Saldo de 50 jornalistas feridos na onda de protestos

Policiais e manifestantes se enfrentaram no Paço Municipal (foto). Cinco já morreram nas ruas. Imprensa é um dos alvos

Em enquanto as seleções da Itália e da Espanha duelavam em campo por uma vaga na final da Copa das Confederações, na quinta-feira, 27, na Arena Castelão, em Fortaleza, nas ruas da cidade uma multidão protestava contra os gastos excessivos com a Copa do Mundo de 2014. Lá, o embate não era entre atletas, mas entre polícia e manifestantes. No lugar da bola, balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo de efeito moral. Resultado: pelo menos três policiais e cinco manifestantes tiveram ferimentos leves.  Além dos feridos, 84 pessoas foram presas por vandalismo e violência.
Cenas semelhantes já ha­viam ocorrido no dia anterior, nas proximidades da Arena Mineirão, em Belo Horizonte, que sediou o jogo do Brasil contra o Uruguai. Um jovem de 21 anos caiu de um viaduto e morreu. Até o fechamento dessa edição, essa havia sido a quinta morte relacionada aos protestos. Duas mulheres também morreram atropeladas em Cristalina, no Entorno de Brasília. Uma delas estava grávida. Em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, um rapaz que participava das manifestações também morreu atropelado e em Belém, no Pará, uma gari faleceu após intoxicação com bomba de gás lacrimogêneo.
Mesmo sem receber partidas da Copa das Confe­de­rações, Goiânia também entrou na rota de violência das manifestações, que se espalharam pelo Brasil no começo de junho, na esteira dos movimentos que lutavam contra o aumento da passagem e pelo passe livre para os estudantes. Aqui, parte das passeatas foi convocada pela Frente de Luta, que chegou a suspender novos atos. Os próprios manifestantes também reclamam da violência da polícia e foram ao Ministério Público do Estado de Goiás (MPE/GO), na última semana, pedir a não criminalização dos movimentos sociais (leia correlata).
Na capital, na segunda-feira, 24, um protesto que reuniu 2 mil pessoas foi marcado pela hostilidade em relação à imprensa (leia correlata). Repórteres da TV Anhanguera, afiliada a Rede Globo, alvo constante de críticas em relação a sua cobertura, quase foram agredidos. Eles tiveram que trabalhar sem a canopla, peça que contém o logotipo da empresa. Dois carros da Anhanguera, e um do jornal O Popular, do Grupo Jaime Câmara (GJC) e da TV Serra Dourada (TVSD), afiliada do SBT,  foram destruídos.

Minoria
A sede da TVSD, localizada no Jardim Goiás, próximo ao Paço Municipal, também foi alvo de pedradas. Equipa­mentos das equipes chegaram a ser levados pelos manifestantes. O estudante Jefferson Matheus, 18, um dos porta-vozes da Frente de Luta, afiança que as agressões partem de uma “minoria exaltada que são o único foco da mídia”. Segundo ele, que antes das manifestações nunca havia se envolvido com movimentos sociais, o grupo “é  contra qualquer tipo de vandalismo.”
Pesquisador na área de Comunicação e Política e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), Luiz Signates defende que os atos de violência são resultado de grupos que enxergam a radicalização das ações uma forma de pressionar o Governo a tomar medidas. “As pessoas que estão a frente dos movimentos são claramente pacíficas”, avalia.
Segundo ele, o recrudescimento das manifestações é comum nas situações em que o Poder Público não responde às reivindicações. No caso do Brasil, o pacto anunciado pela presidenta Dilma Rousseff bem como ações efetivas no combate à corrupção e em prol da reforma política podem frear os atos mais violentos.
Para ele, as frequentes hostilidades em relação à imprensa são resultado de um descontentamento da população com a conivência entre os veículos de comunicação e as organizações de poder. “Isso mostra que há um déficit de credibilidade na imprensa, o que deveria ser também uma preocupação dos jornalistas. É preciso repensar essa relação”, sentencia.

Frente de Luta vai ao MP para denunciar violência

Na última semana, a Frente de Luta convocou seu 7º protesto. O ato, que começou na Praça Universitária, terminou no Ministério Público Estadual de Goiás (MPE/GO). No órgão, eles entregaram ao procurador-geral de Goiás, Lauro Machado Nogueira, uma denúncia contra o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia (Setransp) e a Companhia Municipal de Transporte Coletivo (CMTC).
No topo da lista de reivindicações, a violência assistida nos últimos atos. Os integrantes do movimento Frente de Luta entregaram duas cartas nas quais os manifestantes pedem o apoio da instituição. Entre as reivindicações estão o arquivamento dos processos contra manifestantes presos durante protestos na capital no dia 20 de junho.
Quatro pessoas foram presas e os organizadores do evento explicam que dois deles só foram liberados depois do pagamento de fiança e os quatro estão respondendo por processo criminal.
Os manifestantes também pediram que a Polícia Militar (PM) não acompanhe os protestos. No caso do pedido não ser atendido, eles querem que os policiais não estejam armados sequer com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral.

Casos de agressão contra a imprensa  em 11 municípios

Levantamento divulgado na sexta-feira, 28, pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) apontou que mais de 50 profissionais da imprensa foram agredidos, hostilizados ou presos desde o início da onda de protestos iniciados no Brasil, em junho. Os dados são resultado de consultas a sindicatos da categoria, a redações e a ONG Repórteres Sem Fronteira. No total, foram 53 casos de violação contra 52 profissionais. Um dos jornalistas, o repórter Leandro Machado, da Folha de São Paulo, além de agredido foi preso.
Segundo a Abraji, 34 das 53 ocorrências foram de agressão, hostilidade ou ameaça feita por parte da polícia. Seis prisões também foram registradas. Os outros 12 casos de violência contra jornalistas são creditados a manifestantes e, nessas ocorrências, não foi possível identificar os autores. Os números, porém, são parciais uma vez que os protestos são pulverizados e alguns veículos optaram por não figurar na lista.
Os casos de violação à imprensa foram registrados em 11 municípios. Até o momento, São Paulo é a cidade com maior número de ocorrências. Em seguida está Fortaleza (CE), com seis casos e o Rio de Janeiro, com cinco. A Folha de São Paulo foi o veículo que mais contabilizou jornalistas feridos: sete profissionais, entre repórteres e fotógrafos.

Fonte: Tribuna do Planalto