O preço amargo da boa educação em Goiânia

Na busca de fornecer a melhor formação aos filhos, famílias inteiras gastam praticamente pequenas fortunas mensalmente para oferecer aos filhos uma boa educação. Em muitos casos a despesa não se resume somente a mensalidade da escola – talvez esta seja até a menor das despesas –, há também gastos com habitação, transporte, material escolar e alimentação, já que muitos dos alunos que estão nos bancos de colégios e cursinhos pré-vestibulares vêm de cidades do interior do Estado, ou passam o dia todo na escola.

A estudante Jéssica Ribeiro Marques, 18 anos, saiu do interior, em  São Luís de Montes Belos, no final de 2011, quando terminou o ensino médio. O destino foi a Capital,  onde, durante todo o ano passado e ainda este ano, ela faz cursinho pré-vestibular para conseguir uma vaga no tão concorrido curso de Medicina. Somente com a mensalidade da escola, a família despende de R$ 800, valor cerca de R$ 200 mais caro que o que ela pagava quando cursou o ensino médio.

 Mas a despesa não fica por aí, a mensalidade é apenas uma das pontas do iceberg. Hoje, a estudante mora em uma quitinete, alugada por R$430, mas ela já chegou a pagar mais de R$1 mil para morar em um residencial oferecido pelo colégio CDF10, onde faz cursinho. Lá, Jéssica tinha direito ao almoço, empregada doméstica e café da manhã, já hoje, se ela quiser tem de pagar a parte. Só para se ter ideia, o almoço na região não sai por menos de R$13,90 o quilo. 

 “Além disso, tem o material escolar, que não fica por menos de R$100 por mês. A gente sempre precisa de muita coisa porque a rotina de estudo é intensa”, diz a estudante. “Fico com um sentimento de culpa e motivação. Culpa porque estou bem   ciente que a despesa da minha família é alta, mas ao mesmo tempo, isso me motiva porque sei que é um investimento deles em mim para alcançar meus objetivos”, conta a jovem, que completa: “Graças a Deus as coisas estão dando certo porque sempre tive esse apoio”.

Jéssica já foi aprovada em três vestibulares e ainda se prepara para a segunda fase do vestibular de Medicina da Universidade Federal de Goiás. As aprovações aconteceram na Universidade José do Rosário Vellano (Unifenas), em Minas Gerais, Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC) e Universidade Federal do Rio Grande (FURG), no Rio Grande do Sul.  Nesta última, a vaga foi conquistada pelo processo seletivo do Sisu. 

 “Não pretendo fazer o curso lá, porque é muito longe e acredito que minha despesa irá aumentar. Além disso, acho que não vale a pena, pois vou estar muito longe e só vou ver meus pais duas vezes no ano”. Apesar de estar bem confiante com relação à segunda fase da UFG, a estudante disse que caso não consiga a vaga irá tentar um financiamento para conseguir pagar a mensalidade do curso de Medicina na PUC.

Enquanto esse momento não chega, a vestibulanda tem uma rotina pesada de estudos. Ela, em muitas ocasiões ultrapassa às 22 horas estudando. “Nunca estudei tanto na minha vida. Tirando às oito horas de sono, meu dia se resume a estudar. Sei que é cansativo e sofrido, mas esta batalha irá valer a pena”, diz a estudante, otimista.

Cobrança 

A psicopedagoga Georgia Ferreira Tavares Bueno diz que quanto mais cara a escola, maior será a cobrança dos pais quanto à qualidade e resultados. “Outro pensamento é que quanto mais barata for a escola, menor será o salário do professor, implicando em uma possível diferença na motivação do mesmo. Quando um professor ganha bem, trabalha com prazer, se interessa em se atualizar, é valorizado em seu ambiente de trabalho (coordenador, pais, alunos), a qualidade aparece como resultado final”, explica.

E para que os pais saibam se os filhos poderão corresponder as suas expectativas, Geórgia os convida para algumas reflexões. “O que é mais valorizado por você? Que seu filho tenha uma educação ou que ele tenha a melhor (de mais alta qualidade) educação? Será que meu filho entende o que quero para ele? Pergunte, explique, cultive bons hábitos. Nossos filhos aprendem com nossos atos e não por meio de nossas palavras. Se valorizamos verdadeiramente em nossa vida a leitura, a cultura, o lazer saudável, nossos filhos experimentarão e aprenderão a ser desta maneira”.

Limitações

A psicóloga Luz Dalma Rodrigues Aguiar, e o esposo, João Carlos de Oliveira não poupam esforços para oferecer a melhor educação para os dois filhos, Lucas Aguiar Oliveira, 18, e Davi Aguiar Oliveira, 14. O primeiro estudou durante todo ensino médio no Colégio WR e atualmente faz cursinho pré-vestibular, onde a mensalidade é de R$1,2 mil. Já o segundo está no terceiro ano do ensino médio no Sesc Cidadania, onde a mensalidade é R$400. “Investimos bastante na educação dos dois  para que cursem o ensino superior em faculdades federais e porque sabemos que a formação agora irá contribuir muito para que consigam uma vaga no mercado de trabalho no futuro para que tenham uma vida estável”, diz Luz Dalma.

O filho mais velho quer uma vaga no curso de Medicina e por isso, segundo a psicóloga, estuda no WR. “Lá o foco é para esses vestibulares mais concorridos, existe toda uma dinâmica voltada à preparação. Já o Davi quer fazer Biologia, um pouco menos concorrido. Como a formação lá é excelente, optamos por deixá-lo lá. O ensino é muito bom, mas não tão focado na preparação a vestibulares como o de Medicina.”, explica Luz Dalma. 

Conforme  Rodrigues, as despesas da família com a educação dos dois filhos ultrapassam os R$2,5 mil, considerando mensalidades de escolas, lanches, cursos agregados e inglês. “Eu e meu esposo podíamos estar com carros novos, do ano, mas optamos por ter algumas limitações e investir na educação dos dois. Desde que tivemos nossos filhos pensamos em oferecer a melhor formação. Temos um gasto alto, mas é justificado  pelo acréscimo que os meninos têm na sua formação”, finalizou a psicóloga.

Fonte: Diário da Manhã