Cresce participação feminina na política

Mas está longe de estar equilibrada. O Brasil está na posição de número 120 no ranking da proporção de mulheres nos parlamentos, atrás de países islâmicos como Paquistão, Sudão e Emirados Árabes Unidos

sábado, 8 de março de 2014 | Por: Editoria

Flávia Guerra

Desde o início do século passado, quando o voto feminino foi instituído, consolidando a participação feminina nas eleições, a mulher vem conquistando espaço no cenário político brasileiro. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas últimas eleições, mais de 134 mil mulheres se candidataram aos cargos de prefeita e vereadora, o que representou um aumento de 9,56% em relação à eleição municipal de 2008. Para o cargo de vereador, as mulheres representaram 31,8% do total de candidatos. Para o cargo majoritário, 13,3%.

Do total de eleitos em 2012, 8.287 foram mulheres, ou seja, mais de 13%. O número comprova um crescimento em relação a 2008, quando 7.010 mulheres foram eleitas para os mesmos cargos, representando 12,2%. Em todo o Brasil, foram eleitas 657 candidatas para as prefeituras, 11,8% do total de eleitos. Para as câmaras municipais 7.630 mulheres foram eleitas, o equivalente a 13,3% dos escolhidos. No Dia Internacional da Mulher, algumas dessas representantes eleitas avaliam que há, sim, motivos para comemorar, embora muito ainda precise ser feito.

É o caso da prefeita da Cidade de Goiás, Selma Bastos (PT), a primeira mulher do município a se candidatar ao cargo. Ex-secretária de Educação da cidade, ela avalia que a oportunidade de participar da administração municipal, como auxiliar do primeiro escalão, abriu portas para o ingresso na vida pública. “Não tenho dúvida e, hoje, dou oportunidade a outras mulheres. Quem sabe isso desperte nelas o gosto pela política”, diz. Casada e mãe de dois filhos, Selma, professora por formação, acredita que chegou a um cargo público num momento já favorável à inclusão feminina.

De fato, muito se avançou desde a década de 30. “Se levarmos em conta o tempo em que ficamos banidas do processo político-eleitoral, já avançamos muito”, avalia a vereadora de Goiânia Tatiana Lemos (PC do B), pré-candidata a deputada federal e filha da deputada estadual Isaura Lemos (PC do B), militante do movimento estudantil desde os 14 anos. “Minha mãe me mostrou que a mulher não só pode, mas deve participar da política e fazer a diferença”, conta, questionada sobre o que a motivou a ingressar num meio essencialmente masculino. Para ela, apesar do avanço, ainda existe desequilíbrio de oportunidades entre os sexos.

O fator cultural é apontado como uma barreira para um avanço ainda maior. “Ainda vivemos numa sociedade machista, que delega à mulher uma série de responsabilidades”, opina a vereadora Cristina Lopes (PSDB), fisioterapeuta, que deu os primeiros passos na política no movimento estudantil, mas que entrou de cabeça na política após vivenciar limitações legais na luta contra a violência doméstica. “Eu presenciei uma série de limitações em ações que queríamos fazer, mas a legislação não permitia. Foi uma forma de participar e mudar essa realidade.” Para a tucana, falta unidade até mesmo entre as mulheres. “É preciso que a gente se una, para rompermos com alguns limites”, diz.

Cotas

A participação feminina nos cargos proporcionais – deputado federal, estadual e distrital e vereador – é assegurada pela Lei das Eleições (Lei n° 9.504/1997), que, estipula o preenchimento das candidaturas com o mínimo de 30% e o máximo de 70% de cada sexo. Isto faz com que os partidos políticos estimulem a participação feminina nas eleições. No entanto, nem sempre as candidaturas significam um número grande de votos. “Os partidos precisam enxergar as mulheres como protagonistas e não apenas como recheio”, critica o mestre em ciência política Carlos Ugo Santander, professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Para Santander, uma série de elementos restringe a participação feminina nas disputas eleitorais e em outros espaços da sociedade. “Até as cerimônias, os protocolos, são pensados para atores masculinos.” Além das cotas, o professor enumera medidas como alterações na legislação e uma política de aproximação entre as mulheres e os partidos políticos. “É necessário criar condições para fortalecer os blocos femininos. Hoje, a oferta eleitoral é limitada, não só em gênero, mas também em etnia”, opina.

De acordo com um estudo desenvolvido em 2012 pela União Interparlamentar, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil está na posição de número 120 no ranking da proporção de mulheres nos parlamentos, atrás de países islâmicos como Paquistão, Sudão e Emirados Árabes Unidos. Para Santander, o estímulo à participação feminina passa por ações anteriores à filiação. “As mulheres precisam ser estimuladas desde as lutas do movimento estudantil, movimento sindical, atuação social em determinada comunidade”, avalia. O reflexo na disposição em concorrer será inevitável.

O avanço feminino na política passa pela consciência sobre o papel desempenhado na sociedade. “A mulher tem de entender como seu papel é importante e se interessar mais pela política”, opina a vereadora Célia Valadão (PMDB). De acordo com Santander, essa conscientização passa pela adoção de políticas públicas que favoreçam o desempenho de múltiplas funções. “É preciso educação, oportunidade de formação de qualidade, condições para deixar o filho numa creche de qualidade”, esclarece.

Fonte: O Hoje