Opinião do júri

Os membros do júri da campanha A Rua Mais Bonita de Goiânia, que selecionou as dez finalistas da promoção, dão sua opinião sobre a condição das vias urbanas da capital e falam da importância da iniciativa do POPULAR:

 

Ramos Albuquerque Nóbrega
Técnico da Secretaria de Planejamento de Goiânia (Seplan)


“Os princípios técnicos, artísticos, culturais, históricos e paisagísticos para a escolha da Rua Mais Bonita de Goiânia, que integram o nosso patrimônio cultural, natural e urbanístico, nossas edificações em art déco singulares ou coletivas, calçadas, drenagem, arborização, mobilidade, limpeza, atividades econômicas, iluminação e, principalmente, a paisagem em si proporcionam a seus moradores e os que transitam por ela a leveza e o bairrismo de ser morador de Goiânia. Portanto, pontos fracos ou fortes no meu entender são irrelevantes. A iniciativa, por si só, é um marco ímpar do POPULAR, que tem como maior objetivo despertar no cidadão um olhar mais poético, cultural e ambiental de sua rua, de seu bairro e de sua cidade .”

Rossana Jardim
Artista plástica


“Goiânia é uma cidade muito bonita. O que mais me chama atenção nas ruas selecionadas, em primeiro lugar, é a arquitetura, que é primorosa. Depois, como a rua recebe as árvores. Goiânia tem árvores lindas. O que pode melhorar? A conservação das calçadas e mais arborização.A Av. República do Líbano tem um lugar de destaque, na minha opinião, pelo canteiro central de palmeiras imperiais que acompanha praticamente toda a avenida. E também porque nos surpreende e encanta com as várias praças que surgem ao longo do seu percurso. É uma rua praticamente comercial, que tem um toque familiar, pois as pessoas transitam com conforto e intimidade, como se a avenida pertencesse a elas.”

Wolney Unes
Pesquisador e professor da UFG


“A escolha da rua mais bonita da cidade pelos leitores pode ser entendida como a expressão do desejo sobre a cidade. A rua mais bonita representaria a imagem da cidade que gostaríamos de ter. Por isso mesmo, chama a atenção o grande denominador comum nas fotos enviadas pelos leitores: árvores e flores. O senso comum é sábio ao identificar na vegetação a necessidade de aplacar o clima hostil da capital goiana – os locais mais arborizados são justamente os mais confortáveis da capital. Mas algumas ausências fazem-se sentir: nenhum leitor enviou fotografia de uma rua com belos edifícios definindo o espaço e formando uma ambiência agradável; não há imagens de ruas com uma ampla calçada, regular e sem desníveis; não há uma só imagem com gente caminhando, vendo vitrines e conversando. Não por acaso, são essas coisas que perfazem as grandes cidade e as tornam agradáveis. A mensagem que o leitor envia portanto é sobre o espaço urbano da nossa cidade hoje. Ele é de péssima qualidade e a cidade não tem uma imagem definida. O que se salva em Goiânia hoje são árvores e flores. Não por acaso, são as mesmas árvores cujo lugar a cidade veio ocupar. Uma cidade que se nega.”

Renato de Melo Rocha
Arquiteto e urbanista


“Goiânia foi contemplada com o primeiro projeto de cidade planejada do Brasil, inclusive com bases conceituais, até de forma prematura, de sustentabilidade em sua implantação, respeitando e conservando as nascentes, cursos d’águas, matas nativas e a topografia original, conforme definidas pela equipe do arquiteto e urbanista Attilio Corrêa Lima, isto em 1933. Infelizmente, por falta de planejamento qualificado e gestão compromissada, nossa capital, que nasceu sustentável, está perdendo esta qualidade a cada década e as condições de nossas ruas e avenidas atualmente são o espelho da ‘cidade para o automóvel’. O foco principal da gestão pública municipal deveria ser na ‘cidade para o homem’, onde as nossas calçadas, que são áreas públicas e não privadas, deveriam ser acessíveis, seguras, arborizadas e bonitas, mas a realidade nos mostra calçadas impróprias para as pessoas consideradas normais, imagine então para os deficientes físicos, gestantes, idosos, crianças e obesos. Esta iniciativa do POPULAR é muito louvável e esperamos que seja um alerta e o início de transformações em nossa linda Goiânia.”

João de Deus
Professor da UFG


“A paisagem urbana é construída pala sociedade na sua relação com a natureza. Assim, podemos observar, através da paisagem, a história do lugar, os modos de vida que havia em cada momento histórico. Contemplar Goiânia, suas ruas, seus prédios, seus monumentos, é como se olhássemos para as camadas de tempo que foram depositadas pelas diversas gerações que viveram, trabalharam e construíram a cidade. Olhar a cidade é ver a sociedade nos seus diversos movimentos. As ruas de Goiânia não são percebidas apenas pela sua estética, mas também pelo conteúdo social que nela está contido. Temos uma cidade linda, com largas avenidas, muitas árvores de diversas formas e tamanho, com floradas que não acontecem só na primavera, mas praticamente o ano todo, mesmo no auge da seca. Ruas e praças limpas e bem cuidadas com flores e desenhos variados. Mas Goiânia não é só isso, temos ruas com muitos buracos ou com remendos, em que o asfalto mais parece uma colcha de retalho. Essa beleza também não é a realidade da periferia pobre da cidade, com barracos sem reboco, passeios sem calçamento, etc. Essa paisagem é a desigualdade social expressa nas formas da cidade.”

 

Fonte: O Popular