Qualidade, desafio do novo reitor

 

Orlando Afonso Valle do Amaral assumiu cargo na instituição ontem e promete novas contratações

Alfredo Mergulhão 07 de janeiro de 2014 (terça-feira)

Prédios foram construídos, laboratórios foram equipados, mais alunos estão matriculados. A Universidade Federal de Goiás (UFG) praticamente dobrou de tamanho nos últimos oito anos. O desafio agora imposto ao reitor recém empossado, Orlando Afonso Valle do Amaral, diz respeito às melhorias na qualidade de ensino, na contratação de servidores técnico-administrativos e na ampliação das políticas de assistência estudantil, cobradas pela comunidade universitária. A cerimônia de posse ocorreu na noite de ontem, no Centro de Cultura e Eventos da UFG.

“Toda a estrutura foi criada. O que falta agora é contratação de pessoal qualificado para fazer os cursos funcionarem com excelência”, avalia a coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior do Estado de Goiás (SINT-IFESgo), Fátima Reis.

Mesma percepção

A representação dos professores da universidade tem a mesma percepção. A presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg Sindicato), Rosana Borges, entende que os investimentos feitos nos últimos oito anos trouxeram “enormes benefícios para a universidade e para a sociedade, em geral”.

Rosana ressalta que, apesar dos números de professores e alunos terem dobrado, o mesmo não ocorreu com os técnico-administrativos. “Nossa categoria foi a que mais obteve conquistas do governo federal em 2012. Tivemos o maior reajuste e reivindicações históricas da categoria foram contempladas”, afirma.

Entre os alunos, o principal assunto em pauta para ser tratado com a nova gestão é sobre políticas de permanência. Membro do Diretório Central dos Estudantes (DCE), a acadêmica de Geografia, Déborah Evellyn Irineu Pereira, de 21 anos, considera que o crescimento da assistência estudantil na universidade não seguiu o mesmo ritmo do espaço físico da instituição. Ela defende que a UFG crie programas próprios de permanência dos estudantes.

“Ainda faltam vagas nas Casas do Estudante e nas creches. Também é preciso mais bolsas permanência, para garantir que estudantes de baixa renda não abandonem a faculdade, e de pesquisa e iniciação científica para garantir o desenvolvimento tecnológico e científico”, analisa Déborah. Para o representante da Associação de Pós-Graduandos (APG) da UFG, Paulo Vinícius Maskote, falta compromisso do novo reitor “com uma universidade mais popular”. “As medidas de assistência estudantil não abarcam a própria expansão promovida na instituição”, diz.

Qualidade

Apesar das cobranças e críticas de que a universidade cresceu sem preocupação com a qualidade, a UFG aparece como a instituição de ensino superior melhor avaliada em Goiás, tendo obtido ano passado nota 4 no Índice Geral dos Cursos (IGC), do Ministério da Educação (MEC). Os conceitos vão de 1 a 5. Esse indicador de qualidade considera os cursos de graduação, mestrado e doutorado das instituições.

Professor do Instituto de Física da UFG, Orlando Valle do Amaral enfrentará essas demandas depois de ter ajudado a coordenar o processo de expansão da universidade. Desde 2006 ele ocupava o cargo de pró-reitor de Administração e Finanças da instituição. Outro desafio será substituir o ex-reitor Edward Madureira Brasil, que conta com grande aprovação da comunidade universitária e soube aproveitar o aporte financeiro que as instituições públicas de ensino superior tiveram na última década.

Os recursos foram obtidos por meio do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que possibilitou a criação de cursos e a ampliação de vagas. O processo de adesão da instituição foi conturbado, com forte oposição de estudantes e servidores técnico-administrativos. O Conselho Universitário (Consuni) da UFG decidiu por aderir ao Reuni em sessão realizada na Justiça Federal depois que duas outras reuniões foram canceladas por protestos.

Edward deixa o cargo e deve seguir carreira política. Ele foi disputado por várias legendas partidárias e acabou se filiando ao PT, partido pelo qual deve lançar candidatura nas eleições deste ano. Depois de dois mandatos, o ex-reitor deixa o cargo descrito pelos representantes de professores, servidores técnico-administrativos e estudantes como um gestor hábil politicamente e aberto ao diálogo.

Vestibular

Orlando do Valle diz que entre as suas metas estão consolidar o processo de crescimento em curto espaço de tempo, concluir obras e consolidar cursos. “Teremos uma nova fase da expansão, com a criação do curso de Medicina em Jataí, de Arquitetura na cidade de Goiás e os câmpus de Aparecida de Goiânia e Cidade Ocidental”, afirmou. Segundo ele, também haverá mudanças no vestibular, com maior adesão ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Ele diz que a UFG tem aderido ao sistema de forma “cautelosa e debatida”. Explicou que primeiramente foram destinadas 20% das vagas, depois o porcentual subiu para 50%. “Um novo aumento será discutido nos órgãos colegiados da UFG. Há discordâncias sobre esse tema, mas minha posição pessoal é de que deve aumentar até chegar à sua integralidade”, diz ele.

 

Indicativo de greve aprovado para março

07 de janeiro de 2014 (terça-feira)

Orlando Valle do Amaral assume a gestão da Universidade Federal de Goiás (UFG) com um indicativo de greve para março aprovado pelos servidores técnico-administrativos. Além da luta salarial, a categoria é contrária à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) no gerenciamento do Hospital das Clínicas (HC). A entrada na EBSERH no HC ainda precisa passar pelo crivo do Conselho Universitário. E nessa instância certamente ocorrerá o primeiro grande embate que o novo reitor enfrentará.

A EBSERH é uma empresa pública de direito privado criada por lei federal em 2011 para administrar hospitais universitários. “É organização social como a que atua nos hospitais estaduais. A justificativa é a mesma: facilitar licitação, contratar via CLT e ceder os serviços públicos à terceiros”, afirma a coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior do Estado de Goiás, Fátima Reis.

“Essa medida tira o controle social que a universidade exerce sobre o HC”, afirma Paulo Vinícius Maskote, da Associação de Pós-Graduandos (APG) da UFG. Déborah Evellyn Irineu Pereira, do Diretório Central dos Estudantes (DCE), diz que o hospital “deixará de ser um espaço de formação acadêmica e de extensão universitária”.