Terra de chorões

Livro que será lançado hoje na cidade resgata o papel dos pioneiros do chorinho em Brasília

O livro A Velha Guarda do Choro no Planalto Central será lançado hoje, às 19 horas, no Restaurante e Bar Confraria Gamboa, no Setor Marista. A pesquisa que deu origem à obra tem a participação de professores da UFG, da UnB, da Escola de Música de Brasília e do Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França. O lançamento do livro marca também a 1ª Feira do Livro da Faculdade de Ciências Sociais da UFG. O evento, com entrada franca, vai contar com a apresentação de Carlinhos 7 Cordas e Nivaldo de Souza, com o grupo Descendo a Madeira.

Com CD, textos, ensaios fotográficos e partituras, o livro é fruto do projeto de pesquisa O Choro no Planalto Central a partir da Construção de Brasília (1957- 1979) e abrange música, cultura e sociedade. Sebastião Rios e Ana Lion, coordenadores do projeto, começam com uma introdução cronológica, o que ajuda na contextualização do tema desde o período da construção de Brasília.

Não por acaso a capital federal é reconhecida como um dos polos de “chorões”: um nome importante do gênero, o grupo de Pernambuco do Pandeiro, instalou-se na cidade, ainda em construção, a convite do presidente Juscelino Kubitschek, para trabalhar na Rádio Nacional de Brasília. Pernambuco tocava ao lado de Hermeto Pascoal no acordeão, Manoel Gomes (flauta), Jorge Charuto (violão) e Ubiratan (cavaquinho), músicos que animaram várias festas do presidente, mas o contrato com a Rádio Nacional não foi efetivado e quase todos eles voltaram para o Rio de Janeiro.

Pernambuco conseguiu um emprego na Novacap e permaneceu em Brasília, tornando-se um exemplo para o surgimento de vários chorões na década a seguir e também um elemento de atração para músicos de outras cidades a Brasília. Ainda entre o fim dos anos 50 e nos anos 60 fizeram história na vida cultural de Brasília nomes como João Tomé, João Vieira, Miudinho e Neusa França, pianista de formação erudita. A boate do Hotel Nacional, o Bar Amarelinho e a Boa Fina Flor eram os principais palcos do choro.

Na década de 60, a busca ou a transferência de empregos foi responsável por uma parte da vinda de vários chorões para o Planalto Central, artistas que não tinham na música seu único ganha-pão. Na década de seguinte houve a mudança de muitos instrumentistas das corporações musicais militares do Rio de Janeiro. Uma safra ainda maior de funcionários públicos civis veio para a cidade com a concentração dos serviços federais em Brasília: entre eles, músicos como Cincinato e Bide da Flauta, fundamentais para a diversidade do gênero no Planalto Central.

Waldir Azevedo, embora não fosse funcionário público, é considerado um dos nomes mais importantes para a cena brasiliense, para a qual entrou em 1971, e logo teve um programa próprio na Rádio Nacional. A pesquisa acompanha o choro e a cena musical de Brasília até o final dos anos 70, quando houve uma retração do choro no cenário nacional.

INSPIRAÇÃO

A ideia original da pesquisa, diz o professor Sebastião Rios, da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, surgiu para desfazer uma injustiça. “Brasília é considerada uma referência nacional para o choro, mas as pessoas pensam que isso se deu nos 80. É um equívoco, pois o choro chegou ao Planalto junto com a transferência da capital federal, ou melhor, ainda antes, pois o Pernambuco do Pandeiro veio junto com seu grupo para a Rádio Nacional de Brasília em 1959”, explica. Pesquisador de cultura musical brasileira, ele já se dedicou a estudos de manifestações culturais como a congada e a folia de reis, entre outros.

Perguntado sobre o choro em Goiás, ele responde que há muita coisa para ser estudada, mas que esse tema não pode ser abordado na pesquisa, por questões de ordem prática. “Precisávamos de um foco, tínhamos um limite de tempo e recursos para o trabalho. À medida que íamos avançando nos estudos, encontramos vários estudiosos trabalhando em questões próximas, e daí vários concordaram em ser nossos parceiros com ensaios. Esta pesquisa teve um perfil agregador”, explicou o professor.

No entanto, Sebastião Reis reconhece que a agenda cultural de Goiânia tem nomes respeitáveis no gênero choro, citando como exemplos Oscar Wilde, Paulo Amazonas e Eli Camargo, entre outros. “Inclusive, músicos goianos participaram do CD que integra o livro. Realmente, há o interesse para uma pesquisa nessa linha, seria muito válido sem dúvida, principalmente a partir dos anos 90, um momento especial para o choro em Goiás. Havia também o desejo de pesquisar a música de Pirenópolis, mas é impossível incluir tudo num trabalho só. Esta foi só a ponta do iceberg. Vamos investigar muito mais”, promete o pesquisador.

Lançamento do livro: A Velha Guarda do Choro no Planalto Central, na 1º Feira do Livro da Faculdade de Ciências Sociais da UFG

Data: Hoje, às 19 horas

Local: Restaurante e Bar Confraria Gamboa. Rua 137, nº 218, Setor Marista

Entrada franca

1.304509

Fonte: O Popular