Robótica ganha espaço

Projetos abertos, competições e produção acadêmica aumentam desenvolvimento local de inovações tecnológicas

A grande disponibilidade dos diversos dispositivos eletrônicos como tablets, celulares e computadores fez crescer também a demanda por um setor que antes era visto como coisa de nerd ou de grandes complexos industriais, a robótica. O interesse por esse tipo de produção em Goiás é notório, não só em relação a bons laboratórios e grupos de pesquisadores em universidades que vêm tendo destaque nacional e até internacional com projetos inovadores. O Estado desponta também em produtos acabados, como máquinas e sensores.

O cenário que anos atrás poderia ser chamado de futurista já é realidade, e Goiás faz parte desse mundo de inovações tecnológicas. Robôs móveis que são distribuídos para formar uma nova rede de comunicação após desastre em área de emergência, sensores que ajudam na obtenção de dados sísmicos para o mercado de petróleo, aranha robô que consegue mapear área perigosa para o ser humano, tudo isso já pode ser produzido aqui. Os produtos são acompanhados desde a matéria prima até os distribuidores por meio de identificação por rádio frequência. Esses e outros projetos se destacam com aplicações importantes e são desenvolvidos em universidades de Goiânia, impulsionados por desafios ou competições.

No sumô robótico, competição cujo objetivo é um robô tirar o outro da arena de luta, ou na fórmula robô (corrida), por exemplo, que fazem parte da terceira edição do Desafio Mecatrônico – que será realizado nos dias 5 e 6 de outubro na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) – competidores têm de desenvolver soluções para que os robôs consigam realizar tarefas. Porém, depois da competição, mesmo que sejam desmontados, após cálculos e testes, ideias e aprendizado contribuem para novas criações.

“As tecnologias e os dispositivos para as competições podem ser aplicadas e são aplicadas a coisas mais próximas de nossas vidas”, explica o professor e orientador do núcleo de robótica Pequi Mecânico da Universidade Federal de Goiás (UFG), Marco Antonio Assfalk de Oliveira, que se destaca em competições no Brasil. Segurança, automação industrial, carros com sensores e até a automação residencial fazem parte das aplicações no cotidiano. Além disso, segundo Oliveira, os processos de fabricação estão mais acessíveis.

“Recursos integrados de aplicações específicas com impressoras 3D para fazer protótipos e versões mais baratas, permitem custo mais baixo e que a produção seja mais rápida e mais pessoas façam.” Na internet, a possibilidade ver a tecnologia por dentro, como se desmontasse um aparelho, com códigos abertos e o chamado open hardware além de estimular a disseminação de projetos inovadores, reduzem os custos da produção de um novo produto e facilita com que inovações cheguem ao mercado.

Mercado

Com soluções flexíveis, os desenvolvedores buscam se adequar para colocar o projeto no mercado. É assim com os estudantes de Engenharia da Computação, Rafael Cardoso Fernandes Sousa, de 24 anos, e Greicy Kelly Oliveira, de 19 anos. Ele analisa a viabilidade do projeto de identificação por radiofrequência em substituição ao código de barras para varejistas acompanharem os produtos desde a matéria prima e criar um planejamento. Já Greicy Kelly trabalha para que uma aranha robô, capaz de mapear um ambiente perigoso para o ser humano, seja utilizada em benefício da sociedade.

Com inteligência artificial, ela detecta objetos e armazena os dados sobre o ambiente onde passar. “Muita gente se arrisca entrando em um ambiente totalmente desconhecido. Vejo pelo lado dos bombeiros, se mandarem um robô rapidamente ele pode trazer o que está lá”, explica a estudante, que sonha produzir pés e mãos robóticas. Mas para que o projeto consiga sair da academia e chegar ao mercado o caminho ainda é longo. Uma realidade brasileira que também se verifica no Estado de Goiás.

“O empresário ainda não conhece o potencial da mão de obra no mercado, muitas vezes querem o produto pronto”, explica a professora e mestre em Engenharia de Automação, Mirian Sandra Rosa Gusmão. Mas ela avalia que o mercado local tem perfil empreendedor, com editais e empresas que investem em pesquisa. “Há uma expectativa, apesar de os incentivos serem poucos em comparação com outras áreas”, avalia a vice-presidente da Confederação Brasileira de Robótica (criada em Goiânia), Shayene Karla Marques Correa.

“O cenário está bastante atrativo, em função dos recentes investimentos federais no ensino e da facilidade em desenvolver protótipos com peças e componentes da China”, argumenta o empresário e graduando de Engenharia Elétrica, Rauhe Abdulhamid, de 23 anos. Abdulhamid possui projeto na área de prospecção de petróleo em processo de patente com sensores de vibração de ondas mecânicas. “Meu projeto será essencial para a segurança das pessoas e para minimizar custos de projetos de pesquisa de petróleo.”

Para o estudante, se facilitada produção, a área industrial poderia se destacar mais e a área agrária poderia minimizar custos e tornar os processos mais inteligentes com tecnologia barata desenvolvida localmente. Porém, a universidade ainda não tem uma relação tão próxima com a indústria. “Acontece uma facilidade maior para produção acadêmica, mas para virar produto há uma dificuldade por conta da cultura do Brasil”, afirma o presidente da Liga de Inventores da UFG, Getúlio Junior, ao citar que o registro por patente pode demorar dez anos.

De acordo com a presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), Maria Zaira Turchi, a construção dessa cultura é feita por conjunto de ações desde apoio de pequenas e micro empresas para desenvolvimento de inovações até incentivos para que a pesquisa ocorra. “Esses produtos precisam ser patenteados, há necessidade de garantir a propriedade intelectual e até a indústria fica temerosa”, conclui sobre a interlocução e o processo que precisa ainda de muito aprimoramento.

 

Ferramentas estimulam aprendizado

(KA) 30 de setembro de 2013 (segunda-feira)

Com conceitos básicos que envolvem a Robótica, alunos de escolas particulares e públicas ganham incentivos para assimilar conceitos das aulas de física, química, matemática e outras. Iniciada no Brasil com a venda de kits educacionais da Lego, ferramentas mais baratas e acessíveis, como a plataforma arduino, estimulam a criatividade de estudante desde as primeiras fases do ensino e podem auxiliar no desenvolvimento tecnológico e na descoberta de novos talentos. No ensino público em Goiás, há iniciativas isoladas em colégios estaduais e municipais.

Em Goiânia, a Secretaria Municipal de Educação (SME) inicia ainda este ano o projeto Robótica Livre para levar aulas de robótica para alunos de dez escolas. A proposta, segundo professores, é de que montando e desmontando robôs, por exemplo, esses estudantes consigam interagir e se interessar mais pelas aulas. Por outro lado, o gosto pela inovação também pode fazer com que eles se interessem por áreas como engenharia e robótica como uma profissão.

Em duas escolas da capital, o projeto já está em teste. Para o professor da Escola Municipal Alice Coutinho, Kleiber Pinheiro Sales, utilizando sucatas a experiência tem despertado interesse e mais concentração nos 35 alunos do nono ano que participam da disciplina. “A tecnologia em favor do conhecimento, o momento pedagógico é esse”, explica ele ao dizer que muitos alunos além de mais questionadores também começaram a despertar o interesse em uma formação na área.

Fonte: O Popular