Goiás em busca da verdade

Comissão criada pela presidente Dilma vem a Goiânia para levantar dados do período da repressão

 

Alfredo Mergulhão

 

Dilma ditadura

 

Criada para apurar violações aos direitos humanos ocorridas no período entre 1946 e 1988, sobretudo nos 20 anos da ditadura militar, a Comissão Nacional da Verdade vem a Goiânia nessa semana na tentativa de reconstituir a parte dessa história que se passou em território goiano. O interesse em Goiás deve-se aos 15 mortos ou desaparecidos políticos no Estado durante o regime militar, dezenas de pessoas presas e torturadas pelos órgãos repressores da época e um arquivo documental pobre acerca das prisões e sequestros de militantes esquerdistas.

 

A comissão desembarca na capital na próxima quinta-feira, quando se reunirá com o Comitê Goiano da Verdade, na Assembleia Legislativa. Será um encontro preliminar, em que o procurador da república aposentado, Wagner Gonçalves, vai expor a forma de atuação e as pretensões do movimento. Ele é goiano e foi convidado para assessorar os trabalhos pelo coordenador da comissão, ministro do Superior Tribunal de Justiça, Gilson Dipp.

 

O Comitê Goiano da Verdade cobra a “recuperação da memória” e o esclarecimento da verdade factual do que ocorreu nos anos de repressão em Goiás. Formado por várias entidades e parlamentares e com apoio da Ordem do Advogados do Brasil para a reunião dessa semana, seus membros lembram que movimentos de resistência importantes aconteceram no Estado, como a Guerrilha do Araguaia.

 

Eles também argumentam que os militantes falam a respeito do passado, mas pouco se ouviu dos militares que estavam na ativa entre 1964 e 1985, até porque não foram interpelados. E quase nada é possível resgatar com as informações oficiais existentes e disponíveis.

 

“Goiás é um dos Estados com menos dados referentes a esse período no Arquivo Nacional. Há poucos documentos sobre prisões, inquéritos e processos judiciais”, afirma o ex-prefeito de Goiânia, Pedro Wilson, que também foi presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e milita na área. “É possível que alguém tenha esvaziado os arquivos, feito uma limpeza com intuito de redimensionar a história”, diz.

 

A maior parte dos arquivos disponíveis é pessoal e está em poder daqueles que sofreram nas mãos da repressão. Os arquivos oficiais estão concentrados na Universidade Federal de Goiás, que recebeu em 1995 os documentos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) no Estado, referentes às lutas políticas. Mas os membros do comitê goiano entendem que o acervo da UFG não contém os papéis mais reveladores sobre a época e querem a abertura de todos os arquivos. “A verdade tem de ser revelada para fazer justiça com quem viveu esse período. Tivemos prisões inexplicáveis e verdadeiros sequestros”, sustenta Maria Paixão, militante da área de direitos humanos e membro do comitê goiano.

 

A pressão pelo esclarecimento de assassinatos, tortura e atos ilegais cometidos por agentes do Estado ganhou força após a revelação de um depoimento da presidente Dilma Roussef, no mês passado, pelo jornal Correio Braziliense. As declarações foram prestadas quando ela ainda era secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, em 2001. A presidente relatou sessões de tortura em pau-de-arara, eletrochoques, socos e pontapés que chegaram a deformar sua arcada dentária.

 

Fonte: O Popular