Ler e escrever na hora certa

Alfabetizar uma criança é um desafio que se torna ainda maior quando a intenção é que isso aconteça na idade correta. Com o intuito de auxiliar os professores nessa tarefa, a partir desse mês serão capacitados professores-orientadores que atuarão na salas de aulas, na primeira fase de execução do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).
Anunciado pelo Ministério da Educação no fim do ano passado, o programa prevê que todos os alunos da rede pública brasileira sejam alfabetizados até os 8 anos de idade, o que quer dizer que até essa data saibam ler, escrever, interpretar um texto simples e também efetuar as operações matemáticas básicas, como somar e subtrair, multiplicar e dividir. 
Élida Tavares da Silva Escórcio, professora da alfabetização na Escola Municipal Padre Zezinho, no Parque Atheneu, em Goiânia, lida diariamente com o desafio de alfabetizar as novas gerações.
Para ela, a boa formação profissional nessa fase é fundamental para um bom desempenho em toda a vida educacional do indivíduo. “Aprendendo de forma correta nessa idade, o aluno terá subsídios para todos os outros conhecimentos”, explica. 
De acordo com a coordenadora geral do pacto no estado, Edna Faria, que atua na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiás serão capacitados 502 orientadores, que receberão formação técnica para se tornarem posteriormente multiplicarem de seus conhecimentos entre seus colegas. 
“De março a setembro eles farão diversos encontros, além de dois seminários. Depois disso, será a vez de levar todo o conhecimento às salas de aulas, onde estão os professores atuantes”, explica.

Adesão 
Para essa fase de formação, o Ministério da Educação disponibilizará kits contendo tablets, livros e apostilas tanto para os orientadores quanto para as escolas participantes. “As secretarias municipais foram convidadas a participar do pacto e a adesão das escolas foi grande”, afirma.
Após a formação dos orientadores, o pacto prevê um curso presencial de dois anos para os professores alfabetizadores, com carga horária de 120 horas/ano, baseado no Programa Pró-Letramento, cuja metodologia propõe estudos e atividades práticas conduzidas pelos orientadores.
Para a coordenadora regional do programa, a intenção é possibilitar ao educador apoio no trabalho realizado em sala de aula. “Queremos que o profissional seja capaz de ensinar o aluno a 'aprender a aprender', de forma que ele saiba a importância daquele conteúdo que está assimilando, e saiba tirar o melhor proveito.”
Neste primeiro momento, os cursos serão voltados para a disciplina de Português, auxiliando o professor nas questões relacionadas ao letramento. 
Para o ano de 2014, estão previstos cursos de capacitação nas áreas de Matemática. 
A previsão é de que o pacto seja executado em dois anos e que até 2015 os resultados obtidos sejam analisados. O principal desafio dos educadores é fazer com que as crianças alfabetizadas cheguem na segunda fase com todas as competências desenvolvidas. 
“O mais importante nessa fase é que a criança, além de ler com fluência, seja capaz de interpretar o que leu. Esse é o maior problema que nós temos hoje, além de fazer com que ela saiba transitar entre os diversos gêneros textuais”, aponta a professora de Letras.
Edna Faria revela que, além da capacitação, os educadores que participarem do projeto serão estimulados com a concessão de bolsas de ensino e pesquisa, para que possam se aperfeiçoar na área da alfabetização.
O programa prevê investimentos de R$2,7 bilhões até 2014 em capacitação, material didático e bolsas para cerca de 360 mil professores alfabetizadores.


Aprendizado de base

De acordo com a professora Élida Escórcio, para que uma criança seja, de fato, alfabetizada aos 8 anos, ela terá que sair da sala de aula produzindo pequenos textos e sendo capaz de identificar características de alguns gêneros. “O aluno tem que saber que para escrever uma carta, por exemplo, é preciso colocar data, definir um assunto, etc.”. 
A alfabetizadora ressalta que é preciso que a criança seja capaz de refletir sobre o que escreveu e de interpretar outros textos. “Essa é a nossa maior dificuldade hoje”, conta. No campo da Matemática, segundo ela, o essencial é que o aluno saiba não só entender, como resolver cálculos de soma e subtração, sabendo identificar claramente todos os sinais. 
Outro ponto importante é que a criança seja capaz de compreender casas decimais simples e também fazer cálculos básicos de cabeça, sem depender do caderno e da caneta. Para ela, essa é hoje representa uma das maiores fragilidades dos professores.

Fonte: Tribuna do Planalto