Um festival sem palavras

Começa hoje (27) e vai até o próximo dia 30, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, a 6ª edição do Goyaz Festival, com atrações instrumentais de peso

 

Adalto Alves, quinta-feira, 27 de março de 2014 | Por: Editoria

A música instrumental. As duas palavras juntas causam um rebuliço danado. Há quem diga que a primeira palavra resume tudo. Música. Basta. Chega. Ninguém diz que cantores e cantoras fazem música cantada. Por que o jazz não é chamado de música instrumental americana? Sem contar que instrumental tem significados alheios à música. Enfim, o papo vai longe.

O melhor ambiente para desenvolvê-lo, com amigos e conhecidos, é o Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON), que recebe, de hoje a domingo, a sexta edição do Goyaz Festival. A Mostra de Música, bem, Instrumental agrega sete atrações. A entrada franca é música para os ouvidos. Mas, atenção: os convites devem ser retirados, com antecedência (em horário comercial), nos seguintes pontos: Unimed Corretora, Ateliê do Grão, Musical Roriz, Bar Glória e Vila Cultural. Exceção para a Orquestra Filarmônica de Goiás (OFG), que se apresenta no último dia (30). Neste caso, é só chegar e entrar.

Tem mais uma coisa: os convites estão disponíveis para cada dia da mostra. Não adianta querer entradas para todas as noites de uma só vez. Tem de voltar aos pontos de distribuição todos os dias. Outra coisa. Os convites têm de ser trocados na bilheteria do Oscar Niemeyer, das 18 horas às 20h45. Mão de obra, hein? Ah, tem mais um trem. Esgotado o limite de três mil espectadores, a bilheteria fecha. Se os convites não atingirem a marca, o restante será distribuído no local.

Menores entram acompanhados de pais ou responsáveis, sem direito a bebida alcoólica. O Palácio da Música, onde os shows acontecem, terá serviço de bar completo. Uma equipe de garçons estará a postos para atender as mesas distribuídas no palácio. Comes e bebes fazem parte da tradição das grandes casas do ramo. Se a conversa embriagada, o tinir dos copos e os chamados insistentes a garçons distantes atravessarem o ritmo da música é porque os artistas não conseguiram prender a atenção dos ouvintes.

Sim, sim. Plateias que se dão ao trabalho de acompanhar um festival de música instrumental são educadas e sabem que um pouco de silêncio e concentração são necessários diante de apresentações que exploram a sensibilidade aliada a técnicas de apuro lapidado, que vão além do ramerrão e do tatibitate. Se bem que, em edições passadas, o entusiasmo com certos desempenhos levou o público a se manifestar como num show de rock. Hamilton de Holanda e Marco Pereira são exemplos que o digam.

Hoje, o primeiro dia do festival conta com uma atração de peso. O percussionista Naná Vasconcelos atingiu uma etapa da existência em que tudo o que ele toca vira música, assim como o bruxo Hermeto Pascoal. Mais do que músicos, eles são entidades que vibram numa dimensão paralela. Claro, nada disso tem razão científica. A questão mais profunda abala a pele. Naná é cidadão do mundo e seu passaporte é uma forma de expressão que transcende rótulos mesquinhos.

Naná vem acompanhado de Lui Coimbra, que utiliza um arsenal de instrumentos de cordas para harmonizar com os recursos percussivos que o pernambucano tira de simples deslocamentos no ar, na atmosfera, na energia vital. Antes, o Quarteto Só Alegria, formado por Celsinho Silva (percussão), Eduardo Neves (flauta, saxofone), Luís Barcelos (bandolim) e Rogério Caetano (violão de 7 cordas), mistura samba, choro, valsa, baião, música latina e africana, com o sentimento que lhe dá o nome.

Amanhã, o Makima Trio reúne Kiko Continentino (piano, teclados), Marcelo Maia (baixo) e Renato Massa (bateria) com a intenção de privilegiar o suingue e o balanço no lugar do virtuosismo. Marcelo é o representante goiano, entre o mineiro Kiko e o carioca Renato, embora tenha vindo de Brasília. O CD Fronteiras, do Makima Trio, conta com participação de Carlos Malta (sopros) e Ricardo Silveira (guitarra).

Os elos do Trio Corrente, Fábio Torres (piano, fender Rhodes), Paulo Paulelli (baixo elétrico e acústico) e Edu Ribeiro (bateria), chegam com a moral de quem venceu o Grammy 2014, na categoria de Melhor Álbum de Jazz Latino, com o disco Song for Maura, ao lado do clarinetista Paquito D’Rivera. Pô, depois dessa, qualquer acréscimo será desnecessário. A única recomendação é ouvir as músicas dos Trios.

Fabiano Chagas (guitarra), no sábado, acompanhado por Foka (flauta, saxofone), Bororó (baixo), Ricardo de Pina (bateria) e Diones Correntino (piano, teclados), desfila as faixas de seu primeiro disco, Universo Híbrido, lançado em 2013. Fabiano integrou a Banda Pequi, conduzida por Jarbas Cavendish, é professor da Escola de Música e Artes Cênicas (Emac) da Universidade Federal de Goiás (UFG), e vai gravar seu segundo CD em Nova York.

Para fechar o sábado, uma ousadia. Um duo de sanfoneiros ou acordeonistas, como preferir. Toninho Ferragutti e Alessandro Kramer, apelidado Bebê Kramer, terçam as teclas desde que participaram de uma mostra carioca em 2011. O paulista e o gaúcho, respectivamente, ultrapassaram fronteiras regionais e universais com seus instrumentos. Toninho acompanha grandes estrelas faz tempo. Sua aventura mais recente envolve um quinteto de cordas. Com Kramer, Toninho gravou Como Manda o Figurino em 2012.

O encerramento do festival será na manhã de domingo. Às 11 horas, a Orquestra Filarmônica de Goiás (OFG) leva para o Palácio da Música dois convidados: o regente britânico Timothy Henty e, como solista, o pianista canadense Ian Parker. No programa do concerto da série Concertos para a Juventude estão peças de Tchaikovsky, Villa-Lobos e Brahms.

Fonte: O Popular