PM monitora “rolezinhos” em shoppings de Goiânia

15 de janeiro de 2014.

 

O encontro de jovens em shoppings centers de Goiânia também tem preocupado as autoridades de segurança pública de Goiás. A Polícia Militar (PM) monitora, desde que aconteceu uma confusão envolvendo jovens no Buriti Shopping, eventos em redes sociais que reúnem inúmeros adolescentes em shoppings da capital. Na rede social Facebook um evento denominado “Rolezinho no Flamboyant” agendado para o próximo sábado (18), já possui 290 pessoas confirmadas. Segundo informou o porta voz da PM, tenente coronel Divino Alves, com o monitoramento já foi possível até mesmo impedir a realização de um dos encontros.

A ação foi realizada ainda em novembro, em Aparecida de Goiânia. Após buscas pela internet, pelo menos 50 adolescentes foram abordados por policiais durante uma atividade preventiva da PM. Os jovens combinavam possível realização de um arrastão. “Monitoramos à época e agora o controle é feito pelos batalhões mais próximos de cada shopping. Não temos uma central de monitoramento, mas os policiais ficam atentos”, diz.

Após as abordagens, os adolescentes foram encaminhados ao Conselho Tutelar. Coronel Alves ressalta que a maioria dos participantes deste tipo de evento é adolescente. “Eles se reúnem para comemorar qualquer coisa, mas acaba em confusão. Às vezes se cria um estardalhaço em cima dessa situação que não é nada anormal, gritante e preocupante. Isso deve gerar preocupação para as empresas e gestores das instituições.”

A PM destaca que o trabalho de monitoramento é realizado apenas no que se refere a manifestações. Outras ocorrências, como a registrada esse final de semana no Flamboyant Shopping, em que um homem armado foi preso após ser detido pelos seguranças do shopping, não são de responsabilidade da PM. “Esse tipo de controle deve ser feito pela administração local.”

Apartheid

Para o professor da faculdade de ciências sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG) Francisco Tavares, o conhecido rolezinho consiste em um grupo de jovens e estudantes de periferia, maioria negros que cultuam a ostentação, apesar de nem sempre terem dinheiro para comprar roupas de grife. “É a presença dessas pessoas em espaço de consumo.”

Ele ainda ressalta que, quando a polícia começa a monitorar esses movimentos, nada mais é que um sinal de apartheid – regime de segregação racial adotado por um longo período na África do Sul. “Essa repreensão atesta que existe signos de apartheid em nosso país.” Ele acredita que é uma repressão relacionada à cor da pele, classe social e periferia. “Já vi jovens de classe alta fazerem bagunça em shopping, mas nada acontecia porque eram de classe alta.”

Tavares assume que os encontros podem acabar em confusão, mas avalia que essa não é a questão. “A aglomeração de adolescentes de forma mundial implica em inconveniência. Eles são barulhentos e gritam muito, mas se toda vez que isso acontecesse houvesse essa repressão poderíamos discutir isso”, salientou.

O especialista lembra que acontecem tumultos em condomínios fechados, trotes em faculdades particulares, mas que tudo isso ainda não despertou monitoramento da PM. “O que varia na verdade é quanto à cor da pele e a origem social”, frisa. No Facebook o evento “Rolezinho no Flamboyant” foi criado em forma de protesto com relação às decisões judiciais paulistas que impedem o acontecimento dos encontros nos shoppings de São Paulo. Até as 19 horas de ontem 290 pessoas haviam confirmado presença no evento que traz a seguinte frase: “Garotadas do Brasil, uni-vos nos rolezinhos…” Alegam que existe crescente incômodo da elite com a presença de pobre em ambientes antes ocupados apenas pela “massa cheirosa”, seja em shoppings, praias ou aeroportos.