“Tenho convicções artísticas e não abro mão”

“Sabá, vem pra dentro, menina.” Em sua terra natal, a pequena São Sebastião da Boa Vista, a 190 quilômetros da capital Belém, Sabah Moraes deve ter ouvido muito este chamamento. Nascida há 42 anos, como Sebastiana Benedita Coelho de Moraes (o “Couteiro” foi incorporado depois do casamento com o músico Ney Couteiro), a cantora tem o apelido que virou nome artístico desde pequena. “Minha avó era Sebastiana. No Pará, Sebastiões e Sebastianas são chamados de Sabá. Sou chamada assim desde criança”, conta ela, com risos que possivelmente remetem a um tempo bom.

Foi no Pará que ela conheceu o marido músico, de passagem por ali durante um festival de música de que ambos participaram. “Sempre estivemos juntos desde então”, diz a cantora, que comemora agora 15 anos de carreira e de uma parceria que, além de frutos musicais, ainda rendeu os filhos Lucas, pianista de 18 anos; Tales, 14 anos, “que também toca piano, mas vai acabar virando humorista”; Clara, 13 anos, e Sofia, 4 anos. Dos quatro filhos, somente Sofia é goiana. Os três irmãos mais velhos nasceram na capital paulista, quando Sabah era integrante do coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).

Apesar de concursada, Sabah teve de deixar o coro sete anos após nele ingressar quando o maestro John Neschling assumiu o corpo sinfônico na virada nos anos 90 para os 2000 e renovou todo o quadro de músicos. Sabah, Ney e os filhos ainda permaneceram em São Paulo por mais três anos, até que resolveram se mudar para Goiânia, onde Ney, que é de Guajará-Mirim (Rondônia), já havia trabalhado e mantinha contatos. Na capital goiana, Sabah se aperfeiçoou, fez graduação e mestrado em Canto pela UFG, pesquisando cantos populares, e passou a dar aulas. “Esporadicamente também sempre fazendo meus shows”, salienta.

Percalços

As dificuldades que muitos artistas têm para se manter vivendo somente de arte não deixaram de bater à porta de sua carreira. Em muitos momentos a indignação também. Certa vez, não há muito tempo, ela foi ao Facebook lamentar e anunciar o fim da atuação artista. Voltou atrás, porque “não consegue viver sem a música, nasce com a gente”.

“O artista que faz seu trabalho preocupado com a qualidade sofre muito com isso, porque é difícil conseguir apoios grandes e ter o trabalho realmente valorizado por governos, por exemplo. Os (artistas) de fora ganham o que pedem e a gente o que o governo acha o que merece: muito pouco”, desabafa.

Sabah diz que deixou muitas vezes de fazer shows porque não era o que acreditava. “Não vou cantar na noite. Não pagam o que você precisa e as pessoas não estão lá para ouvir. É uma maneira de ganhar a vida sim. Noel Rosa até cantava em bares, mas era outro contexto e outra época. Tenho convicções artísticas e não abro mão”, afirma ela, que já lançou cinco CDs, nenhum deles sem o trato que quis dar.

O Mundo é Cheio de Sons (terceiro CD, de 2007, voltado para crianças) está na sexta edição, por exemplo. Muita gente, no Brasil inteiro, busca o CD para trabalho. Como trabalho educativo, a repercussão dele continua. Dá muito orgulho ver um trabalho repercutindo bem assim”, afirma.

Fonte: O Popular