Intervenção no paisagismo

Prefeitura substitui plantas nos canteiros centrais de avenidas e praças da capital

 

Há três meses o goianiense vem acompanhando a movimentação de operários da Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg) que trabalham na renovação dos canteiros de praças e avenidas da capital. A ação foi batizada de Novo Paisagismo, uma exigência que, segundo o presidente da empresa, Paulo de Tarso, partiu do próprio prefeito Paulo Garcia, incomodado com as muitas reclamações de moradores sobre o desaparecimento gradativo de uma das marcas mais fortes de Goiânia, as flores. “Muita gente disse que a cidade estava feia e encardida, por isso decidimos renovar”, afirma o presidente da Comurg.

O trabalho, que começou por vias mais centralizadas e de maior visibilidade turística, deve avançar até o fim do período de seca por toda a cidade. É o que prevê Edmar Ferreira, diretor de Urbanismo da Comurg. Ele explica que a ordem é melhorar o custo-benefício do paisagismo urbano. “Estamos reduzindo a necessidade de água e de operários para manter a cidade florida por mais tempo”. Uma das novidades é o retorno das petúnias, espécie muito presente nos primeiros canteiros públicos de Goiânia, entre 1989 e 1990, que fizeram a capital ficar conhecida como “a mais florida do Brasil”.

As petúnias, de acordo com Edmar Ferreira, desapareceram dos canteiros em decorrência de uma praga. Foi preciso estudar o solo da capital, em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) para tentar novas reproduções. A espécie aprecia solo fértil, rico em matéria orgânica e bem drenado. Quando as flores murcham, se não forem retiradas, podem ocasionar o surgimento de fungos que provocam um “melado” nas folhas. Os estudos tiveram sucesso. Cerca de 100 mil mudas cultivadas nos viveiros da Prefeitura de Goiânia começaram a ser plantadas em locais onde a água pode chegar fácil, assim como a manutenção. Conforme Edmar Ferreira, as dálias também voltam com força no processo de renovação dos canteiros.

A movimentação dos operários da Comurg que retiram plantas antigas e as substituem por novas não passou despercebido para alguns moradores. “Não consigo entender isso. A avenida foi reformada há pouco tempo, está bonita e chama a atenção. Será que a Prefeitura não tem mais o que fazer?”, questiona uma psicóloga com consultório na Alameda Ricardo Paranhos, no Setor Marista. A via de 1,9 quilômetro foi entregue com novo paisagismo, pista de corrida e equipamentos de ginástica em agosto de 2011 numa parceria entre a Prefeitura e construtoras. “Mudamos os canteiros para colocar flores como cravinho, dália, vínia e sálvia vermelha. Podamos a grama e demos uma organizada na simetria”, responde Paulo de Tarso.

Custos

Vivendo em Goiânia há nove meses, o analista de sistemas Davis Gordon Dun ficou inconformado ao assistir a retirada da grama do canteiro central da Avenida República do Líbano, eleita recentemente “a mais bonita de Goiânia” por leitores do jornal O POPULAR. “A grama estava em perfeito estado, bonita. Não faz sentido a troca.” O presidente da Comurg explica que, mensalmente, são refeitos 11 milhões de metros quadrados de grama em toda Goiânia e no caso da Avenida República do Líbano o objetivo é mesmo realçar o colorido da via, que tem nas palmeiras imperiais o seu principal destaque.

A reportagem tentou descobrir os custos do processo do novo paisagismo da capital, mas a Comurg não mencionar valores, garantindo que o custo é zero. “Estamos fazendo tudo com nossos operários, com mudas e adubos produzidos nos quatro viveiros administrados pela empresa”, afirma Edmar Ferreira. A forração dos canteiros é feita com galhos triturados recolhidos nas podas da arborização urbana. Ao final do trabalho, a expectativa de Edmar Ferreira é de que sejam retirados das ruas 25 dos 60 caminhões-pipa que mantêm os canteiros umedecidos e reduzir, em alguns pontos, para um operário os dez que fazem o trabalho.

Depois de intervenções em locais como a Rua 26, no Centro; na Alameda Ricardo Paranhos e na Avenida 85, no Setor Marista; na pracinha do Cepal do Setor Sul; e na Avenida República do Líbano, entre os Setores Oeste e Aeroporto, a próxima investida é a Avenida 136, também no Marista. “Hoje lá só tem grama, vamos fazer um novo paisagismo”, anuncia.

Os quatro viveiros municipais administrados pela Comurg produzem mensalmente cerca de 200 mil mudas de várias espécies e todas elas são transferidas para os espaços urbanos. “A planta tem um ciclo de validade nos viveiros”, explica Edmar Ferreira.

 

O viés político do paisagismo urbano

19 de maio de 2013 (domingo)
“Concebido como equipamento urbano e recreativo, o parque público está ligado, sobretudo, à vontade política. Qualquer que seja a época em que foram concebidos, os parques são sempre testemunhas do gosto pelo gigantismo e pelo grande espetáculo daqueles que decidem os destinos das cidades em termos de arquitetura e urbanismo”, escreve o geógrafo e professor baiano Ângelo Serpa no livro O Espaço Público na Cidade Contemporânea, obra de 2007 publicada pela editora Contexto.
No artigo Uma Discussão Sobre Representações Sociais e Identidades Conferidas à Capital Goiana, publicado em 2010 na revista eletrônica Ateliê Geográfico, do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Clarinda Aparecida da Silva, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), atribui à mídia a reprodução de representações construídas por agentes sociais, normalmente grupos dominantes. “A mídia transforma e até certo ponto define a circulação de bens simbólicos em sociedades contemporâneas. Desta forma, ela impõe definições sobre a cidade e a vida pública, cria e valoriza determinados espaços na cidade”.1.326217

Fonte: O Popular