Marconi alavanca governo com marca de Iris Rezende

Com quase dois anos de mandato, Marco­ni Perillo (PSDB) ainda corre atrás de uma marca que defina a terceira gestão dele como governador de Goiás. Buscando uma agenda positiva para 2013, o chefe do executivo estadual elegeu a infraestrutura como prioridade, com a intenção de auxiliar o crescimento do Estado. O fato mostra uma mudança no modo de agir do tucano. Isso porque, nas administrações passadas, Marconi teve seus governos marcados pela rede de proteção social. Com a troca de foco, ele, ironicamente, aproxima-se da característica maior de seu principal ad­ver­sário político, o ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB).
Ex-governador por dois mandatos, o peemedebista é conhecido por ser um 'tocador de obras'. Nas suas administrações, Iris promoveu os mutirões da casa própria, construindo milhares de habitações populares. Os governos de Iris também ficou marcado pela construção de rodovias e de infraestrutura para as propriedade rurais. Já Marconi, em suas duas primeiras administrações, priorizou a chamada rede de proteção social, com a criação e aprimoramento de programas como o Renda Ci­dadã, o Salário Escola, o Cheque Moradia, o Bolsa Universitá­ria, o Banco do Povo e o Restaurante Cida­dão (Veja na página 5).
Agora, porém, os recentes investimentos do governo estadual indicam uma mudança de foco. Desde o início do mandato, Marconi mostra preocupação com o estado das rodovias goianas. Em março de 2011, a Assem­bleia Legislativa aprovou a criação do Fundo de Trans­portes, vinculado à Agência Goiana de Transporte e Obras (Agetop), e que tinha como objetivo captar recursos financeiros para a recuperação da malha viária do Estado.
Só isso, porém, não foi suficiente para melhorar significativamente as condições das estradas goianas. Há duas semanas, a base aliada fez festa para o governador em um evento realizado no Centro Cultura Oscar Niemeyer (CCON). O objetivo do evento foi a assinatura das ordens de serviço pelo governador para o início de obras do programa Rodovida, principal projeto de infraestrutura do atual governo. O dinheiro virá do governo federal, que concedeu um empréstimo de R$ 1,5 bilhão por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES). 
Diante disso, Perillo, que derrotou o próprio Iris Re­zende na eleição de 2010, tenta alavancar seu governo com a marca histórica do peemedebista. Nos últimos anos de gestão, quer mostrar um governo eficiente com muitas realizações palpáveis, característica própria das obras de infraestrutura. Na ponta disso tudo, o objetivo, que mais do que técnico também é político – a tentativa do governador se viabilizar para tentar à reeleição em 2014.

Semelhanças
Os dois cientistas políticos ouvidos pela Tribuna reconhecem que o governo de Marconi Perillo tem como prioridade o investimento na estrutura física, e concordam que o plano ajudará o Estado no caminho do crescimento, já que  infraestrutura é essencial para a instalação de novas indústrias e o escoamento da produção.
“A infraestrutura é uma necessidade do Estado que quer crescer. Goiás é um Es­tado essencialmente rodoviário e para escoar a produção ele precisa das estradas. Esse governo Marconi ainda não possui uma marca, mas, ao que tudo indica, será lembrado pelos investimentos em infraestrutura”, analisa Pedro Céliso, cientista po­lí­tico e professor da Uni­ver­si­dade Federal de Goiás (UFG). 
O cientista político e professor aposentado da UFG, Itami Campos, segue a mesma linha. “A recuperação das es­tradas é a estratégia desse go­verno, pois representaria a so­lução de um dos grandes problemas que Goiás vive atualmente. Goiás sofre com as consequências de estradas mal conservadas e é uma necessidade recuperá-las”, frisa.
Apesar disso, os dois não concordam que Marconi copia a principal marca de Iris, mas investe em uma área vital para o Estado que, por coincidência, é característica histórica de seu rival. É possível, inclusive, traçar um paralelo entre as administrações de Iris e a atual de Marconi. Como governador, Iris criou a Vila Mutirão em 1983, quando foram erguidas mil casas em um dia. Depois, de volta à prefeitura de Goiânia em 2004, ele conseguiu asfaltar 100 bairros da capital em um único mandato. O tucano, que tem até então a sua marca no social e na modernização da máquina pública, passa a dar uma cara de obras ao seu governo.

