Professores e estudantes são detidos

A confusão entre a Polícia Militar e manifestantes na noite de abertura do 15º Fica, na terça-feira, foi o grande assunto do dia ontem na Cidade de Goiás, no segundo dia do festival. Onze manifestantes foram conduzidos pelo efetivo do 6º Batalhão da PolÍcia Militar à delegacia da cidade, mas dois deles foram imediatamente soltos por serem adolescentes. O delegado Fábio Meireles Vieira recebeu o grupo às 23 horas e todos foram liberados após passar por exame de corpo delito, entre eles dois policiais militares, processo que se só se encerrou às três da madrugada.

Já estava prevista uma manifestação na cidade na terça-feira e o local marcado para a concentração foi a área em frente ao Palácio Conde dos Arcos, onde era prevista a realização da solenidade de abertura oficial do festival, com presença de várias autoridades, entre elas o governador do Estado, Marconi Perillo. A frente e as laterais do prédio foram cercados por homens do 6º BPM, sediado em Goiás, que contou com reforços de Goiânia, inclusive com a tropa de choque.

O comandante Luís Antônio da Silva Rocha disse que a manifestação, que começou por volta das 20h de terça-feira, começou pacífica e assim permaneceu até às 22h. “Foi quando alguns manifestantes passaram a nos jogar pedras, garrafas de água e latinhas e até o caixão simbólico que eles carregavam. A polícia teve de reagir para sua defesa legítima”, disse o comandante.

Segundo o delegado, os nove manifestantes já prestaram depoimento e hoje devem ser ouvidos mais membros da corporação militar. “Também estamos à procura de material de filmagem, fotografia e áudio para agregar ao inquérito e averiguar se houve abuso por parte da polícia ou dos manifestantes”, informou Fábio Meireles. O delegado só disse que todos os manifestantes eram estudantes ou professores em universidades na cidade de Goiás e Catalão. “Em três anos como delegado aqui já vi outras manifestações mas nenhuma delas chegou até nós como essa”, comentou o delegado.

Manifestantes

Entre os comentários contra e a favor dos manifestantes na cidade de Goiás o nome mais falado foi o do Frei Paulo, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG). Nas rodas de conversa e pelas redes sociais foi afirmado que o professor havia sido preso. “Foi um engano. Eu estava sim, junto ao movimento de protesto, mas não fui detido. Quando a PM levou os manifestantes para a delegacia eu acompanhei para ajudar no que fosse preciso e prestar meu depoimento como testemunha”, disse o professor. Ele também nega a versão da PM segundo a qual os manifestantes tentaram furar o cerco policial ou jogaram pedras e objetos nos policiais. “Nada disso aconteceu. Quando chegou um coronel dizendo se eu podia negociar com o pessoal para se retirar da frente do Palácio Conde dos Arcos eu fui até os colegas manifestantes e eles se recusaram e se sentaram no chão. Nessa hora começou a agressão por parte da PM, que queria dispersar o protesto à força”, declarou o Frei Paulo.

Ele acrescentou que em nenhum momento os manifestantes quiseram entrar no Palácio. “Este lugar é muito simbólico. Tínhamos certeza que lá dentro o governador e as autoridades estavam nos ouvindo muito bem”. O professor frisou também que havia policiais a paisana que agrediram os manifestantes. “Isso ajudou a criar uma situação ainda pior, mas que por outro lado a PM usou para dizer que foi agredida e não o contrário”, defende o manifestante.

Repúdio

O caso chamou a atenção de várias entidades e associações. A Diretoria Executiva da Adufg Sindicato publicou ontem uma nota em que diz “repudiar a violência cometida pela Polícia Militar do Estado de Goiás contra manifestantes que, pacificamente, utilizavam o direito constitucional de livre expressão na abertura do Fica”.

A OAB Goiás também se pronunciou a respeito do caso. “A Subseção da OAB na Cidade de Goiás coletou denúncias de atos praticados por policiais, justamente os responsáveis por combater a violência. Isso é lamentável. Advogados que militam na comarca ainda tiveram suas prerrogativas violadas, o que é grave.”

Fonte: O Popular