Laços rompidos

Não são raros os casos dos artistas sertanejos que se desvinculam de quem os lançou no início da carreira

Bruno Félix 09 de fevereiro de 2014 (domingo)

 

Rixas e competições entre duplas, escritórios, empresários e outras pessoas importantes do meio. Nem tudo no apadrinhamento sertanejo pode ser considerado um mar de rosas. Brigas e disputas judiciais também fazem parte desse universo, principalmente após a carreira do afilhado deslanchar.

A desvinculação de Paula Fernandes do escritório de Leonardo é um caso clássico. Foram vários capítulos até o desfecho favorável para a estrela mineira. Ela era contratada da empresa desde 11 de novembro de 2008, época em que não vendia milhões. Em agosto de 2012, a cantora conseguiu uma liminar para administrar a própria carreira. A decisão foi derrubada em seguida.

Depois disso, a artista entrou com um recurso e conseguiu que o contrato fosse mantido até o início de novembro do mesmo ano. A partir daí, a companhia Jeito de Mato, que é de propriedade dela, passou a tomar conta da vida profissional da cantora.

“Finalmente poderei administrar minhas próprias coisas, cumprir coisas que não fiz e poder ser eu mesma”, disse ela em coletiva de imprensa no ano passado em São Paulo no lançamento do seu CD e DVD Um Ser Amor – Multishow Ao Vivo. Apesar da forma que o processo caminhou na justiça, Paula Fernandes fez questão de agradecer pelos quatro anos que foi gerenciada pelo escritório Talismã. “Minha ligação com eles é de muito respeito. Inclusive com o Leonardo. Acho uma injustiça ficar colocando um contra o outro, a gente se respeita muito. Ele foi uma das pessoas mais importantes da minha carreira”, reconheceu.

Outro que deixou de ser agenciado por Leonardo foi o cantor Cristiano Araújo, em novembro de 2013. O casamento profissional durou pouco mais de um ano. No Festival Caldas Country, do ano passado, ele falou sobre o rompimento. “Foi tudo tranquilo. Foi tudo questão de entendermos que às vezes eles querem uma coisa, a gente outra. Então, ocorreu tudo amigavelmente, até porque minha amizade com o Leonardo vem desde quando eu sou criancinha”, disse o artista.

Nos bastidores foi ventilada a informação de que ele comprou o próprio passe. Em contrapartida, os até então afilhados do cantor, a dupla Zé Ricardo e Thiago, que eram do mesmo escritório de Cristiano Araújo, permanecem na Talismã. O apadrinhamento acabou.

Desligamento

Mais um rompimento que ganhou muita repercussão foi o de Henrique e Diego com o escritório de Fernando e Sorocaba, FS Produções Artísticas. A dupla ficou conhecida no cenário nacional após o empurrãozinho dos padrinhos. Eles participaram de várias apresentações juntos. O rompimento aconteceu às vésperas da gravação do primeiro DVD deles, em 2011.

“Nós não estávamos felizes com a forma com que estava sendo conduzida a nossa carreira. Nós preferimos apartar para seguir do jeito que a gente queria”, disse Diego, em entrevista coletiva antes do show.

A dupla fez questão de garantir que não houve briga durante o processo de separação profissional. “Hoje em dia, artistas são empresariados por outros artistas, por isso que às vezes choca esse tipo de coisa. Acaba que quando uma dupla quer trocar de empresário, dizem que fulano trocou de artista para outro. Não é assim. Ele trocou de escritório, como quando um jogador sai de um time para outro. A gente sofreu um pouco nos três primeiros meses do rompimento, na rua e entre os contratantes. As fãs acham que você deixou o artista na mão. A gente só optou ir para outro lado”, justifica Henrique.

Para o professor de Sociologia Rural, e doutorando em Geografia na UFG, Ricardo Fernandes a relação padrinho e afilhado, no universo da música sertaneja, é meramente comercial, com óbvios objetivos lucrativos. “Como a crise da indústria fonográfica, fomentada principalmente pela pirataria e pela internet, surgem e se multiplicam os escritórios especializados em agenciar cantores e lançá-los no mercado. Como? Principalmente apostando nas apresentações em programas de TV, nos grandes eventos e em shows. Isso se torna um negócio tão vantajoso que artistas consolidados no meio sertanejo transformam-se também em empresários da música”, analisa.

Fonte: O Popular