Protesto contra médico importado

Estudantes e médicos fazem ato em favor de prova para contratação de médicos estrangeiros

Rosana Melo 26 de maio de 2013 (domingo)
Mantovani Fernandes
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Estudantes de Medicina e médicos protestam contra fim de exame para validar diplomas

Cerca de cem estudantes de Medicina e alguns médicos participaram ontem de manhã de uma manifestação que faz parte de movimento nacional a favor da Revalida, a prova que médicos estrangeiros que queiram trabalhar no Brasil precisam fazer. A contratação de cerca de 6 mil médicos estrangeiros, principalmente da Espanha, Portugal e Cuba, é estudada pelo governo federal para suprir a carência na área no País.

De acordo com o estudo do Ministério da Saúde, na última década, o Brasil acumulou déficit de 54 mil médicos. De 2003 a 2011, surgiram 147 mil vagas de trabalho, mas as universidades formaram apenas 93 mil profissionais, segundo estudos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Para o governo federal, a importação de médicos diminuiria o déficit principalmente em cidades do interior e em áreas carentes, com atendimento no Programa Saúde da Família. Segundo o estudo do Ministério da Saúde, o déficit tende a aumentar, já que há a previsão de contratação de mais de 26 mil médicos para postos de saúde e hospitais públicos que serão construídos no País até 2014.

Para o Conselho Federal de Medicina (CMF), com a proposta de facilitar a entrada de médicos estrangeiros e de brasileiros com diplomas de Medicina obtidos no exterior sem a sua respectiva revalidação, o governo federal desrespeita a legislação e coloca em risco a qualidade da assistência oferecida à população.

Para o presidente do centro acadêmico do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Gilberto Borges, não faltam médicos no interior do Estado, em outros Estados da União, nem nas periferias. O que acontece, segundo ele, é a falta de condição de trabalho do médico nessas localidades. médico nessas localidades. “Não adianta migrar para as unidades do interior, onde não há estrutura para o trabalho”.

O movimento nacional, segundo ele, é para mostrar que é preciso defender o médico, a população e conseguir melhor estrutura para seu trabalho, além de um plano de carreira para o profissional. “O que está acontecendo no País é a má administração na distribuição de médicos. Trazer médicos de fora não vai adiantar, porque eles não conhecem nossa língua, nossas doenças, nossa epidemiologia.” O estudante disse que no Revalida feito no ano passado, dos 517 médicos estrangeiros inscritos, apenas 2 passaram na prova.

A contratação de médicos estrangeiros ou de médicos brasileiros que fizeram o curso no exterior sem o Revalida é um risco à população na avaliação do estudante. Participam do movimento, além de profissionais da área, estudantes dos cursos de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), PUC/GO, do Centro Universitário de Anápolis (Unievangélica) e da Universidade de Rio Verde (Fesurv).

Médicos por habitante

Enquanto no Reino Unido - cujo modelo de sistema de saúde público de caráter universal é seguido pelo Brasil - existem 2,7 médicos para cada mil habitantes, no Brasil, existe 1,8 médico para a mesma quantidade de habitantes. Para atingir a média do Reino Unido seria necessária a contratação de mais 168.424 médicos no Brasil.

Em Goiás a situação ainda é mais grave, segundo o estudo do Ministério da Saúde, disponível no site governamental. Para cada grupo de mil habitantes existe apenas 1,45 médico. Média igual ou superior ao Reino Unido são encontrados apenas no Rio de Janeiro e no Distrito Federal. São Paulo está acima da média nacional e perto de alcançar o índice do Reino Unido, com 2,49 médicos por mil habitantes.

 

Mobilização em SP reuniu 23 faculdades

(Folhapress) 26 de maio de 2013 (domingo)

São Paulo - Alunos de 23 faculdades de medicina do Estado de São Paulo, com rostos pintados de verde e amarelo, realizam o protesto contra a entrada de médicos estrangeiros no país sem a realização do exame Revalida, que analisa os conhecimento desses profissionais, na tarde de ontem.

O grupo saiu da Rua Maria Paula, na Região Central da capital paulista, por volta das 12h20. O trânsito no local foi fechado para a passagem dos manifestantes. Eles passaram pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio e seguiram até o Largo São Francisco. Em manifesto elaborado pelos estudantes, eles afirmam que não são contrários à entrada de médicos estrangeiros no Brasil, mas, sim, à proposta do governo federal de liberá-los da prova.

“Nosso ponto de vista não está fundamentado nos interesses de classe, mercado de trabalho, nem em xenofobismo, mas sim na oferta de uma medicina que seja exercida com qualidade”, continua o manifesto, assinado pelas 23 faculdades.

Antes do protesto, entidades médicas se reuniram na sede da Associação Paulista de Medicina para redigir uma carta à população, assinada por 63 entidades, contrária à política do governo federal. “Em qualquer lugar do mundo o médico tem de ser submetido à avaliação”, afirmou Renato Azevedo, presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo.

Fonte: O Popular