Das várias versões da história

Companhia do Feijão traz o espetáculo Armadilhas Brasileiras para temporada de três dias na capital

O grupo teatral paulistano Companhia do Feijão inicia hoje, em Goiânia, uma temporada de três dias de seu novo espetáculo Armadilhas Brasileiras. A peça, que estreou em São Paulo em abril, comemora os 15 anos de estrada da companhia, uma das mais expressivas da capital paulista.

Como é característica de seus trabalhos, a obra propõe uma reflexão acerca da identidade brasileira partindo de um tom crítico e irônico ao retratar as contradições e fraquezas da sociedade. Eles ficam em cartaz no teatro do Centro Cultural UFG até domingo.

Armadilhas Brasileiras é resultado de um processo de investigação artística que foi coordenada pelo diretor Pedro Pires e pelo dramaturgo Zernesto Pessoa e realizada junto ao elenco ao longo de 18 meses. No centro da pesquisa, o comportamento humano frente ao confronto entre desejo e realidade que, na peça, é colocado em questão quando abordadas as armadilhas que circundam a sociedade brasileira diante de um país tão desigual. “Uma mescla cruel entre o ultramoderno e o ultrapassado, onde necessidades básicas de sobrevivência são solapadas pela mercantilização dos sonhos e do bem-estar, gerando toda sorte de violências, sobretudo as mais sutis”, conforme Pedro Pires.

Trama

A trama se desenvolve a partir de um conflito que surge entre um grupo de atores durante a montagem de uma peça sobre a crise econômica mundial de 1929 e suas consequências para os trabalhadores brasileiros. Durante os ensaios, as personagens apontam questionamentos a respeito da interpretação histórica dos fatos abordados e da maneira que se propõem a encená-los. E é em torno deste embate de opiniões acerca da mudança nos rumos como a história vinha sendo contada e do próprio fazer artístico que gira o espetáculo.

Ancorada em três obras de Mário de Andrade – Café, O Banquete e A Meditação Sobre o Tietê – que abordam as questões políticas e sociais brasileiras, já no primeiro ato surge o conflito entre os atores durante a discussão sobre exploração dos trabalhadores rurais e portuários da indústria cafeeira pelos patrões, quando se chocam os pontos de vista. Para essa montagem, eles lançam mão de trechos livremente inspirados em obras de Bertolt Brecht, Groucho Marx, Machado de Assis, Oswald de Andrade, Samuel Beckett e Vladimir Maiakovski.

No segundo ato, já retratando a sociedade moderna e urbanizada, os atores distorcem o enredo original, em que os trabalhadores descontentes fariam uma revolução que sairiam vitoriosos, e passam a inserir novas cenas e uma linguagem própria, fora do previamente estabelecido. Ao final, como resultado de tantos desencontros, a trama desemboca em uma terceira via, tanto de forma quanto de conteúdo, que esteve em discussão desde o início, mas os grupos acabam não aderindo a nenhuma delas.

Futuro

De acordo com o dramaturgo Zernesto Pessoa, depois de 15 anos de apuração e aprofundamento em pesquisas, “o foco (da companhia) agora está na apuração das relações artísticas dentro do núcleo criativo e ainda suas intersecções com outras linguagens artísticas, notadamente a música, as artes plásticas e o cinema, além da literatura, esteio da companhia desde sua criação”.

Espetáculo: Armadilhas Brasileiras com Companhia do Feijão

Datas: de hoje a domingo

Horário: 20 horas

Local: Teatro do Centro Cultural UFG – Praça Universitária

Ingressos: distribuição por ordem de chegada

Fonte: O Popular