Ameaça de nova doença

Autoridades temem que mosquito da dengue espalhe febre que afeta articulações por até um ano

 

Malu Longo e Vandré Abreu 25 de março de 2014 (terça-feira)

O aumento de casos da febre chikungunya na região do Caribe, na América Central, deixou em alerta as autoridades brasileiras de saúde. A doença é provocada pelo mesmo mosquito que causa a dengue, o Aedes aegypti, e também pelo Aedes albopictus, que também se reproduz em água parada e limpa. A previsão é de que a doença avançará e chegará até o Brasil, ameaça agravada pela grande circulação de turistas estrangeiros que devem ser atraídos pela Copa do Mundo. A febre preocupa pelos riscos de que ela oferece de se transformar em epidemia, como já aconteceu com a dengue em vários Estados brasileiros.

Coordenador de Controle de Dengue e Febre Amarela da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Murilo do Carmo Silva, explica que em Goiás já há um alerta sobre a doença mesmo antes do alerta emitido pelo Ministério da Saúde, mas que isso é aumentado com a ação federal e a Copa do Mundo. “Estamos propícios porque temos vários fatores que contribuem com a doença, como os vetores, pessoas suscetíveis e outras que podem trazer o vírus”, explica.

Professor no Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG), João Bosco Siqueira Júnior explica que a doença pode causar dores nas articulações – principalmente mãos e pés – por até um ano e meio depois da infecção, impedindo até mesmo a escrita. A doença, no entanto, tem baixa taxa de mortalidade e seus sintomas são parecidos com o da dengue.

O Ministério da Saúde (MS) já preparou um manual para o combate da chikungunya, prevista para chegar ao Brasil com a vinda de turistas para a Copa, em junho. Desde 2011 o MS está em alerta para esta. Segundo o professor João Bosco, três casos do vírus da febre chikungunya foram identificados no Brasil, mas as transmissões podem ter ocorrido na Ásia. Dois homens - um carioca de 41 anos e outro paulista de 55 - voltaram da Indonésia contaminados. Uma mulher paulista, de 25 anos, voltou da Índia. As pessoas infectadas costumam sentir fortes dores na cabeça, nos músculos e nas articulações, além de febre alta e prostração.

“É algo também muito desafiador. Participei de uma reunião em 2011 realizada pelo MS para tratar do assunto, para a qual foram chamadas as sociedades não apenas de clínica médica e de epidemiologia, mas também de reumatologia e ortopedia. Nunca tivemos essa doença antes”, afirma o pesquisador do IPTSP.

Existiam registros de chikungunya na Ásia, mas a constatação de transmissão em ilhas do Caribe levou o Ministério da Saúde a fazer um comunicado público, em fevereiro, orientando as secretarias estaduais e municipais de Saúde para encaminhar casos suspeitos da doença para o Instituto Evandro Chagas (IEC), laboratório de referência nacional em epidemiologia. A determinação aos profissionais de saúde é para que a comunicação aos órgãos de Saúde seja feita em até 24 horas após a suspeita. O registro pode ser feito às secretarias estaduais, por telefone ou mesmo via e-mail.

De acordo com Silva, o alerta tem a intenção de identificar os casos da doença, para fazer uma detecção precoce, já que se trata de um vírus novo “para todo mundo”. “Os laboratórios centrais estaduais ainda não fazem esse isolamento do vírus e não sabemos qual a melhor maneira de identificá-los”, conta o coordenador, explicando que este serviço é feito pelo laboratório nacional, em que profissionais foram até o Caribe para avaliar a melhor forma de detecção.

Também não há informações em Goiás se a chikungunya é causada por apenas um tipo de vírus e a forma de tratamento. Em relação a dengue, por exemplo, são quatro tipos, o que faz com que um mesmo paciente possa ser infectado quatro vezes e o tratamento é feito através de hidratação. Silva explica que não há certeza se este tratamento prejudicaria o paciente no caso da doença ser chikungunya, mas, a princípio, não há este problema.

Fonte: O Popular