Tradição e cultura

Renata Dos Santos 

Pé do Cerrado (DF): um dos grupos que se apresentam no evento na Chapada dos Veadeiros e que resgatam as tradições de culturas do Centro-Oeste

Encontro: 12º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros

Data: Até dia 29 de julho

Informações: encontrodeculturas.com.br ou pelo telefone (62) 3455-1077

Entrada franca para os shows, oficinas, debates e cursos

A bela paisagem da Chapada dos Veadeiros é palco mais uma vez do Encontro de Culturas Tradicionais, cuja 12ª edição começa hoje e se estende até o dia 19. O evento, que movimenta o povoado de São Jorge (situado a 37 quilômetros de Alto Paraíso), conta com uma vasta programação de shows de artistas de vários Estados do Brasil e do exterior, como o grupo Merken, do Chile.

Em meio a manifestações populares carregadas de música e religiosidade, que serão apresentadas numa aldeia construída no local e em palcos como o da Igreja Matriz e na Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge (realizadora do evento), os visitantes vão conhecer o trabalho de grupos artísticos da Bahia, Distrito Federal, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, além das formas de expressão de indígenas e quilombolas. Exposições, música, rituais, rodas de prosa, feira de artesanato, dança, catira, tambores, sussa e outras manifestações populares integram o encontro. O evento também será palco de debates sobre temas como identidade, sustentabilidade, economia criativa e patrimônio imaterial.

Idealizador do encontro, Juliano George Basso, 40 anos, é formado em filosofia pela UFG e, há 15 anos, trocou Goiânia por São Jorge. Ele diz que este ano aumentou a quantidade de atrações, que em comum trazem a origem do interior e a desvinculação com a realidade dos grandes centros e mídias de massa. “Representantes das 22 comunidades quilombolas de Goiás estarão reunidos no evento, com debates e oficinas em torno de saberes, políticas públicas e até penteado afro.”

VISIBILIDADE

“São Jorge é a entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e, por isso, o evento representa um espaço público de visibilidade para as minorias que habitam a região e para quem vem de fora para conhecer as tradições mantidas por elas.” Ele ressalta que este ano as programações especiais, como o Encontro das Lideranças Quilombolas de Goiás e o Diálogo Intercultural da Água, se unem aos já tradicionais espetáculos, vivências, rodas de prosa e mostras de filmes, além de feira de produtos do Cerrado.

Um dos objetivos do evento, segundo Basso, é fortalecer o “saber-fazer” desses povos e, por isso, a maior parte da mão de obra contratada para trabalhar durante o encontro é local. No evento deste ano, a organização estimula ainda a troca de conhecimentos entre quilombolas e indígenas, com o primeiros mostrando como se constrói uma casa de farinha calunga e os segundos, uma oca caiapó.

O antropólogo Pedro de Castro Guimarães, também coordenador do evento, conta que a Aldeia Multiétnica vai reunir cerca de 200 índios de várias etnias do Brasil e países fronteiriços. Ele diz que este ano a soberania alimentar será o principal assunto nas discussões e palestras. Ele lembra que os índios estão comendo muito mal e vivenciando o aumento de doenças como diabetes. “Eles não são mais independentes na produção de sua comida, sofrem com o avanço de plantadores de soja, recebem cesta básica com muito alimento industrializado e ingerem muito açúcar e refrigerantes”, observa.