Rapaz fará reconstrução facial no Hospital das Clínicas

Processo vai retirar camada de pele da perna de Samuel Rosa Rodrigues e deve durar 12 horas

Vandré Abreu 17 de setembro de 2013 (terça-feira)

O iluminador Samuel Rosa Rodrigues, de 20 anos, vai ter parte de seu rosto reconstruído em cirurgia complexa no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG) a partir de hoje. O processo vai ser feito por transplante autólogo – uma parte do corpo do paciente será usada para a reconstrução. A equipe médica liderada pelo cirurgião plástico Carlos Gustavo Lemos Neves optou por retirar uma camada de pele da perna esquerda de Samuel para reconstruir o terço médio do rosto - da parte mais alta do nariz até o palato superior.

Esta etapa será apenas a primeira da reconstrução facial e deve durar cerca de 12 horas, com início às 7 horas de hoje. Se tudo correr bem, entre três e seis meses, Samuel deve voltar à mesa de cirurgia. Neste caso, os médicos vão reconstruir a parte óssea do palato superior do paciente. A fíbula de uma das pernas dele vai ser retirada e implantada logo abaixo do nariz. O osso será serrado até atingir um formato parecido com o da letra C. O implante ocorre de um lado da parte superior da maxila até o outro lado.

Segundo Carlos Gustavo, o procedimento não é inédito, mas é complexo ao ponto de os médicos levarem o caso para análise de outros profissionais. Equipes de São Paulo e da Suíça foram consultadas sobre o caso. Samuel atuava como iluminador de um festival de música em Caldas Novas, no ano passado. Enquanto arrumava os rojões para a festa, um dos fogos de artifício atingiu seu rosto. Ele perdeu o nariz, palato superior, maxilar e a visão do olho direito, para o qual faz tratamento no Centro de Referência em Oftalmologia do HC (Cerof).

Carlos Augusto afirma que a opinião de outros médicos foi idêntica à da equipe goiana e, por isso, teve-se a certeza da reconstrução com transplante autólogo. A outra opção seria o transplante com órgão de um doador. “A doação é mais mórbida e corre-se o risco de uma rejeição, por se tratar de um tecido de outra pessoa, sem contar a mudança no tom de pele”, explica. O médico diz que haverá diferença no tom da pele mas elimina-se o risco de rejeição.

O chefe da equipe também explica que a ideia inicial era que as duas etapas cirúrgicas ocorressem de forma conjunta, com a atuação de três equipes médicas: uma na face, outra na coxa e a última na perna. “O problema é que poderia perder todo o processo. Desta forma, com a inserção da pele e a certeza que deu certo, a segunda etapa teria menos risco”, diz. O médico lembra ainda que o risco maior é por conta da vascularização, já que tanto da camada de pele quanto do osso, os vasos sanguíneos são retirados para a reconstrução.

Vascularização

A escolha de retirar parte da coxa se deu justamente por causa da vascularização. “É uma região bem vascularizada. A outra opção seria as costas, mas seria mais incômodo ao paciente, que teria de ser virado para o procedimento”, argumenta Carlos Augusto. Após a reconstrução óssea, a equipe ainda fará o trabalho no nariz de Samuel, que será o último procedimento. A ideia é que seja usada a mesma pele retirada, mas caso não seja possível, a equipe médica estuda o envio do paciente para um hospital suíço, especialista na reconstrução de nariz.

Ao todo, nove médicos e dois cirurgiões-dentista bucomaxilofacial vão participar do procedimento. O total da equipe, com anestesistas e enfermeiros, deve chegar a 20 profissionais. O paciente se consulta no HC há cerca de seis meses. Neste período, segundo Carlos Augusto, as principais dificuldades são para comer, falar, respirar e o convívio social. Só com a primeira etapa da cirurgia, os médicos acreditam que já haverá melhorias em todos os casos.