O “último dos românticos” ou a esquerda que a direita respeita

 

Enviado em 14/02/2014 às 20h43

Renato Dias

 

O socialismo ainda é uma possibilidade histórica, Dilma Rousseff não retirou o projeto de reforma agrária da gaveta, Marconi Perillo adota um estilo autoritário em sua atual gestão e Paulo Garcia é omisso. É o que diz o historiador marxista Reinaldo Pantaleão, hoje com 64 anos de idade, barba completamente branca e viúvo. Ele é um dos pré-candidatos do PSol [Partido Socialismo e Liberdade] ao Palácio das Esmeraldas.  O último dos românticos ou o homem de esquerda que a direita respeita e que os radicais também não atacam.

Simpatizante do velho PCB de 1922 [Partido Comunista Brasileiro] à  época da ditadura civil e militar (1964-1985), ele participou das revoltas estudantis de 1968, em Goiânia, após a morte do secundarista Edson Luís de Lima Souto, no Restaurante Calabouço, Rio de Janeiro, em 28 de março daquele ano que não terminou. Como aponta Zuenir Ventura. Ao lado de Euler Ivo Vieira e de Paulo Silva de Jesus,  teve de responder a um Inquérito Policial-Militar (IPM) no Colégio Pedro Gomes.

Em 1970, Pantaleão ingressou no curso de História da Universidade Federal de Goiás (UFG).  Radical, entrou em contato com as abordagens marxistas. Logo logo ingressou no MDB [Movimento Democrático Brasileiro] e passou a fazer oposição legal aos homens da caserna. Em 1976, já formado, resolveu disputar a eleição à Câmara Municipal de Goiânia. O seu discurso esquerdista não encontrou eco em uma sociedade ainda amordaçada.

Professor de História e membro da ala dos "Autênticos" do MDB, ele integrou o Movimento Pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, ao lado de João Divino Dornelles. Os exilados voltaram ao Brasil e os presos políticos saíram da cadeia, naquele turbulento ano de 1979. O seu novo projeto era construir, ao lado do barbudo metalúrgico do ABC Paulista Luiz Inácio Lula da Silva, um partido socialista, de trabalhadores e de massas. O PT surgiu em 10 de fevereiro de 1980.

Depois de anos e anos defendendo o socialismo científico, ele deixou a sigla e filiou-se ao PCdoB. Mas resolveu voltar atrás e retornou à estrela vermelha. Com o Escândalo do Mensalão, que abalou a república petista em 2005, decidiu ingressar no PSol. Em 2012, acabou ungido para disputar a eleição à Prefeitura de Goiânia e obteve expressiva votação: quase vinte mil votos. O partido elegeu um vereador, Elias Vaz, que migrou para a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva.

Governo federal

Crítico, ele ataca a presidente da República, a petista Dilma Rousseff, ex-guerrilheira. A inflação cresce, o governo federal não coíbe gastos exagerados com comissionados petistas e há um risco real de a crise econômica que corrói a Europa e os Estados Unidos já atingir a economia brasileira, frisa. Mas não é nada parecido com as épocas de José Sarney [1985-1989] e de Fernando Collor [1990-1992], conta. A reforma agrária não saiu do papel com Dilma, como aponta João Pedro Stédile, denuncia.

Segundo ele, o inquilino da Casa Verde, Marconi Perillo, realiza um governo autoritário, conservador e centralizador. "Trata mal os funcionários públicos", dispara. Há muito improviso em sua gestão, avalia. Nem de longe lembra o 'Plano Mauro Borges', de 1961 a 1964, e o planejamento da 'era Henrique Santillo', 1987 a 1990. Não possui planejamento estratégico a curto e médio prazos, insiste. Pantaleão condena as 'OS' [Organizações Sociais] na Saúde. É privatização, fuzila.

O historiador não poupa ataques ao prefeito de Goiânia, o médico Paulo Garcia, da ala light do PT: Articulação.  "Não tem coragem de tomar decisões, sobretudo em virtude dos compromissos políticos que ele faz", atira. A cidade está abandonada, desabafa. É um gestor muito ruim, registra. Ele denuncia supostas irregularidades na Comurg, além do excesso de comissionados. A imagem dele na Capital é negativa, atira. Um prefeito fraco, chuta de primeira o dirigente socialista.

Alianças

O PSol quer celebrar alianças com o trotskista PSTU [Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado] e o PCB [Partidão] já no primeiro turno. Com base em um programa de esquerda, frisa. O candidato da legenda à presidência da República é o senador Randolfe Rodrigues, avisa. A ex-deputada federal Luciana Genro (RS) deve ser a vice, observa. Ela é filha do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT). O PSol tem mais dois pré-candidatos: Cláudio Maia e Nabson Santana.

Fonte: Diário da Manhã