Tropicalista, não. Anarquista

Em comemoração aos seus 70 anos de idade, e dizendo estar vivendo um novo momento, o cantor Jards Macalé se apresenta hoje em Goiânia


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Jards Macalé: cantor e compositor se apresenta hoje no Centro Cultural UFG, ao lado da banda Let’s Play That

Da mesma geração dos setentões Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, mas muito distante da fama e do sucesso que eles fizeram com o grande público, Jards Macalé é chamado por muitos críticos como um dos artistas mais incompreendidos e subvalorizados do País. Embora tenha vivenciado o mesmo momento histórico e participado ativamente do nascedouro do movimento cultural por eles encabeçado, sempre andou na contramão do sistema e se recusa a se classificar como um tropicalista, corrente que critica pela aproximação com a indústria cultural, e se diz um pré e um pós-tropicalista, mas prefere mesmo a alcunha de anarquista.

Celebrando os 70 anos que completou em março, o que define como sua nova juventude, ele se apresenta hoje no Centro Cultural UFG, na Praça Universitária, às 21 horas. Macalé vem a Goiânia acompanhado da banda Let’s Play That – nome de uma antiga parceria entre ele e Torquato Neto – formada por jovens músicos do Rio de Janeiro. O grupo é composto por Leandro Joaquim (trompete), Thiago Queiroz (sax), Victor Gottardi (guitarra), Ricardo Ritto (teclados), Thomas Harres (bateria) e Pedro Dantas (baixo), e reflete o momento por que passa o artista, que está sendo redescoberto pela nova geração.

Compositor, intérprete, violonista, produtor e diretor musical, orquestrador e ator, ele é inquieto e talentoso, tanto que seus trabalhos sempre estiveram vinculados aos maiores nomes brasileiros da poesia, cinema, artes plásticas e teatro. Na música, já tocou, gravou, produziu, orquestrou e fez direção musical de vários artistas como Maria Bethânia, Gal Costa, Naná Vasconcelos, Wagner Tiso, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Egberto Gismonti, Hermeto Paschoal, Paulinho da Viola, Luiz Melodia, entre outros.

Início e polêmicas

Amigo dos filhos de dona Canô, foi ele quem abrigou Maria Bethânia no Rio de Janeiro, em 1965, quando ela fora convidada para substituir Nara Leão no espetáculo Opinião, naquilo que representou a estreia profissional da cantora baiana no show business. Na mesma ocasião, também havia sido convidado por Roberto Nascimento para substituí-lo no teatro ao violão, tendo se dado ali o seu début.

Com Caetano Veloso, a quem conhecia desde 1958, fez grandes parcerias e protagonizou algumas das trocas de farpas mais marcantes da história da música brasileira. Em 1970 foi convidado pelo baiano para ir a Londres arranjar e fazer a direção musical de seu novo disco – Transa, que seria lançado em 1972 e eleito pela edição brasileira da revista Rolling Stone, em 2007, o décimo melhor disco nacional de todos os tempos.

Tudo correu bem e o álbum foi gravado brilhantemente com as participações de Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Sousa. No entanto, quando foi prensado, nenhum deles constava na ficha técnica.

Caetano se defendeu dizendo até que discutiu com o responsável pela capa, Aldo Luiz, pelo suposto esquecimento dos créditos no disco, mas nada impediu que Macalé brigasse oficialmente pelos direitos autorais do projeto. Na imprensa, respondiam um ao outro em tons pesados de crítica. E as brigas não pararam por ali.

Tanto que, já em 1996, ele foi chamado de “canalha” por Caetano depois de defender Paulinho da Viola na polêmica dos cachês do réveillon carioca de 1995 – Paulinho recebeu bem menos do que Gilberto Gil, Gal Costa, Chico Buarque, Milton Nascimento e o próprio Caetano Veloso pela apresentação. No entanto, os ânimos se acalmaram e eles retomaram certo convívio nos últimos anos.