo que seria exibido no Teatro Sesi. Eles tinham duas alternativas em vista. Os 30 anos da morte de Clara Nunes, que serão lembrados em abril de 2013, oferecem a oportunidade de reviver canções memoráveis. O centenário de nascimento de Dorival Caymmi, em abril de 2014, é igualmente propício ao polimento de canções inesquecíveis. Até que um LP no toca-discos serviu a inspiração de bandeja. “Por que não fazer Piaf?”, perguntou Sabah. Nada mais natural do que responder: por que não?

Efemérides relacionadas à artista francesa Edith Piaf, vivida por Marion Cotillard (Oscar de Melhor Atriz) no filme Piaf – Um Hino ao Amor, de Olivier Dahan, em 2007, não faltam no calendário futuro. “O cinquentenário da morte de Piaf será em outubro de 2013”, lembra Sabah. “E o centenário de nascimento será em dezembro de 2015.” Nada disso, na verdade, é relevante para o espetáculo que Sabah e Couteiro apresentam hoje, com entrada franca, no Teatro Sesi. Para ouvir Piaf, não é necessário remeter-se a datas simbólicas ou históricos de superação. Mas não faz mal apostar em certo glamour.

Para tanto, cuidados especiais foram tomados com uma produção que, se não chega a ser suntuosa, prima pelos detalhes de acabamento. O cenário de Paulinho Pessoa sugere uma atmosfera de cabaré, inspirada na Paris de 1950, na qual se movimentam figurantes teatrais. Entre eles, sob a luz dos holofotes, Sabah desfila o figurino de Cláudio Livas. Cabelo e maquiagem, adequados à época e à homenageada, são de Daniel Gonçalves. Diretor do Grupo de Teatro Artes & Fatos, da Pontifícia Universidade Católica (PUC Goiás), Danilo Alencar encarregou-se do roteiro e direção cênica.

Na direção musical, o experiente Couteiro arregimentou uma formação inusitada, com músicos qualificados, para seduzir a plateia com uma sonoridade peculiar. Ele próprio ao violão e bandolim coordena as partituras de Henrique Reis (piano e acordeom), Adriana Losi (flauta), Marcos Silveira (violino), Pedro Cruz (violino), Cindy Folly (viola), Camylla Lopes (violoncelo) e Bruno Rejan (contrabaixo). Os dramas de amores cantados por Piaf constam num repertório que abraça La Vie en Rose, Ne Me Quitte Pas, La Valse D’amour, Padam, Padam, entre outras.

Treinando ‘le français’
Para interpretar a carga emocional que Piaf transmitia em cada verso, Sabah submeteu-se a uma preparação diferente de outros espetáculos. Dar uma calibrada no francês, por exemplo, acabou sendo propício. “Estudei francês quando fazia Letras, há vários anos, e no Canto Lírico. Voltei a estudar porque pretendo cursar doutorado, daqui a dois anos, em Canto Popular ou Musicologia.” Sabah formou-se em Canto Lírico e, recentemente, concluiu o mestrado em Canto Popular na Universidade Federal de Goiás (UFG).
Tamanho investimento para apenas uma data seria compensador? “Temos duas datas marcadas no segundo semestre”, diz Sabah. “Estamos negociando com a Aliança Francesa a possibilidade de novas apresentações.” A justificativa para tanto apuro é só uma: “Não dá para fazer Piaf de qualquer jeito.” Ainda mais quando se sabe que, no Brasil, existe uma senhora, chamada Bibi Ferreira, que detém a primazia de cantar Piaf com uma nobreza emocionante. Levando-se em conta que, antes da estreia, foram realizados três ensaios gerais, a tendência é que a encenação ganhe corpo e densidade com o tempo. A oportunidade de uma temporada seria enriquecedora.
“Os cantores repassam a ópera com o pianista e depois com a orquestra”, diz Sabah, para emendar que, primeiro, tirou as músicas todas com Couteiro, ao longo de meses, antes de passar com o grupo. Divulgando o espetáculo, nesse período, ela descobriu que muita gente conhece e gosta de Piaf. Obra, talvez, do filme de Dahan, que trouxe novamente à baila o perfil da cantora que, abandonada pelos pais, conviveu com prostitutas, atuou em circos mambembes e começou a cantar na rua por uns trocados a mais, seguindo a carreira dos cabarés para os grandes palcos.

A responsabilidade
Muito tocada na Segunda Guerra Mundial – consta que teria atuado na resistência à ocupação nazista –, Piaf viu sua fama decolar para o mundo com o fim do conflito. Nos Estados Unidos, aliás, conheceu o pugilista Marcel Cerdan, maior amor de sua vida. A tórrida paixão, no entanto, acabou de maneira trágica. Em 1949, Marcel morreu num acidente de avião, a caminho de um encontro com Piaf. Não lhe faltaram pretendentes, amantes e maridos. Nenhum deles aplacou a dor, física e emocional, combatida com doses excessivas de morfina. Piaf morreu aos 47 anos de idade.
Enaltecendo o Teatro Sesi, (“grande, bonito, dotado de uma equipe atenciosa e que mantém uma programação diversificada e louvável”), Sabah avisa que o espetáculo será gravado com duas câmeras. “Vamos analisar a qualidade e estudar a viabilidade de lançar um DVD.” Dona de quatro CDs e o DVD Um Rio de Mim, lançado em 2011 no mesmo local, ela não perderia admiradores com esta iniciativa. Muito pelo contrário. Curvar-se diante de Piaf, que confundia vida e obra com intensidade rara, não é para desavisados. Nesta avenida, o risco do choque é iminente.


Confira
Sabah Moraes interpreta Edith Piaf
Quando: Hoje
Onde: Teatro Sesi (Avenida João Leite, 1.013. Santa Genoveva. Fone: 3269-0800)
Horário: 20 horas
Entrada franca