A atuação de Mauro Borges no golpe de 64

Documentos mostram que governador goiano enviou armas para os golpistas e tinha até um plano detalhado para chegar à presidência da república em 1965; para pesquisadora, ele queria ser o “herdeiro civil do golpe”

Caio Henrique Salgado 29 de março de 2014 (sábado)

“Ele foi um apoiador de primeira hora. Ele faz questão de dizer isso. Ele se juntou a outros governadores para escolher o nome do Castello Branco como presidente. De uma hora para a outra, ele é afastado. Eu acho que ele acreditava na boa relação dele com o Castello e ele achou que não teria esse problema.” Tereza Cristina Favaro, assistente social e doutoranda em história pela UFG

Quando escreveu, no dia 13 de maio de 1964, ao primeiro presidente da ditadura militar, marechal Castello Branco, para tentar provar o alinhamento do Palácio das Esmeraldas com o regime que se iniciava, o governador Mauro Borges terminou sua defesa com as seguintes palavras: “Vossa Excelência removerá por certo as injúrias e, enfim, os menosprezos de toda ordem adredemente (intencionalmente) preparados contra o espírito da Revolução da qual – permita-me a imodéstia – fui parte integrante”.

Por conta de uma série de interferências políticas capitaneadas pela União Democrática Nacional (UDN), que se aliara à chamada “linha-dura”, a carta não teve o efeito esperado e, assim como uma série de ações posteriores, não foi suficiente para salvar o mandato do governador goiano. Ele foi deposto pouco mais de seis meses depois, em 26 de novembro de 1964. A correspondência, com 11 páginas e anexo com as reproduções de 43 manchetes de jornais, faz parte de documentos obtidos com exclusividade pelo POPULAR e que detalham as ações de Mauro a favor do golpe.

O material foi levantado pela assistente social Tereza Cristina Pires Favaro, doutoranda no programa de pós-graduação da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás (UFG), e mostra, além do apoio, que o governador de Goiás possuía, após o golpe, um plano com 22 páginas que detalhava passos para ele se eleger presidente da República em 1965. Confiante no caráter transitório do regime ele queria, de acordo com a análise da pesquisadora, ser o “herdeiro civil do golpe” (leia reportagem na página 3). Apesar de militar, ele havia sido eleito como civil.

Doados pelo próprio Mauro no fim de sua vida – ele morreu em 29 de março do ano passado, aos 93 anos, em decorrência de grave pneumonia –, os documentos fazem parte do Fundo Mauro Borges. O acervo pertence ao Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central (IPEHBC), da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).

Os documentos hoje guardados pelo IPEHBC teriam sido tirados do Palácio das Esmeraldas naquele 26 de novembro por Mauro e guardados na fazenda Congonhas, de sua propriedade, localizada em Corumbá de Goiás. “Já se passaram 50 anos e não tinha sentido guardarmos. Muita coisa foi mantida em segredo porque ele estava sofrendo processos (movidos pela ditadura). Por isso, ele mesmo resolveu doar”, diz o filho do governador, Ubiratan Teixeira.

Entre os pertences pessoais de Mauro também foi encontrada uma correspondência enviada pelo presidente do Senado e opositor a Jango, Auro Moura Andrade, agradecendo o envio, pelo governo de Goiás, de armas e munições para a defesa do Congresso Nacional durante o golpe, caso fosse necessário.

O governador possuía ainda uma lista com 108 nomes de funcionários que foram demitidos pelo governo estadual após o Ato Institucional número 1 (AI-1), de 9 de abril de 1964 . “Apressei-me a constituir uma comissão para proceder as investigações sumárias”, escreveu Mauro na mesma carta entregue a Castello Branco.

Fonte: O Popular