O pesadelo sírio

Depois da renúncia do enviado especial da ONU, Kofi Annan, o conflito na Síria está cada vez mais longe de ter um fim
 

O conflito armado entre o governo do presidente Bashar Al-Assad e opositores a ele já dura 16 meses e está longe de terminar. A missão da ONU em buscar uma solução pacífica para a crise política na Síria não teve sucesso e o enviado especial, Kofi Annan, renunciou o cargo de mediador no dia 2 de agosto. 
No posto, em pouco mais de cinco meses, Annan visitou Damasco em várias ocasiões e propôs um plano de paz de seis pontos, que incluía o cessar-fogo, a retirada das tropas da cidade e a entrada de ajuda humanitária no país. A proposta chegou a ser aceita pelo governo sírio e pelos rebeldes em abril, mas nunca saiu do papel.
Além disso, os bloqueios da Rússia e China nas resoluções que ameaçavam a Síria dificultaram o trabalho de Annan que anunciou, em nota, que não recebeu o apoio que precisava. Para o professor de geopolítica da UFG, Romualdo Campos Pessoa, a missão do enviado especial da ONU estava fadada ao fracasso. 
“Estabelecer uma trégua impondo penas à Síria pelo desarmamento é pura ilusão. Isso é algo que nenhum Estado aceitaria, qualquer que fosse ele que tivesse nessas circunstâncias,” aponta.
Já a Rússia e o Irã acusaram os países ocidentais pela renúncia de Annan, pois eles continuaram a enviar armas para os rebeldes, mesmo com os avanços no plano de paz. Campos Pessoa acredita que o Conselho da ONU errou ao não considerar que a oposição também está sendo armada e que a Síria é um país estratégico e, por isso, mais difícil de se lidar. 
“Ali é um conflito de proporções internacionais. A Síria tem fronteiras com o Irã e com Israel e tem uma base militar da Rússia. É uma realidade extremamente complexa ali e que não poderia ser resolvida com uma missão que tenta estabelecer imposições só para um lado da disputa,” explica o professor.

Conflito
Enquanto isso, os sírios morrem, e aos montes. Segundo a ONU, mais de 15 mil pessoas já morreram na guerra e outras 150 mil estão refugiadas. A fome e a miséria também é grande no país. Como o governo não abriu espaço para a atuação humanitária, estima-se que cerca de 2,5 milhões de pessoas estejam em situação de carência na Síria. 
O último relatório da ONU divulgado na quinta, 16, concluiu que tanto o governo sírio quanto os rebeldes cometeram crimes de guerra e contra a humanidade, que incluem assassinatos, violência sexual e tortura. Mas a situação do país pode estar ainda pior. Isso porque a imprensa tem restrições na Síria, o que impede os jornalistas de averiguarem as informações.
Kofi Annan encerra suas atividades no cargo no dia 31 de agosto e como substituto a ONU já apontou o ex-ministro de relações exteriores da Argélia Lakhdar Brahimi. Mas Brahimi está reticente. Afirmou que só entra no cargo se os países do Conselho de Segurança declararem que o apoiarão, o que ainda não foi feito. 
Mas Campos Pessoa não está otimista. Para ele, enquanto os países ocidentais continuarem a alimentar as tropas da oposição, a missão pacificadora da ONU não terá sucesso. “A meu ver, isso só será resolvido quando um dos lados for derrotado. É difícil prever como a guerra civil termina. A única certeza que a gente tem é que o país sempre sai destruído disso.”