Manifestação a favor de programa da UFG

O Popular - 13 de novembro de 2012

Um grupo de 20 transexuais esteve reunido ontem para manifestar apoio ao Projeto Transexualismo, do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), referência nacional, e um dos quatro, em todo o País, que realiza a cirurgia de mudança de sexo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As transexuais, que se dizem mulheres que nasceram em corpos masculinos, decidiram articular-se após veiculação na imprensa local sobre uma possível suspensão do programa - que já existe há 13 anos e é coordenado, no HC, pela professora doutora e ginecologista Mariluza Terra.

“Duas transexuais que realizaram a cirurgia foram à imprensa falar de suas insatisfações e problemas pós-operatórios e alegaram falar em nome da maioria. Estamos aqui para dizer que não; que estamos satisfeitas, que mantemos total apoio à equipe do HC e que todas nós, a partir do momento em que decidimos pelo procedimento e entramos para o projeto, ficamos cientes dos riscos e complicações que podem ocorrer. Portanto, ninguém fala em nome da maioria”, afirmou, em nome do grupo, a transexual Rafaela Damasceno, uma das primeiras, em Goiás, a se submeter à cirurgia.

O encontro entre as transexuais goianas foi realizado no Centro de Referência da Igualdade (Crei), ligado à Secretaria de Políticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial (Semira), localizado na Avenida Goiás. Em uma das salas de reuniões do espaço, mulheres transexuais da capital e de cidades como Anápolis, Rialma, Nazário, Aparecida de Goiânia e São Simão abriram discussão sobre o tema durante toda a manhã, trocando informações e experiências sobre o procedimento cirúrgico e o projeto do HC, que, segundo elas, oferece todo o acompanhamento necessário às pessoas operadas. Elas lembraram que a atenção é dispensada a partir de dois anos antes da cirurgia e, além das intervenções cirúrgicas, permanece também depois da operação.

Não existe levantamento oficial sobre o número de transexuais no Brasil. Mundialmente, as estimativas apontam que, entre os homens, o transtorno de gênero ocorre entre 1 para 37 mil e entre 1 para 100 mil casos no casos das mulheres. Transexuais são pessoas que sentem, intimamente, pertencer ao sexo oposto ao seu sexo anatômico. Um transexual masculino é anatomicamente um homem, mas sente-se como uma mulher desde a infância. Da mesma forma, um transexual feminino é uma mulher que se sente intimamente como um homem, também desde a infância.

“Esse sentimento é mantido, na maioria das vezes, em segredo, por muito tempo, e causa um profundo desconforto psíquico, porque a imagem interna de si mesmo não coincide com a aparência física, com o sexo anatômico nem com o registro de nascimento. E não somos homossexuais; somos hétero”, explica Rafaela Damasceno. “Como qualquer pessoa, contudo, seja hétero ou homossexual, transexuais podem ser equilibrados emocionalmente ou neuróticos. De uma coisa temos certeza: transexualismo ou transexualidade não é perversão”, acrescenta.

ALTA DEMANDA

Em Goiás, de acordo com a médica Mariluza Terra, responsável pelo Projeto Transexualismo, do Hospital das Clínicas, somam 47 as transexuais operadas, do sexo masculino para o feminino, desde a implantação do programa, em maio de 1999. Entre os transexuais operados do sexo feminino para o masculino, são 9 os operados. No primeiro caso, a fila de espera conta com 77 pacientes; no segundo caso, uma pessoa aguarda pela cirurgia. “Em função dessa demanda, decidimos, a partir deste mês de novembro, não oferecer mais nenhuma vaga pelo projeto do HC”, diz a especialista, frisando que serão necessários até seis anos para que todos os pacientes hoje atendidos pelo Projeto Transexualismo sejam operados.

Desde 2008, 16 vagas ao mês eram oferecidas pelo programa. O número foi reduzido para quatro entre maio e outubro deste ano. A equipe do HC realiza, em média, oito procedimentos anualmente. “O projeto não está suspenso; só não estamos recebendo novos casos”, informa Mariluza.