Mais um perigo no trânsito

É cada vez mais comum motoristas serem vistos mandando mensagens e lendo emails enquanto dirigem

O taxista recebe o passageiro, pergunta o destino e, logo em seguida, passa a dividir a atenção entre o trânsito tumultuado de Goiânia e a tela de um smartphone pelo qual troca incessantes torpedos durante todo o percurso. Algumas vezes, tira as duas mãos do volante mesmo com o carro em movimento e não desgruda do equipamento eletrônico em nenhum momento da viagem, que dura cerca de 15 minutos. Esse tipo de comportamento tende a ser cada vez mais comum e, na avaliação de especialistas ouvidos pelo POPULAR, é tão grave quanto dirigir embriagado.

A cena descrita foi verificada pela reportagem, num trecho na Região Sul da capital. No Brasil, ainda não há pesquisas sobre esse tipo prática perigosa, mas um estudo nos Estados Unidos revela que há adesão, cada vez mais, de jovens e adultos. Segundo pesquisa da empresa norte-americana de telecomunicação AT&T, 49% de adultos entre 25 e 54 anos afirmaram que mandam mensagens, checam e-mails e acessam as redes sociais enquanto dirigem. No grupo de jovens entre 15 e 19 anos, 43% admitiram a mesma conduta de risco. A pesquisa ouviu 1.011 adultos e 1.200 adolescentes, em dezembro.

“Conduzir um veículo com o olhar voltado para a tela de um equipamento eletrônico, como um smartphone ou qualquer outro, é tão grave quanto dirigir embriagado”, avalia o professor Rosival Lagares, especialista em Psicologia de Trânsito, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Ele considera que, nessas situações, o motorista perde a capacidade de atenção. “As pessoas vão usar cada vez mais esses equipamentos dentro do carro. É uma tendência irreversível”, alerta.

MAIS DISTRAÇÃO E RISCO

O uso desses equipamentos aumenta a distração do motorista e, numa intensidade muito maior, o risco de acidente, observa a professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Transporte pela Universidade de Brasília (UnB), Érika Cristine Kneib. “Dividir a atenção das variáveis do trânsito com o aparelho eletrônico compromete a direção”, considera a pesquisadora.

O próprio Código de Trânsito Brasileiro (CTB), de 1997, não acompanhou o avanço tecnológico e a chegada de novos produtos ao mercado, observa Érika, já que não é apenas o celular o equipamento eletrônico capaz de distrair o condutor, conforme prevê o artigo 252. “São imprescindíveis a atenção e a consciência dos motorista, em vez de apenas aplicar multas”, observa a professora.

Especialista em Trânsito e chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), Miguel Carlos Leite Ferreira afirma que a falta de atenção provoca colisão traseira, saída de pista, e, também, na cidade, faz os condutores pararem na faixa de pedestre. “Causa um risco tremendo”, ressalta. Ele entende que esse novo tipo de comportamento deve fazer os agentes de fiscalização ficarem ainda mais atentos para verificar as infrações. Não vê, todavia, a necessidade de mudança no CTB. “Apesar de ser antiga, a lei já contempla essas novas necessidades”, acredita ele.

POSTURA INCISIVA

Mas há quem assuma posturas mais incisivas para fechar o cerco ao uso desses equipamentos. “Precisa-se urgentemente de uma atualização da legislação, no sentido de proibir o uso desses aparelhos. Deve haver endurecimento da legislação na questão do combate do seu uso enquanto o motorista dirige da mesma maneira feita com a Lei Seca. É tão grave quanto a questão do álcool, porque desvia a atenção”, frisa o coronel Sebastião Vaz, diretor de Operações do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO).

Apesar de reconhecer o risco, o professor Lagares entende, por sua vez, que a saída não é endurecer a legislação. “Não cabe proibir o uso, cabe encontrar soluções tecnológicas para anular esse defeito e treinar melhor os motoristas”, sugere ele, acrescentando que parte da indústria automotiva já oferece equipamentos que auxiliam na segurança.

 

Fonte: O Popular