Goiano vence prêmio

Estudante de doutorado da UFG constrói proteína que pode estimular aprimoramento de vacina contra a tuberculose. Teste foi realizado em camudongos e humanos e resultados são considerados satisfatórios

 

O biomédico Eduardo Martins de Sousa, 32, foi o primeiro goiano a conquistar o Prêmio Nacional Inovação Medical Services na categoria doutorandos. O concurso foi criado pelo Portal Medical Services e é voltado para inovação em saúde pública desde que foi lançado em 2009.

Eduardo, na sua tese de doutorado, construiu uma proteína de fusão recombinante, contendo epitopos das proteínas Ag85C, MPT51 e toda a proteína HspX (CMX) de Mycobacterium tuberculosis, que avaliou a imunogenicidade da proteína de fusão CMX como vacina de subunidade proteica em camundongos. 

A imunogenicidade da vacina consiste na habilidade de estimular o sistema imunológico por meio da combinação de proteínas mais adjuvantes para preparação da formulação vacinal.  

O trabalho foi realizado sob orientação dos professores e doutores do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (UFG), Ana Paula Junqueira Kipnis, André Kipnis e João Alves de Araújo Filho, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), da Capes pela bolsa do Programa de Doutorado com Estágio no Exterior e do CNPq pela bolsa de doutorado e pela bolsa de taxa de bancada. 

Durante o estudo, a proteína recombinante de fusão CMX foi testada como vacina de subunidade proteica em camundongos e como teste sorológico em indivíduos com tuberculose ativa e em indivíduos saudáveis, e os resultados foram satisfatórios.  

Eduardo explica que em pacientes com tuberculose ativa foi avaliada a antigenicidade por meio de exames sorológicos, a fim de obter novos métodos de diagnósticos da tuberculose de maneira mais rápida, simples e barata. 

De acordo com Eduardo, a tese de doutorado poderá servir de embasamento para o desenvolvimento de novos trabalhos científicos que buscam o desenvolvimento de uma nova vacina ou teste de diagnóstico para a tuberculose. "Esse trabalho continua com outros alunos de mestrado e doutorado do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG."

Ele ressalta que, mesmo sendo uma doença tão antiga, em 2011 foram estimados, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), 8,7 milhões de novos casos de tuberculose e 1,4 milhão de mortes associadas com a doença.  

O artigo científico do goiano foi o único da região Centro-Oeste escolhido para a final do prêmio entre todos os trabalhos nacionais inscritos na categoria doutorando. Eduardo foi o primeiro goiano a conquistar esse prêmio na categoria doutorandos.  

Eduardo é natural de São Luiz de Montes Belos e se formou em Biomedicina em 2005 pela Faculdade Padrão de Goiânia. Um ano depois, iniciou o estágio no Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG).  

*PRÊMIO *

 

O Prêmio Inovação Medical Services foi criado há cinco anos  e tem como objetivo valorizar o olhar inovador de médicos, profissionais e estudantes de saúde quanto aos avanços nessa área de saúde pública. O portal Medical Services tem 13 anos de existência. 

O anúncio dos vencedores aconteceu em 1º de abril, no Museu da Imagem e Som na capital paulista. Durante o evento, foram premiadas quatro categorias que priorizam a melhoria da saúde pública: ações, projetos, medicina tropical e doutorandos. 

Relevância, reprodutibilidade, viabilidade, criatividade e inovação foram os critérios avaliados. O concurso recebeu quase 150 trabalhos de 57 cidades brasileiras.  

Na primeira fase do concurso, 40 trabalhos foram selecionados pelo conselho editorial do portal, composto por sete médicos de várias especialidades. Na sequência, a votação foi aberta aos profissionais de saúde cadastrados no portal.  

Na última etapa, personalidades brasileiras na área da saúde selecionaram os vencedores das quatro categorias, entre os mais votados na segunda fase. 

Congresso condena mudança na Lei Antidrogas 

A rejeição às internações compulsórias e a criminalização do uso de drogas são os destaques do Congresso Internacional sobre Drogas 2013, que é realizado até hoje no Museu da República, em Brasília. O evento ocorre no momento em que debates são levantados por causa da tramitação do Projeto de Lei (PL) 7.663/ 2010 na Câmara, que altera dispositivos da Lei Antidrogas no Brasil. 

Caso seja aprovada, a proposta apresentada pelo deputado Osmar Terra (PMDB-RS) determinará a criação de um cadastro de usuários de drogas. O projeto prevê a internação involuntária de dependentes, que pode ser solicitada por um parente, e aumenta a pena mínima do traficante de cinco para oito anos de cadeia. 

A facilitação das internações, o aumento da pena a traficantes e a falta de critérios para diferenciar usuários de traficantes são os pontos polêmicos da proposta, dizem os debatedores do evento. Na última semana, a votação do projeto de lei foi suspensa e transferida para a próxima quarta-feira (8). 

Os cerca de 700 participantes, membros de movimentos da sociedade civil, de universidades e representantes do governo, em sua maioria contrários às internações e à criminalização do uso das drogas, discutem os impactos do uso das drogas na sociedade brasileira. A estimativa é que cerca de 5 milhões de pessoas sejam consumidoras habituais de drogas no Brasil. 

No evento, os participantes defendem a elaboração de abaixo-assinado contra o projeto de lei do deputado Osmar Terra e com pedido para que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, se posicione em relação à internação compulsória. 

"A internação involuntária é o fracasso da clínica no campo da saúde mental. Qualquer psiquiatra que faz uma internação involuntária o faz através do fracasso da sua capacidade de cuidar. Ela ocorre quando nada mais deu certo. Não podemos ter uma política pública baseada no fracasso", disse o representante do Ministério da Saúde, coordenador adjunto de Saúde Mental, Léon Garcia. 

Conforme a professora de Direito Penal da Universidade do Rio de Janeiro, Luciana Boiteux, a política de internação contra a vontade do usuário é autoritária e, do ponto de vista econômico, gera mais danos e gastos do que resultados. Para ela, o projeto de lei é equivocado porque retrocede no sentido de assemelhar as internações ao tratamento dado aos dependentes químicos antes da Lei Antimanicomial de 2001. "Essa é uma lógica que amplia o tratamento não no âmbito da saúde pública, por meio de comunidades terapêuticas, mas pela institucionalização de forma higienista", disse a professora. 

Sobre a criminalização do uso de drogas, os especialistas criticam a ausência de parâmetros que norteiem uma diferenciação objetiva entre usuários e traficantes, o que acaba levando ao maior encarceramento de usuários e à superlotação de presídios. (ABr)

Fonte: Diário da Manhã