Paraense traz brincadeiras estéticas a Goiânia com show 'Kitsch Pop Cult'

Ao lado da amiga Gaby Amarantos, Felipe Cordeiro é um dos maiores expoentes da música alternativa paraense da atualidade. Misturando ritmos regionais, como a lambada e o carimbó, com gêneros universais, como o pop, o cantor e compositor gosta de brincar com contradições estéticas. Essa sua característica foi batizada "Kitsch Pop Cult", termo que nomeia o gênero musical de Felipe e o segundo disco do artista, lançado em 2011. "Eu quis mostrar o quanto de brega tem no cult e o quanto de cult tem no pop", teoriza o cantor ao jornal A Redação. O paraense desembarca em Goiânia nesta quinta-feira (8/11) para show no Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás.
 
Com a produção do criativo André Abujamra, o disco foi bem recebido pela crítica e conta com a parceria do pai de Felipe, o também músico Manoel Cordeiro, famoso nos anos 1970 por ter produzido artistas como Beto Barbosa, Alípio Martins, banda Carrapicho e Banda Warilou. No ano passado, o show que vem para a Capital foi considerado pelo Estado de S. Paulo como um dos melhores shows do festival pernambucano Rec Beat. Dançante e performático, o artista promete fazer uma apresentação animada em Goiânia e acha importante que a universidade promova eventos culturais. "Tenho um apreço pela vida acadêmica. É um lugar de intenso diálogo."

Confira abaixo a entrevista exclusiva de Felipe Cordeiro ao AR:
 
A Redação - O que você acha do "boom" pelo qual a música alternativa paraense está passando atualmente?
Felipe Cordeiro - É preciso deixar claro que a música do Pará é forte desde a década de 1970. Parece que só agora virou um modismo, mas essa é uma conquista antiga, quando alguns artistas promoveram o encontro da música local com a nacional. A diferença é que antigamente a música paraense não era vista como uma cena, era mais individualista, cada artista na sua. Hoje existe uma cena, uma geração de artistas que trabalham em conjunto. Mas o Pará tem uma história, uma tradição.
 
AR - O brega tem qual definição para você?
Felipe Cordeiro - Eu percebo que para a maioria das pessoas o brega é associado ao mal-gosto, à cafonice, não necessariamente ligado à música. Hoje o brega passou a ser um estilo musical, com características próprias, poética, guitarra e dança peculiares.
 
AR - Você define e seu gênero como "Kitsch Pop Cult". Como surgiu essa definição?
Felipe Cordeiro - Esse termo nasceu da ideia de querer explorar questões estéticas e comportamentais. Eu quis mostrar o quanto de "kitch" [brega, em inglês] tem no cult, o quanto de cult tem no pop e vice-versa. Quis trabalhar as contradições: o mal-gosto e o bom-gosto, as altas culturas e as - denominadas - baixas culturas.
 
AR - Algumas pessoas tem preconceito com o pop, mas é possível que ele seja de qualidade?
Felipe Cordeiro - Como nosso país experimentou a MPB, ela se opôs à cultura pop internacional, esteticamente, nos anos 1990. Criou-se uma rixa e a situação ficou confusa para o público. Esse confronto entre a MPB - como estilo - e o pop internacional durou muito tempo, mas não fazia sentido. Isso porque a MPB não conseguiu ser uma música combativa. O que ela conseguiu foi fazer uma música pop brasileira.
 
AR - Como foi trabalhar com o André Abujamra na produção do seu disco?
Felipe Cordeiro - O André foi um achado. Foi um encontro proporcionado pelo diretor de produção, Patrick Torquato. Estávamos atrás de um produtor para o disco e, de repente, chegamos ao André. Ele foi para Belém e ficou um tempo lá. Foi um encontro maravilhoso, porque ele é um ser viajado, desapegado de rótulos e de locallidade. Foi um processo bastante criativo.
 
AR - Você é filho de músico [o guitarrista e produtor Manoel Cordeiro]. Como foi a sua criação nesse universo?
Felipe Cordeiro - A influência do meu pai é inegavelmente forte. Ele é meu parceiro musical atualmente, toca comigo. Aprendi com ele o gosto pela diversidade e que não importa se o cara toca no programa do Gugu no domingo ou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o que importa é o talento do artista. Isso me fez ter uma cabeça completamente diferente. O cara pode ser muito bom, mesmo tocando no Faustão.
 
AR - Seu show em Goiânia é organizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Você acha que a universidade tem um papel importante na promoção de cultura?
Felipe Cordeiro - Eu tive uma vida acadêmica forte, quase fui professor. Estudei música erudita e filosofia na Universidade Federal do Pará. Fiz licenciatura em filosofia. Acho importante a universidade fazer esse tipo de coisa, sim. Tenho um apreço pela vida acadêmica. É um lugar de intenso diálogo.
 
Serviço:
Show - Felipe Cordeiro
Local: Centro Cultural da UFG (Praça Universitária)
Data: 8/11, quinta-feira
Horário: 21h
Ingressos: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia)
Pontos de venda: Restaurante Tribo e Livraria da UFG (Centro de Convivência - Campus Samambaia)

Fonte: A Redação