Prevenção ainda não é rotina

Pesquisa da UFG aponta que 32% das mulheres com mais de 40 anos não fazem o exame todo ano

Quando completou 40 anos de idade, a secretária Maria Aparecida Pinto de Lima, hoje com 48 anos, realizou o primeiro exame de prevenção ao câncer de mama, que não constatou nenhum problema. Aos 41, ela não repetiu o exame e aos 42, após sentir dores em um dos seios, o exame de mamografia detectou o nódulo, que já estava em estágio avançado. Seja por falta de regularidade com a prevenção, como aconteceu com Maria Aparecida, ou por deficiência da cobertura mamográfica e da qualidade do exame, o que ainda é uma realidade em vários Estados brasileiros, o câncer de mama tem sido causa de muitas mortes no País, principalmente por ser diagnosticado tardiamente.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2010, 50 pessoas morreram em Goiás em decorrência do câncer de mama. Conforme o mastologista Ruffo de Freitas Júnior, coordenador do Programa de Mastologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), 32% das mulheres do Estado que possuem mais de 40 anos não realizam o exame de prevenção - a mamografia - anualmente como é recomendado pela Sociedade Brasileira de Mastologia.

“Muitas não fazem o exame por falta de oportunidade, outras por medo de descobrir a doença. Mas o que é importante frisar é que mesmo com essas dificuldades é preciso que as mulheres acima de 40 anos corram atrás do exame porque, quanto mais cedo for feito o diagnóstico da doença maiores as chances de cura”, destaca o médico.

COBERTURA

Pesquisa realizada pela Universidade Fedearl de Goiás (UFG) em 2008, que contou com a participação de Ruffo de Freitas, mostrou o quanto a cobertura mamográfica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiás ainda é pequena. Conforme o estudo, para a faixa etária de 40 a 69 anos, a estimativa da cobertura no Estado foi de 61%, tendo o SUS contribuído com 13% e o sistema não SUS, com 48%.

Ruffo de Freitas afirma que a situação não mudou muito de 2008 para cá e que ainda há deficiências em relação à qualidade do exame de mamografia. “Considerando que o exame de mamografia é uma questão básica de prevenção e que constitucionalmente é um direito da mulher, estamos muito aquém do quadro ideal. Algumas cidades do Estado nem mesmo possuem mamógrafo”, comenta.

Outra pesquisa, esta encomendada pelo Instituto Avon, revelou que entre as mulheres que tinham histórico de câncer de mama, a primeira suspeita da doença surgiu após a realização de autoexame, mencionado por 38,4% das entrevistadas. A mamografia aparece em segundo lugar, citada por 29,9% das mulheres, indicando que a maior parte delas ainda descobre a doença quando os tumores já estão maiores e podem ser percebidos pelo toque.

A mamografia, segundo o mastologista, detecta o nódulo antes que ele tenha tamanho suficiente para ser apalpável, por isso muitas mulheres só descobrem a doença através da técnica, e não percebem ao fazer o autoexame. “Quando o câncer de mama é descoberto de forma tardia maiores são as chances de mutilação, do aparecimento de problemas relacionados à cirurgia, da realização de tratamentos complexos e de morte”, ressalta.

SUPERAÇÃO

Logo após descobrir que estava com câncer de mama, a secretária Maria Aparecida Pinto começou a fazer quimioterapia. O nódulo regrediu 50% de tamanho e foi preciso retirar a mama. “O médico me disse que se eu tivesse descoberto antes talvez não precisasse tirar a mama”, diz.

Após um tempo curada, Maria Aparecida descobriu que está com metástase óssea. Apesar das dificuldades com o tratamento e com todos os medos e problemas que a doença acarreta ela está otimista e trabalha sem parar como presidente da Associação dos Portadores do Câncer de Mama (APCAM) do Hospital das Clínicas da UFG. “Na associação eu me ocupo e não deixo a depressão chegar. Não podemos desanimar, pois isso pode atrapalhar e muito o sucesso do tratamento”, declara.

Ruffo de Freitas destaca a importância da realização do exame de prevenção uma vez ao ano e aconselha as mulheres a procurarem manter a qualidade de vida com a realização de atividades físicas e boa alimentação. “A atividade física reduz em 15% a chance do aparecimento de câncer”, revela.

Fonte: O Popular