Imaginário rodriguiano

Onze anos atrás, Robson Corrêa, um ex-aluno de teatro da USP e recém-chegado dos Estados Unidos, onde havia completado um doutorado na área, desembarcou em Goiânia com um desejo: trabalhar com as artes cênicas em vários níveis, debatê-las, experimentá-las. Em seguida ele criou o Núcleo Transdisciplinar em Teatro, Dança e Performance, na UFG, hoje com 20 pesquisadores envolvidos.

Dessa iniciativa vieram outras, como o Seminário de Teatro, Performances e suas Antopologias e a formação de um grupo que leva para o palco o resultado das pesquisas e discussões, o Máskara Núcleo de Pesquisa. Uma trupe que comemora agora 10 anos de existência e que marca a data com a encenação de um clássico do teatro brasileiro: Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues. A peça estará em cartaz de amanhã a quarta-feira, no Teatro Goiânia.

A direção é assinada por Robson, que afirma ter escolhido Senhora dos Afogados como um desafio. “Representá-la é viver intensamente o mítico que se apresenta cotidianamente aos nossos olhos, num olhar, num afago, num beijo, num ato de amor ou ciúmes”, define. “O desafio de colocar Nelson Rodrigues num palco é o de fazer os atores vivê-lo como se comessem pamonhas e arrotassem desejos.”

Senhora dos Afogados não foi selecionada para este momento especial do Máskara à toa. A peça, escrita em 1947, é uma releitura de Nelson Rodrigues de um texto do dramaturgo norte-americano Eugene O’Neill, de 1931, chamada Electra Enlutada. Por sua vez, ambos se inspiraram em uma tragédia clássica do grego Ésquilo, Orestíada. O texto faz parte do conjunto de trabalhos de Nelson Rodrigues que tem seu lastro no teatro clássico.

O encaixe das misérias que eram encenadas na Grécia Antiga e as histórias trágicas de Nelson Rodrigues parece mesmo perfeito. Em Senhora dos Afogados, o autor brasileiro conta a história de uma mulher que quer monopolizar a atenção do pai, por quem nutre sentimentos intensos. O problema é que ela não é filha única. Para que isso possa acontecer, ela afoga suas duas irmãs com a esperança de que, assim, todo o amor paterno lhe seja dirigido. Para terminar, a personagem faz com que a própria mãe traia o marido com um filho bastardo dele.

“As peças míticas de Nelson são maravilhosas porque nos permitem comparar anti-heróis trágicos com a nossa pequena medida humana e cotidiana. Nelson Rodrigues é um prometeu que nos traz o fogo, que vai nos iluminar e nos consumir. Este é o desafio”, argumenta o diretor Robson.

Peça: Senhora dos Afogados, com Grupo Máskara – Núcleo Transdisciplinar de Pesquisas em Teatro, Dança e Performance

Data: De amanhã a quarta-feira, às 20 horas / ocal: Teatro Goiânia (Av. Anhanguera com Av. Tocantins, Centro)

Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)

Fonte: O Popular