Livro analisa imprensa política em Goiás

O pesquisador e professor Cristiano Alencar Arrais lança hoje, às 17 horas, na Livraria UFG do Câmpus 2, pátio das Faculdades de Comunicação e de História, o livro Mobilidade Discursiva: O Periodismo Político em Goiás. Fruto de trabalho acadêmico do autor empreendido na última década, a obra ajuda discute um tema pouco explorado pela academia: a atuação da imprensa opinativa política do início no século 20 em Goiás e sua influência nas posteriores formulações historiográficas. Segundo o estudo de Arrais, essa imprensa ajudou a construir a imagem que se tem hoje sobre personagens como a família Caiado e Pedro Ludovico Teixeira. O lançamento faz parte da programação da 12º Semana de História, organizada pela Faculdade de História, onde o professor atua.

No livro, Arrais analisa a história política de Goiás, com recorte de tempo entre as décadas de 1920 e 1930, lançando mão da análise de jornais e revistas publicados nesse período, entre eles os periódicos A Voz do Povo, A Colligação, A Razão, A Informação Goyana e Cidade de Goyaz. “Meu interesse por essa pesquisa, iniciada em 2003, está em lançar questões em relação a esses periódicos nessas décadas e ao mundo político da época para então analisar como este mundo político é representado pelos jornais e como historiadores, principalmente nos anos 60 e 70, reconstituíram a história como base neles”, explica o pesquisador, doutor em História e Culturas Políticas.

Quem conhece hoje somente o formato comercial da imprensa tradicional ocidental (incluindo mídias eletrônicas), calcado em notícias e reportagens de linguagem padronizada e objetiva, pouco pode imaginar como impressos de viés declaradamente políticos tiveram força no Brasil no final do século 19 e primeiras décadas do século 20. Muitos deles, aliás, eram parte integrante do jogo político entre correntes que disputavam o poder e, em muitos casos, tornaram-se peças cruciais na determinação de resultados.

Em sua obra, Arrais ressalta a forma como esses jornais de posição política definida aglutinaram as mais diversas tendências governistas ou antigovernistas, indo da crítica puramente política até acusações de cunho pessoal.

Idealização

O texto de apresentação, assinado pelo historiador Noé Freire Sandes, ressalta a preocupação do pesquisa em traçar um panorama da conjuntura política, reafirmando a política como chave para compreensão das mudanças que se operavam no Estado no período em questão. Já o autor reafirma que seu trabalho é uma tentativa de articular dois temas que dominaram suas preocupações ao longo dos últimos anos: os questionamentos acerca da natureza do conhecimento histórico e o mundo político goiano entre as décadas de 1920 e 1930. “Existe uma espécie de idealização do período dos anos 1930 e da própria figura de Pedro Ludovico, que eclipsa o próprio mundo político”, instiga o professor.

Segundo ele, o discurso formulado nos periódicos analisados – depois usados como fonte de historiadores – leva a um certo entendimento padrão sobre o fato de que a Primeira República Brasileira (ou República Velha, entre 1889 e 1930) em Goiás foi um período de corrupção e da dominação de oligarquias – “mais especificamente a família Caiado”, objetiva. De acordo com o pesquisador, já a República Nova, pós-Revolução de 30, é entendida e associada com a modernidade. “Esta, no entanto, precisa ser analisada como uma versão associada a intelectuais vinculadas à época ao próprio Pedro Ludovico”, contrapõe.

Arrais esclarece, no entanto, que o livro não tem pretensão de buscar a verdade ou falsidade dos discursos analisados. “Meu interesse não é me fixar no fato: o jornal A está falando sobre algo que é ou não verdade. Meu foco está em apresentar como os jornais contribuíram para a formação desta visão”, diz. Ao analisar as fontes, completa ele, a pesquisa procurar mostrar como os mecanismos de argumentação e persuasão estruturam expectativas dos homens do passado sobre o seu tempo. “É preciso entender que não é somente pelos jornais que se estabelece qual é a melhor versão sobre argumentos.” A obra já está disponível nas Livrarias UFG e na livraria virtual da Editora UFG, no endereço www.editora.ufg.br.

Fonte: O Popular