Estudantes afirmam fazer milagres com repasses

Reajuste da Capes para melhorar benefícios pagos a alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado não agrada

As bolsas de pós-graduação, oferecidas pela Coordenação Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) terão reajuste que será repassado para os estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado, já no mês de maio. Nos cursos de mestrado o valor passou de R$ 1.350 para R$ 1.500; doutorado de R$ 2 mil para R$ 2,2 mil; e a bolsa de pós-doutorado será reajustada de R$ 3,7 mil para R$ 4,1 mil. Segundo os estudantes goianienses que possuem o benefício, os novos valores ainda não são suficientemente satisfatórios, apesar de este ser o segundo reajuste em menos de um ano. O governo federal em maio de 2012, fez uma alteração de 10% para todas as categorias.  

 

 

Segundo dados da Agência Brasil, entidades que atuam no setor pedem melhores condições, mas o presidente da Capes, Jorge Guimarães, esclarece que teve de optar entre aumentar o valor ou a quantidade de bolsas e beneficiar mais estudantes. Ele ainda ressalta que 79% do orçamento da autarquia vão para o pagamento das bolsas. "A pós-graduação é um investimento pessoal e o governo ainda ajuda. Ser estudante não é profissão. É um investimento durante um período, mas que depois vai levar a muitas compensações, como salários mais altos", esclarece.

 

 

Guimarães ressalta que um índice não é uma proposta considerada viável, entre outros motivos, pela dificuldade de se aprovar no Congresso Nacional uma proposta nesse sentido e um orçamento voltado aos reajustes. A diferenciação regional, segundo o presidente, também não é discutida pela Capes. Jorge Guimarães reforçou, no entanto, a importância dessa etapa de ensino: "Ter mais pós-graduados significa sustentar o desenvolvimento do País com gente mais qualificada. A graduação oferece uma formação mais informativa. Já a pós é formativa, os estudantes estão se preparando para o mercado de trabalho."

 

 

 No ano de 2008, havia cerca de 40 mil bolsistas no País, pela Capes. Segundo o último levantamento, em 2012 foram 77,9 mil bolsas de pós no País ofertadas pela Capes. Somadas ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, foram 127 mil ofertadas em todas as modalidades. O Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), em todas as modalidades, no mesmo período, aumentou a oferta de bolsas de 63 mil para cerca de 81 mil.

 

 

Sufoco

 

 

Para Fernanda Pimenta Simon Ferreira, de 39 anos, que faz doutorado em Biologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), a bolsa é uma ajuda, mas não é satisfatória. “Sou casada tenho três filhos, então é complicado viver somente com a bolsa, meu marido também me ajuda. Antes não era restrito o trabalho para quem recebia a bolsa e fazia o curso nas áreas de saúde ou educação. Hoje já não podemos trabalhar e receber a bolsa. Para quem é solteiro, mora com os pais e não tem maiores despesas, é um valor razoável. Mas caso contrario, é insuficiente. Tenho despesas com minhas filhas, já tive de fazer análises em terceirizadas, coletas, deslocamento. Acho que o valor deveria ser maior sim, não só pelas despesas, mas também pelo nível intelectual das pessoas que buscam fazê-lo. Precisaríamos de um incentivo acima de R$ 3 mil”, ressalta. Fernanda já está no 34º mês de curso do doutorado, que irá concluir em 2014. 

 

 

João Paulo Cabral de Brito, tem 23 anos e faz mestrado na UFG. Ele mora em Goiânia, por conta dos estudos, mas aos finais de semana vai para a casa dos pais, em Anápolis. “O valor é bom, mas depende da situação de cada aluno. No meu caso, alugo um imóvel, que compartilho com amigo, e ainda bem que tenho meus pais que me ajudam muito”, diz. João diz não ter maiores gastos com livros, mas que pela morosidade na entrega de alguns pedidos de materiais na universidade, acaba tendo de colocar a mão no bolso para adquirí-los. “Já precisei comprar algumas coisas de laboratório. Quando fazemos pedidos na faculdade, demora cerca de três meses para chegar na instituição e mais uns outros três meses para chegar até nós. Então acabamos comprando”. O estudante também tem de arcar com ônibus, comida, água, luz e todas as despesas que acabam sendo obrigatórias devido a rotina do curso. Segundo o jovem, o valor ideal para os estudantes de mestrado se manter é de cerca de  R$ 1,7mil.   

 

 

Carolina Ribeiro e Silva, de 31 anos, faz doutorado em Biologia pela UFG e afirma que o valor não é suficiente. “Não temos tempo para procurar outro trabalho e não podemos também por conta da modalidade da minha bolsa. Em abril deste ano recebi R$ 2 mil, até hoje (ontem) não recebi o mês de maio. Portanto, ainda não sei se o valor virá reajustado ou não. Tenho muitos gastos e minha familia está em Patos de Minas. Moro aqui desde 2005, mas é complicado. Tenho que economizar em tudo. Os livros que temos de comprar são caros, variam entre R$ 150 e R$ 250. Compro um ou dois por semestre. Tenho que pagar minhas despesas pessoais também. Meu curso tem duração de quatro anos, 48 meses, e estou no 25º mês. Acho que no mínimo deveria pagar entre R$ 3,5 mil e R$ 4 mil. Só 2, 2 mil  é pouco”, pontua.

 

 

Segundo o vice-presidente da Regional Centro-Oeste da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), Fábio Borges, o aumento que os estudantes passam a receber este mês é uma conquista, mas está aquém da necessidade dos especialistas. "Ainda está aquém do que deveria ser a pesquisa e a pós-graduação no Brasil, e o problema se intensifica com as desigualdades do custo de vida em diferentes regiões. Uma coisa é viver em Brasília, outra é viver no Recife e outra no interior do Espírito Santo. As assimetrias regionais deveriam ser consideradas ao se pensar o valor das bolsas." 

Fonte: Diário da Manhã