“D.J. Oliveira e Gouvêa: professores fundamentais”

Natural de Mairi (BA), o artista plástico e professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG Carlos Sena Passos também é pesquisador da arte em Goiás. Veio para Goiânia em 1973 e, a partir daí, mantém uma relação estreita com a produção das artes visuais. Conheceu e conviveu com D.J. Oliveira e Cleber Gouvêa. Sena, que atualmente coordena a formação do acervo artístico da UFG e dirige o Centro Cultural da mesmo instituição, fala na entrevista a seguir sobre os dois agentes do modernismo em Goiás.

 

Além do período, quais são outras características de D.J. Oliveira e Cleber Gouvêa que determinam a inserção deles no movimento modernista das artes plásticas goianas?

Os dois artistas são professores fundamentais para as escolas que estabeleceram o ensino superior em arte no Estado, na década de 1960. D.J. Oliveira lecionou na Escola Goiana de Belas Artes para a juventude da época (Siron franco, Ana Maria Pacheco, Iza Costa) e, para além da escola, seu ateliê influenciou muitos outros artistas. Cleber Gouvêa foi o grande professor de pintura do antigo Instituto de Artes, que existiu antes da atual FAV da UFG. Oliveira foi o artista seminal para a corrente expressionista que se criou em Goiás, enquanto Cleber foi mais abstrato e racional. Ambos representam duas faces do nosso modernismo: uma marcada por subjetividade e impulsividade, outra por raciocínio e planejamento.

 

É correto afirmar que, assim como na literatura, o modernismo em Goiás foi um tanto tardio?

São vários os movimentos e obras modernistas existentes no Brasil. Entendo que temos de parar de pensar que o início do modernismo no Brasil ocorreu, somente, com a Semana de Arte Moderna, em 1922. O País é muito grande e complexo, com muitas temporalidades. Temos de superar o “tardio”. Em Goiás, o modernismo das artes plásticas surgiu somente com o ambiente criado em Goiânia (cidade nascida mais de dez anos após a Semana de 22) e com a própria implantação das instituições de ensino. Em Goiânia, a primeira exposição a exibir arte moderna foi realizada em 1954. O nosso modernismo nas artes plásticas aconteceu em sincronia com o crescimento de Goiânia e, consequentemente, do Estado. Na hora certa, os artistas deram as respostas certas às questões que a sociedade apresentava. E isto é o que importa.

 

O legado maior de D.J. Oliveira está na visão que ele trouxe para Goiás de ser artista ou na sua extensa produção?

Acredito que o legado do Oliveira se deu nos dois campos. Sua atuação de professor foi muito importante para a formação de uma geração inteira de artistas goianos, e sua obra foi vasta e feita com muitas técnicas. Foi como artista que ele revelou parte da nossa identidade cultural.

 

Cleber Gouvêa era um mestre que dominava as diversas técnicas ou ele não tinha medo de experimentar?

Cleber era um professor que sabia de muitas técnicas. O que ele não sabia ele pesquisava e inventava. Ele dava aula no Instituto de Artes na minha época de estudante, mas eu não estudei com ele. Sua fama era de ser a “dona Benta das artes plásticas”, porque dominava a parte técnica, os métodos de feitura, a artesania dos ofícios.

 

As individuais de D.J. Oliveira e Cleber Gouvêa no MAC situam a importância da dupla para a evolução das artes visuais em Goiás?

Tem anos que os artistas faleceram e, desde então, ainda não se havia realizado grandes mostras sobre suas produções, sobretudo acompanhadas de catálogos com textos críticos e cronologias. As duas exposições são oportunidades para o público que nunca viu conhecer a produção dos dois artistas, para o publico conhecedor rever e reavaliar e, para os especialistas, é uma oportunidade de pesquisar.

Fonte: O Popular