Antropólogo aponta ‘falácia ideológica’

 

O antropólogo Camilo Braz, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero e Sexualidade (Ser-Tão) da UFG, lembra que é preciso ter bastante cautela com a expressão “crise da masculinidade”. “Ela, em primeiro lugar, supõe que masculinidade seja algo monolítico. E, além de tudo, pode ter muitas interpretações. Uma delas é a ideia de que a hegemonia cultural do masculino e as desigualdades de gênero não mais existem, estariam em crise, o que é falacioso e irreal.”

O pesquisador lamenta e ressalta o fato de vivermos em um contexto social muito desigual, mas lembra que a cultura, do ponto de vista antropológico, é dinâmica: os chamados “padrões culturais” mudam o tempo todo. “O que podemos e devemos esperar é que mudem para melhor, para um mundo menos desigual.” Não existe e nem nunca existiu uma única forma de “ser homem”, segundo ele. As masculinidades variam de acordo com o período histórico e com as sociedades. Para Camilo, é fundamental reconhecer essa pluralidade do termo se quisermos realmente compreender o que é “ser homem”.

“De todo modo, se entendemos por ‘ser homem’ um certo modelo bastante controverso e incompleto que associa a masculinidade exclusivamente à heterossexualidade, é inegável que nas últimas décadas uma série de mudanças socioculturais, incluindo as lutas de movimentos sociais por um mundo menos sexista, racista, misógino e homofóbico vêm possibilitando alterações na maneira como as relações de gênero são pensadas e vividas”, explica.

Para o antropólogo, a ideia de que os homens estariam acossados com tantas mudanças em tão pouco tempo é uma falácia ideológica a serviço da reprodução de “pânicos morais” em torno das relações sociais de gênero e, também, de sexualidade. “Um mundo onde as desigualdades entre homens e mulheres sejam menores não poderia, por definição, ser tomado como um mundo onde alguém sinta-se ‘acossado’ em função de seu gênero. As lutas feministas, antirracistas ou pela liberdade sexual têm como objetivo, em termos gerais, a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, em que as opressões de gênero, raciais ou sexuais deixem de existir.” Cabe ao novo homem reaprender a conviver neste ambiente.

Fonte: O Popular