Motivos
A avaliação de que o foco do atual mandato de Mar­coni é a infraestrutura é feito também por aliados de longa data do governador. Um de­les é o a­tual prefeito de Lu­ziânia, Célio Silveira (PSDB), que foi deputado estadual de 2003 a 2004. Nesse período, ele foi pre­si­dente da As­sembleia Le­gis­la­ti­va e chegou a ser secretário ex­traordinário de Perillo em 2000. 
“O governador teve dificuldades administrativas e políticas, mas tudo isso foi superado e ele está mostrando a que veio. Essas obras rodoviárias serão muito importantes para o crescimento do estado”, diz Célio.
As dificuldades a que o prefeito de Luziânia se refere impediram que Marconi começasse mais cedo os investimentos. No primeiro ano de mandato, por exemplo, o governador teve que reorganizar financeiramente o orçamento do Estado. Nesse sentido, outro aliado de Perillo defende que essa também pode ser considerada uma marca da atual administração.
“Marconi teve que fazer um ajuste de contas na administração antes de começar os investimentos. A Celg, a Iquego e o Ipas­go fazem parte disso, o que ajudou a ajustar a economia interna, possibilitando es­sa segunda fase de obras em in­fraes­trutura, que também é um marco do go­verno”, analisa o vice-governador José Eliton (DEM).
A grande característica, contudo, do atual mandato do líder tucano é mesmo a realização de obras estruturais.  No evento realizado no CCON, o senador Gim Argello (PTB-DF) chegou a afirmar que “Goiás é a China do Brasil”, comparando o crescimento da economia goiana com a do país asiático. Nesse sentido, as obras estruturais promovidas pelo governo de Perillo possibilitariam mais condições de de­senvolvimento para o Estado.
O deputado estadual Fran­cisco Júnior também segue esta mesma linha. “A infraestrutura é um meio. A grande marca que o Marconi quer deixar é a modernização e industrialização de Goiás. É só você ver a importância que a Indús­tria e Comércio e a Fazenda têm”, explica.

Vapt Vupt
Outra marca histórica dos mandatos anteriores de Marconi Perillo pode estar com os dias contados. O Vapt Vupt, criado para modernizar a administração pública e facilitar o acesso do cidadão aos serviços, poderá ser gerido pelas Organizações Sociais (OSs), seguindo o modelo já existente na área da Saúde. 
Na terça-feira, 13, a base aliada do governador conseguiu aprovar o projeto na Co­missão Mista da Assem­bleia Legislativa. A justificativa para a mudança é que o governo não possui condições de fazer o investimento necessário para construir novos Vapt Vupt. Servidores das unidades estiveram presentes para protestar contra a terceirização, mas a pressão não funcionou. 
A proposta foi sugerida pelo secretário de Gestão e Pla­nejamento, Giuseppe Vecci e chegou a ser confirmada pelo governador, mas, pouco de­pois, Marconi recuou por cau­sa da pressão sofrida. Ain­da assim, o projeto conseguiu ser aprovado. Atual­mente, estão em funcionamento 30 unidades em todo o Estado. As uni­dades já instaladas continuam geridas pelo governo, enquanto os novos postos é que passarão a ser administrados pelas organizações sociais.

Investimentos em rodovias devem ultrapassar R$ 3 bilhões

A prioridade dada à infraestrutura pode ser medida em números. Até o fim do atual mandato, o governo estadual deverá investir mais de R$ 3 bilhões na recuperação, construção e conservação da malha viária de Goiás (veja o quadro). Além disso, está previsto também R$ 1,3 bilhão para a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Goiânia, cuja obra começará no início do próximo ano para que esteja terminada em 2014.  
Com os investimentos, é possível prever que Goiás terá, pelo menos, 7.130 quilômetros em obras, contando os quatro programas destinados à recuperação ou construção da ma­lha viária. O número representa quase a metade dos 20 mil quilômetros de rodovias, juntando as pavimentadas e as de terra.
Ainda na área de infraestrutura, o governo estadual pretende mais um investimento de vulto para os dois próximos anos, que é a construção do VLT em Goiânia, no Eixo Anhanguera. A obra está aos cuidados da secretaria da Região Metropolitana que, no dia 1º de novembro, realizou audiência pública para discutir a implantação do projeto.
O secretário da pasta, Sílvio Souza, classificou o VLT como “o bonde da modernidade”. O projeto consiste na consiste na implantação de 30 trens com dois carros por trem e capacidade de acolher seis passageiros por metro quadrado. Em velocidade comercial, o VLT atinge os 23,5 km/hora, o dobro do ônibus biarticulado do Eixo Anhanguera. As obras estão previstas para começar no início de 2013 e a expectativa é de que ele esteja em funcionamento até o fim do atual mandato de Marconi Perillo.

Fonte: Tribuna do Planalto