Custo de internações ultrapassa R$ 3,5 bilhões, diz estudo

 

Dado representa gastos em oito países, dentre eles o Brasil. Cada internação no País custaria R$ 3,1 mil

 

Doença que avança no Brasil, colocando Goiânia em desconfortável posição no ranking das capitais com maior número de notificações, a dengue, já chamada de “quebra ossos” por causa das intensas dores que provoca em suas vítimas, dói também no bolso do gestor e desestabiliza a economia. Estudo envolvendo oito países, entre eles o Brasil, estimou este custo em US$ 1,8 bilhão ao ano, com internações – R$ 3,5 bilhões. O estudo Custo de casos de dengue em 8 países da América Latina e Ásia: um estudo prospectivo aferiu o impacto econômico causado pela doença, que já vitimou, neste ano, em Goiânia, 27,2 mil pessoas. No levantamento, Goiânia serviu de base para os dados do Brasil.

Embora não seja um estudo recente – a pesquisa trabalhou com os dados epidemiológicos da dengue de 2005, trata-se do mais abrangente levantamento com esse objetivo. O trabalho, realizado por vários organismos de saúde dos países envolvidos, entre eles o Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (IPTSP-UFG), foi publicado pela Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene. Por meio de um protocolo comum, o levantamento mensurou as estimativas multinacionais dos custos diretos – relacionados com a assistência médica – e indiretos – dimensionados pelas faltas provocadas pela doença à escola e ao trabalho – da dengue.

Cinco países da América Latina – Brasil, El Salvador, Guatemala, Panamá e Venezuela – e três da Ásia – Camboja, Malásia e Tailândia – foram envolvidos no estudo, que considerou os pacientes tratados em ambiente ambulatorial e hospitalar – internações (veja alguns resultados em quadro desta página). Neste trabalho, a cidade de Goiânia representou o Brasil para efeito dos dados levantados, tendo em vista que o IPTSP era um dos centros que possuía, na época, o protocolo exigido pelo financiador da pesquisa, a Iniciativa para o Desenvolvimento de uma Pesquisa contra a Dengue (PDVI), em parceria com o Ministério da Saúde.

Ao final do estudo, o levantamento mostrou que o custo provocado pela doença naquele ano chegara a US$ 587 milhões – R$ 1,1 bilhão. Porém, considerando a subnotificação de casos em alguns países, este custo foi estimado, ao final, em US$ 1,8 bilhão – R$ 3,5 bilhões. Isto considerando os gastos com internação e medicamentos e os custos resultantes das faltas dos pacientes ao trabalho e à escola, excluindo-se aí, os custos com vigilância epidemiológica e controle da dengue, concluindo os pesquisadores que a doença impõe substancial custo para a saúde e a economia global.

R$3 MIL

Para cada leito de internação ocupado por pacientes vitimados pelo Aedes aegypti, estimou-se, no levantamento, custo de aproximadamente US$ 1,6 mil – R$ 3,1 mil. Os casos tratados em ambulatório, sem necessidade de internação, custaram ao sistema, cada um, US$ 699 – R$ 1,3 mil. Entre os países estudados, o Brasil apresentou o terceiro maior custo global da doença, perdendo para dois países da Ásia, a Malásia e a Tailândia. Considerando apenas o custo com o tratamento ambulatorial, o País teve o maior gasto com a dengue, segundo a pesquisa.

O pesquisador professor-adjunto do IPTSP, João Bosco Siqueira Júnior, que trabalhou neste estudo, lembra que o trabalho demonstrou que são promissores os benefícios econômicos associados às intervenções de prevenção da dengue. Em Goiânia, lembra o pesquisador, foram recrutados 550 pacientes e analisados os protocolos de 410 deles. O estudo envolveu epidemiologistas e economistas, que buscaram calcular todos os custos indiretos – os maiores deles – relacionados com os afastamentos provocados pela doença – em média, de dez dias.

“Foram calculados, inclusive, as faltas ao trabalho de uma mãe que necessita ficar em casa para cuidar de uma criança com dengue”, destaca. O professor reforça que o estudo é um indicador de que a prevenção da doença não traz benefícios só do ponto de vista epidemiológico, mas econômico.

É o que reforça também o coordenador Nacional de Controle da dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Coelho. “Para lembrar o que disse recentemente o secretário de Saúde, a dengue toca no bolso dos gestores. Por isso a necessidade de o poder público envolver todas as áreas da administração pública nessa batalha: limpeza urbana, educação, saúde, movimentos sociais. Todos são responsáveis”, frisa. “Quando o assunto é dengue, vale a máxima de que prevenir é melhor que remediar, porque a doença custa, e muito, para o sistema”, acentua.

 

Pesquisa atinge novo perfil da doença

 

Goiânia participa, atualmente, de um novo e amplo levantamento acerca do custo da dengue, desta vez envolvendo outras cinco capitais brasileiras: Belo Horizonte (MG), Teresina (PI), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Belém (PA). O estudo, coordenado, em Goiânia, pelo professor-adjunto do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (IPTSP-UFG), João Bosco Siqueira Júnior, levantará os custos da doença no setor público e privado, em crianças e adultos, atendidos em ambulatórios ou em ambientes hospitalares. A atualização destes dados, explica o pesquisador, se dá pela mudança por que passou a doença nas duas últimas grandes epidemias, de 2008 e 2010.

Segundo ressalta o professor João Bosco, nestas duas epidemias pode-se observar um agravamento dos quadros de dengue e maior avanço da doença em crianças e idosos. Enquanto no estudo de 2005 o porcentual de crianças infectadas pelo vírus da dengue representava em torno de 15% do total de casos analisados, atualmente esse índice subiu para cerca de 50%. Estes fatores, de acordo com ele, certamente elevaram consideravelmente os custos da doença ao longo dos últimos anos.

A meta deste estudo é analisar 400 casos em cada uma das capitais. Em Goiânia, 200 pacientes já foram recrutados para o trabalho. O trabalho buscará, do mesmo modo, apurar os custos diretos e indiretos provocados pela doença, apurando gastos com espera pelo atendimento, deslocamento do paciente, medicamentos, gastos com dieta especial, custos diretos com pagamento de profissionais de saúde e com o afastamento das vítimas do trabalho e da escola.

As autoridades de Saúde já trabalham com a perspectiva de que Goiânia experimente em 2013 a pior epidemia de dengue da história, superando os 44 mil casos registrados em 2010. Estima-se 50 mil casos de dengue até o fim desse ano.

Fonte: O Popular