Assunto ainda gera controvérsia

Ligação entre a violência em geral e drogas é tema polêmico. Para delegado da Denarc, correlação é apenas uma suposição associação entre violência e droga é controversa. O delegado de Repressão a Narcóticos (Denarc), Odair Soares, considera uma suposição. Para Leandro Piquet, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e coordenador do Programa de Pesquisa em Segurança e Criminalidade, a presença do crack tem uma correlação muito grande com o aumento da criminalidade nas cidades brasileiras. “O crack cria uma economia própria, uma vez que o usuário precisa ter renda para adquirir a droga, que tem um efeito muito rápido na desestruturação da vida dele.”

Muitos viciados perdem rapidamente os vínculos familiares e passam a morar na rua, observa o psiquiatra Sérgio Nunes, coordenador de Saúde da capital. Essa situação é visível em Goiânia. Em 2010 e 2011 a população de rua oscilava entre 300 e 400 pessoas; em 2012 saltou para a faixa de 500 a 600 pessoas, de acordo com a Secretaria Municipal de Ação Social (Semas). Nessa situação, eles ficam mais vulneráveis, e se envolvem com o crime, especialmente com o roubo, explica Piquet. Como a droga influencia no nível de consciência dessas pessoas, não são raros os desfechos imprevisíveis, como os latrocínios.

Para se ter uma ideia do avanço desse tipo de crime, em 2011 foram registrados 12 latrocínios em Goiânia; em 2012, 11; e no ano passado, 28 pessoas perderam a vida durante assaltos. A média de latrocínio passou de 2,3 por mês, no ano passado, para 4 em janeiro e fevereiro de 2014

A socióloga da Universidade Federal de Goiás (UFG) Dalva Borges não atribui ao aumento do consumo do crack o avanço da violência. “Não nos percentuais que a polícia trabalha. É uma forma de se eximir da investigação”, observa a pesquisadora goiana, que coordena projetos de pesquisa sobre Violência Urbana no Estado de Goiás e Violência Urbana.

A pesquisadora Michele Cunha Franco, doutoranda do curso de Sociologia da UFG, analisou se o uso e o tráfico do crack aumentou a incidência de crimes contra o patrimônio em Goiânia. Em sua pesquisa, ela não conseguiu comprovar a correlação, todavia, não acha a associação ilógica. “O tráfico de droga é um fator muito importante da violência no País.”

O tráfico de droga traz, em sua dinâmica, a violência. “É violento e gera violência porque os conflitos que ocorrem no mercado ilegal de drogas são resolvidos por meio da violência”, explica Michele. No caso do crack, o tráfico tem outros componentes que aumentam essa violência; por se tratar de uma droga barata, tem um apelo muito forte em uma camada da população mais pobre e mais exposta à agressão, seja do traficante ou da polícia. Além disso, diferente da cocaína, o crack é comercializado na rua e em diversas transações por dia.

A droga atua como vetor de distribuição de violência no País. Essa expansão não se deu apenas entre os Estados, mas também dentro dos limites de Goiânia e mudou o padrão do crime. Apesar de os homicídios ainda estarem concentrados nas regiões periféricas da cidade, houve uma pulverização dos demais crimes, que chegaram aos setores nobres da capital. A pesquisadora Najla Fratari detectou, de 2008 a 2011, o crescimento da violência em três bairros centrais da capital: Parque Amazônia, Jardim América e Pedro Ludovico, que passaram a compor a lista das dez áreas mais violentas de Goiânia. Essa mudança é resultado de conflitos entre traficantes pelo comando das chamadas bocas de fumo.

O crime contra o patrimônio, roubo a residências, carros e pessoas, também mudou seu padrão: houve uma redução nos furtos, que passaram de 29 mil, em 2011, para 22 mil, em 2013, e um aumento do roubo, de 13 mil registros, em 2011, para 19 mil, em 2013.

Ligação com outros crimes

A violência que ronda o tráfico não atinge apenas usuários e traficantes; alcança toda sociedade porque esse comércio tem conexões com outros tipos de crimes. “O tráfico de droga envolve outras atividades violentas”, diz a pesquisadora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Michele Cunha Franco.

O mercado negro de armas é uma das derivação do tráfico de drogas. Geralmente, pessoas que aderem ao tráfico passam a andar armada, seja para manter o território, garantir posição na hierarquia ou se defender em caso de conflito.

As apreensões de armas ilegais no Estado evoluem na mesma proporção que o tráfico de droga, afirma o coronel Divino Alves, porta-voz da Policia Militar de Goiás: passou de 2.625, em 2012, para 3.229, em 2013. Só em janeiro e fevereiro deste ano, 674 armas foram apreendidas.

O fácil acesso à arma é outro problema da violência, aponta a socióloga Najla Frattari. “Essa é uma das causas do aumento da violência.” E de acordo com a pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), para adquirir armas os bandidos contam com a conivência da policia. A arma é conseguida por meio do contrabando ou em negociações com os próprios policiais. Em ambos os casos, é necessária a facilitação por parte da polícia, observa Najla.

A afirmação foi contestada pelo coronel Divino Alves, que afirmou desconhecer a participação de policiais em negociações com armas. Ele aponta como principal porta de entrada de armas no País as fronteiras nacionais. “As fronteiras são desguarnecidas.” O controle sobre as armas não é possível, na opinião do coronel, devido à leniência com o porte ilegal de arma. “Pagou fiança, está livre.”

Fonte: O Popular