“Os pré-candidatos não podem ignorar as Redes”

O professor Goiamérico Felício, que integra o corpo docente do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Goiás (UFG), falou com a reportagem da Tribuna do Planalto e analisou alguns aspectos em relação a situação dos pré-candidatos nas redes sociais.

Tribuna do Planalto – Você acredita que os pré-candidatos ao governo usam as redes sociais da maneira correta?

Goiamérico Felício – Da era do livro passamos para a era do rádio e da televisão, que prometeram fazer o network, integrando todos os seres dispersos em diferentes espaços à frente destes poderosos dispositivos que emanam, a partir das ondas do rádio e das imagens da televisão, um controle sobre os saberes e as subjetividades. Passamos da condição de seres de cultura para seres da cibercultura. Povoamos a cultura da mídia, que assume um papel até então inusitado, pois a sua insurgência solapa as chamadas culturas elevadas. As formas semióticas, visuais e verbais, suplantam e chegam mesmo a, em alguns casos, a substituírem a cultura livresca. Com isso, novas exigências, em termos de agenciamentos, dominam exigindo conhecimentos da ordem das avançadas tecnologias de comunicação. As novas linguagens exigem novos conhecimentos para a apreensão e interpretação das mensagens verbicovisuais. Assim, novas experienciações e subjetividades são incorporadas em sujeitos que não mais distinguem aquilo que é da ordem do real ou de imagens, vale dizer, da ordem do virtual. Nesse sentido, como fazer o controle social, promover a difusão de programas de partidos, intenções de candidatos para assim se conquistar o eleitor pelo cabresto do voto? Os pré-candidatos, tampouco suas equipes, têm conhecimento suficiente destes dispositivos para fazer deles uma plataforma, um palaque eletrônico-digital. Lembremos que a mudança de dispositivos se dá a partir de novas concepções de linguagem.

 

Há, hoje, algum pré-candidato com uma boa equipe online?

Não tenho elementos para fazer afirmações positivas ou negativas. O fato é que os Diretórios têm que buscar entre os melhores jovens que uma boa faculdade de comunicação, principalmente publicidade, têm formado. Mas esses jovens são imaturos, têm domínio das máquinas que operam como engenheiros do nosso tempo. As mensagens devem ser constituídas por conteúdos relevantes. Não basta somente apresentar novos formatos.

 

Por que os governadoriáveis ainda não entraram de cabeça das redes sociais?

Apesar de vivermos em meio a um ambiente virtual, em que a internet ainda não tem Leis, regulações arraigadas, eles não entraram de vez pelos nós da Rede pelo simples fato de que não sabem como fazê-lo. Lá, as imagens ficam expostas demais e os seus discursos falaciosos podem ser facilmente desmascarados.

 

A internet é um termômetro da popularidade do candidato?

Em termos. O grande público ainda que já esteja navegando, com dispositivos fixos e móveis, ainda sente certa carência em estar face a face com os candidatos. A interação mediada pelo computador é importante, mas ela ainda tem função complementar.

 

Uma campanha no ambiente digital será decisiva?

Uma campanha bem criativa, nos moldes da utilizada por Barack Obama em sua primeira eleição, poderia fazer a diferença. Mas observemos que a estratégia utilizada por Obama funcionou muito bem na primeira eleição, mas não cumpriu os mesmos efeitos no segundo pleito presidencial americano. Resta saber: quem terá competência para tal? Depois que os candidatos sagraram-se pelos votos e assumiram o poder, seus asseclas ignoraram totalmente as estratégias de marketing e de comunicação.

 

É possível ganhar as eleições sem ter, também, uma campanha digital?

Não creio que os pré-candidatos possam ignorar as redes sociais, a não ser nas comunidades bem pequenas, onde a presença física dos candidatos é uma constante. Mas, para uma eleição de governador, deve-se contar com todas as mídias possíveis. E, ressalte-se: respeitando os formatos que as redes digitais propiciam e também as suas linguagens, que são bem específicas.

 

Quais os perigos que a internet pode trazer aos candidatos?

O perigo da exposição contínua. Da guerrilha que viceja nas redes (e que já está em curso) com as difamações, os ataques, a desinformação. Em publicidade, temos uma prédica: “a melhor maneira de aniquilar, tirar um mal produto do mercado é fazer uma boa propaganda em torno a ele”. As eleições hoje mudaram o escopo. Os candidatos nem apresentam mais propostas que demonstram compromisso com os seus eleitores. Eles são vendidos como sabonetes, vêm para ser consumidos. Pena que um produto que não corresponde à promessas que contêm as suas embalagens e que são vendidos com uma propaganda mentirosa o consumidor tem como recorrer ao Procon, aos juizados de pequenas causas, o Conar. Já o produto candidato não tem como ser devolvido. O nosso modelo de Democracia não leva em conta o desvoto. Aí o produto que faz mal continua fazendo os seus efeitos pelo menos por quatro anos.

Fonte: Tribuna do Planalto