A superação de Rosa

Rosa Passos canta pela primeira vez em Goiânia hoje, no projeto Música no Câmpus, homenageando Elizeth Cardoso, em turnê que a ajudou a vencer um drama pessoal

Rodrigo Alves20 de novembro de 2012 (terça-feira)

Divulgação

Demorou, mas chegou a hora. Pela primeira vez ao vivo, Goiânia presenciará hoje, às 20 horas, no Centro de Cultura e Convenções da UFG, a voz doce e delicada e a interpretação de Rosa Passos. Ela traz à cidade, dentro do projeto Música no Câmpus, realizado pela UFG e o Sesc, a turnê do novo disco É Luxo Só, uma homenagem a Elizeth Cardoso que marcou a retomada da carreira de Rosa, após um período de cerca de três anos afastada dos palcos.

Mais reconhecida no exterior do que no Brasil, principalmente no meio jazzístico, Rosa desta vez está investindo em uma grande turnê pelo País. “Normalmente eu lançava o disco e já recebia os convites de fora para shows”, lembrou a cantora em entrevista ao POPULAR (leia ao lado). “Desta vez estou centrando o trabalho de divulgação pela cidades brasileiras”, arremata. Praticamente pela primeira vez na carreira, ela se viu diante da oportunidade concreta de percorrer capitais brasileiras, que há muito tempo tinha vontade de fazer, mas quase nunca podia por sempre estar viajando a trabalho pelo mundo.

Um grande percalço na vida pessoal tornou-se um dos principais motivos para Rosa centrar forças no País. Ela está no final do processo de superação de uma de suas maiores adversidades pessoais, que a afastou seriamente dos palcos nos últimos anos. Cheia de compromissos fora de casa, a cantora foi acometida por um distúrbio chamado síndrome de Burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional. A doença é causada pelo estresse crônico, que em situação mais grave culmina em processo depressivo profundo e na impossibilidade física e mental de desenvolver uma atividade profissional.

É Luxo Só, nome do disco e faixa-título que resume a intenção de Rosa na homenagem a Elizeth, a ajudou a voltar à ativa. “Ele (o disco) fez parte do meu processo de recuperação”, afirma a cantora, que pouco antes do afastamento havia se apresentado em Goiás em 2008, durante festival de jazz em Pirenópolis. Esta, aliás, foi uma das últimas oportunidades que o público brasileiro teve para conferir um show de Rosa, antes que ela tivesse que dar um tempo no trabalho para se tratar.

HOMENAGEM

E por que Elizeth Cardoso? A resposta vem fácil para Rosa Passos. Além de ser um ícone da música brasileira que sempre a estimulou, Rosa ouviu de um amigo que a cantora carioca estava caindo no esquecimento. “Isso me inquietou”, diz. Assim decidiu que o projeto de retomada da carreira seria um disco de tributo. No repertório, com novos arranjos e reinterpretações, Rosa faz uma verdade compilação de clássicos do samba brasileiro, muitos deles escritos por nomes consagrados como Cartola e Zé Ketti. Alguns foram especialmente escritos para que Elizeth interpretasse.

Debruçando-se sobre a biografia de Elizeth, Rosa, baiana radicada em Brasília, descobriu muitos pontos em comum com a homenageada, entre eles a dedicação à família. Mãe de três de filhos – entre eles Julianna, que acompanha a carreira da mãe de perto – , casada com o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, Rosa também gosta de se dedicar bastante à família. Quando viaja, faz questão de levá-los. O ministro a acompanha quando possível, com permissão da presidente Dilma Rousseff, uma das muitas fãs declaradas do trabalho de Rosa.

Show: Rosa Passos - Música no Câmpus

Data: Hoje, às 20 horas

Local: Centro de Cultura e Eventos da UFG - Câmpus Samambaia (ao lado do Conjunto Itatiaia)

Ingresso: R$ 20 (inteira) / Informações: 3521-1329, 3521-1365 e 3221-0600

Entrevista Rosa Passos

‘Estou voltando gradualmente’

Nascida e criada em Salvador, radicada em Brasília há anos, Rosa Passos era, aos 5 anos, pianista promissora. Na adolescência, empreendeu com afinco os estudos musicais e descobriu a potência vocal. A bela voz, aliada à interpretação ímpar, renderam reconhecimento maior no exterior do que no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, é considerada uma das grandes cantoras de jazz da atualidade. Entre os importantes feitos que depõem a seu favor, está o convite para gravar CD com Ron Carter, um dos melhores baixistas de jazz do mundo. Na Europa, ficou conhecida pelo trabalho com a bossa nova. Na entrevista a seguir, Rosa fala sobre carreira, a opção de homenagear Elizeth Cardoso, o processo de recuperação da saúde e os planos de fazer uma homenagem a Djavan. Confira os principais trechos.

