Pesquisador diz que movimento no Brasil é mais fragmentado

16 de março de 2014 (domingo)

Embora não seja mais uma característica delimitadora do hip hop, em sua origem como movimento social, lá na década de 1970, nas comunidades afro-americanas, latinas e jamaicanas de Nova York, principalmente no bairro do Bronx, o estilo surgiu dos encontros que uniam os DJs que mixavam o som, os grafiteiros que exibiam sua arte nos muros, os MCs (mestres de cerimônias) que improvisavam rimas em cima das batidas e os B. Boys que dançavam o break, a dança de rua. Percebendo que ali nascia uma novidade, o DJ Afrika Bambaataa passou a classificar a união destes quatro elementos como hip hop, se tornando o pai do estilo, ele que já mandava suas batidas influenciadas pelo funk e pela soul music.

No Brasil, o hip hop chega nos anos 1980, aportando na cidade de São Paulo, nos tradicionais encontros na Rua 24 de Maio e no Metrô São Bento, de onde saíram os artistas pioneiros do movimento nacional como Thaíde e Racionais MC’s. De acordo com o pesquisador do tema e professor do curso de Dança da Universidade Federal de Goiás (UFG) Rafael Guarato, a união dos quatro elementos nunca teve peso ou uma representatividade muito grande na manifestação do estilo no País. “O que temos é um discurso hegemônico de que tem que ser assim. Mas no Brasil isso não existiu de fato. Aqui o lance sempre foi mais fragmentado. Nas músicas de hoje já não cabe mais o break, por exemplo. As batidas estão mais cadenciadas, mais lentas, não tem mais aquele peso da influência do funk dos anos 1970”, explica.

Isso se dá porque, de acordo com o pesquisador, que publicou um estudo sobre o hip hop no trabalho História da Dança: Um Olhar Sobre a Cultura Popular Urbana, pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), “cada localidade vivencia o hip hop de uma forma específica”. Ele exemplifica dizendo que, em relação à dança, o break surgido em Goiânia, Uberlândia e interior paulista na década de 1980 foi fortemente pautado pelos loops, os giros, algo bem diferente do que se usava nos Estados Unidos e na cidade de São Paulo e em Brasília na década seguinte, onde os adeptos do hip hop dançavam algo mais suingado.

Identidade

Entretanto, mesmo com estas pequenas variações, para Guarato, em sua essência o hip hop não é localizado. “Acho interessante que a massificação do hip hop no mundo todo só foi possível pela identificação social com o movimento. Existe uma correspondência de identificação dos membros de periferia pelo gênero, pela musicalidade, pelo padrão de estereótipo e até pelo biotipo. Se pegarmos uma foto de um grupo de rap da periferia de Goiânia e uma da Coreia do Sul, as roupas são as mesmas. É como se fosse uma seita”, brinca.

Mas no que diz respeito às letras, cada rapper rima a realidade em que vive, as mazelas que afligem a sua comunidade, os problemas sociais que o cercam, o que faz com que cada grupo tenha sua particularidade, muito embora os temas seja bastante parecidos. Quanto ao estilo musical, principalmente em relação ao MC, ele explica que o estilo de rap que vingou no Brasil foi o de contestação, o rap crítico.

Fonte: O Popular