Tradição e feminilidade

Evento Ginga Menina reúne mulheres capoeiristas para promover a prática e debater a participação nas rodas de capoeira

 Erika Lettry 10 de abril de 2014 (quinta-feira)

Com uma cadência mais lenta e movimentos gingados feitos no solo, a capoeira Angola é tida como uma das mais fiéis à tradição dos negros escravos no Brasil. É esta vertente que ganha ênfase no evento Ginga Menina, que ocorre de hoje a sábado em diferentes espaços em Goiânia e promete reunir mulheres capoeiristas de renome como a Mestre Janja e Nani de João Pequeno, ambas de Salvador, além de atrações culturais como a cantora paulistana Fabiana Cozza, que fará uma homenagem à eterna Clara Nunes.

O propósito da iniciativa, que ocorre desde 2012, é promover a prática como manifestação negra e, ao mesmo tempo, ampliar o debate e a participação das mulheres nas rodas de capoeira. Coordenadora do evento, a professora de dança Renata Lima afirma que o Ginga Mulher nasceu de um movimento de mulheres capoeiristas que queriam abrir a discussão sobre gênero. “A capoeira ainda é majoritariamente masculina. Queríamos chamar a atenção para a questão da mulher em geral, mas também para o corpo e a cultura negra”, explica.

Ao longo de três dias serão realizadas palestras, oficinas, vivências e apresentações culturais envolvendo capoeira, dança, teatro e contação de histórias. A abertura está marcada para hoje, às 19 horas, no Teatro do IFG, quando o Núcleo Coletivo 22 apresenta o espetáculo teatral Rubro. O Coletivo 22 é original de Campinas, São Paulo, e é representado em Goiânia pelo projeto de pesquisa e extensão da UFG que reúne estudantes, músicos e professores de dança e teatro.

O espetáculo, por sua vez, é um solo de dança interpretado pelo bailarino Wellington Campos. A inspiração para a coreografia foram as deusas da mitologia iorubá. Em Rubro, o corpo de um homem recebe o desafio de dançar o ser mulher Oxum, Oya, Nanã e Yemanjá, imerso em água, vento, lama e sangue.

O Núcleo Coletivo 22 também é responsável pela vivência O Feminino e sua Representação na Mitologia dos Orixás, que acontece sábado, das 9 às 12 horas, no Centro de Dança Lenir Miguel de Lima, no Câmpus Samambaia. À noite a Mestre Janja ministra palestra na Faculdade de Educação da UFG, na Praça Universitária, sobre Capoeira e Educação para a Diversidade.

No sábado pela manhã estão programadas ainda no Centro de Dança Lenir Miguel de Lima outras vivências para capoeiristas e professores, que ocorrem paralelamente ao Ginga Erê, voltado para crianças a partir de 4 anos. Mestre Janja, a professora Nani de João Pequeno (neta do Mestre João Pequeno, um dos mais importantes da capoeira no Brasil) e os integrantes do Núcleo Coletivo 22 comandam as atividades.

Também no sábado o Ginga Menina trará a peça De lá pra cá Nzinga vem Gingar, que é resultado da experimentação da capoeira Angola como preparação corporal para o ator. A peça aborda a cultura africana e afrobrasileira por meio da história de Nzinga (1581-1663), que chefiou a resistência contra a dominação dos portugueses. Depois ocorre uma roda de capoeira com a coordenação da Mestre Janja e, para finalizar o evento, a performance Daquilo que Sou Feita, do Núcleo Coletivo 22, que leva aos palcos a musicalidade das Caixeiras do Divino Espírito Santo do Maranhão.

Fonte: O Popular