Por que quis cantar o repertório de Elizeth Cardoso?

A ideia surgiu depois que ganhei um presente de um amigo, que me deu uma coleção com gravações da Elizeth. Ele lembrou que ela estava começando a ser esquecida entre as gerações mais novas e isso me inquietou. Foi então que decidi fazer essa homenagem, gravando composições que foram feitas somente para ela. Gravei também coisas que muita gente nem sabia mais que ela tinha gravado, como Acontece (Cartola) e Diz que Fui Por Aí (Zé Ketti). Muitas dessas músicas os compositores faziam para que Elizeth gravasse, como É um Luxo Só (Ary Barroso e Luiz Peixoto – que dá nome ao trabalho). Busquei as músicas e minha própria interpretação.

Conhecia muito da vida dela antes de começar a pesquisar?

Eu sempre conheci a obra da Elizeth, assim como todas as cantoras brasileiras devem conhecer. Ela era um intérprete ímpar, que se tornou uma referência importante para a música brasileira. Mas, só me debruçando sobre o trabalho, descobri muitas histórias da trajetória dela como mulher, na vida pessoal, com as quais eu me identifiquei muito. Ela também gostava de ser mãe, de cozinhar com amor para as pessoas que amava. Apesar de ter somente um filho biológico, ela foi mãe adotiva de muitos outros.

E você parece ser bem família, não é?

E como sou (risos). Gosto muito de ficar com a minha família, acompanhar tudo de perto. Adoro ficar em casa.

A última vez que cantou em Goiás foi em um festival de jazz em Pirenópolis e depois de um tempo deixou os palcos. Por que ficou tanto tempo fora de cena?

Esse festival que você está lembrando foi um dos últimos shows que fiz. Pouco tempo depois, tive um problema de saúde, chamado síndrome de Burnout. Não é exatamente uma síndrome do pânico, porque age de uma maneira pior. A gente tem um processo depressivo e uma grande indisposição física e mental por conta do trabalho. Aceitei muitos convites e fiz muitas viagens para fora do País. Com o tempo não fui conseguindo mais cumprir agenda e tive que parar.

Homenagear Elizeth Cardoso, neste novo trabalho, fez parte do processo de recuperação?

Fez sim. Quando estava pronta para voltar ao trabalho, fui fazendo de maneira gradual, até ter esse disco pronto para colocar no mercado. Aí a Biscoito Fino se interessou e lançamos. Decidi que faria a divulgação inicialmente somente pelo Brasil. Quero circular pelas cidades brasileiras. É a primeira vez que estou fazendo todo o processo somente pelo Brasil, porque sempre fiz muitos shows fora do País. Mesmo durante o tempo em que fiquei parada, os convites de fora não deixaram de ser feitos, embora eu não pudesse mais atender. Agora estou focada em começar por aqui, aos poucos. Não preciso correr demais. Já sou muito realizada musicalmente e agora vou devagar.

Você está em uma fase produtiva, porque já antecipou que está fazendo um disco em homenagem a Djavan. Como será?

O trabalho de pesquisa está avançado e ele está participando de tudo. No início do ano que vem, eu entro em estúdio para gravar e ele me acompanha. Agora nos próximos dias, vou aproveitar o fim de ano para descansar. Minha apresentação em Goiânia será praticamente a última do ano, porque depois vamos viajar a descanso. Será minha primeira vez na cidade, acredita? Já cantei mais em Paris do que aí (risos). Estou muito ansiosa e muito feliz porque no Facebook tem muitos goianienses dizendo que mal podem esperar para ir ao meu show. Eu nem imaginava que havia tanta espera. No ano que vem tomara que eu volte para a cidade com o novo disco.

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