MAG recebe exposições de Siron Franco e Selma Parreira

Goianos e visitantes terão até o dia 1º de junho para apreciarem as exposições de dois grandes artistas locais

quinta-feira, 24 de abril de 2014 | Por: Luiz Redação
O Museu de Arte de Goiânia (MAG) realiza, hoje, às 20h, o vernissage das exposições Siron no MAG e A Dor e os Segredos, que acontecem paralelamente nas salas Reinaldo Barbalho e Amaury Menezes. A visitação será de 25 de abril a 1º de junho.

As 20 obras de Siron Franco foram adquiridas por meio do Prêmio Macantonio Vilaça, da Fundação Nacional de Artes (Funarte), em 2013 – atualmente, uma das principais premiações da arte brasileira que tem como objetivo incentivar a formação de acervos e a aquisição de novas obras pelas instituições museológicas. Sob curadoria de Aguinaldo Coelho, a mostra reúne pinturas e desenhos das séries Embalagens, Rua 57 (Césio 137) e uma inédita. A exposição também integrará a programação oficial da 12ª Semana Nacional de Museus, promovida anualmente pelo Instituto Nacional de Museus (Ibram), para celebrar o Dia Internacional dos Museus, 18 de maio.

Já a exposição A Dor e os Segredos reúne 20 fotografias de Selma Parreira, que apresenta imagens de mãos de lavadeiras de roupas, que exercem o ofício por décadas. Nas mãos, estão presentes as marcas da memória do corpo deixadas pela árdua e dolorosa atividade. Elas foram fotografadas usando os anéis de Luzalina, confeccionados com prata e pedras de anil. Em dois pontos de áudio, os visitantes poderão conferir as entrevistas feitas com sete lavadeiras da cidade de Goiás.

Selma Parreira

A fotógrafa nasceu em 1955, em Buriti Alegre, cidade do interior do Estado de Goiás. Há muitos anos, mora e trabalha em Goiânia. No início da carreira, nos anos 1980, trabalhou com gravura em metal até concluir o bacharelado em Artes Plásticas na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, onde, desde 1993, é professora. Além do ensino, desenvolve projetos gráficos e curadoria em artes visuais.

Como gravadora, participou de mostras coletivas e salões de arte. Logo em seguida, começou pesquisas com pintura, utilizando acrílico sobre tela e participando de coletivas e salões. “Meus trabalhos deste período evidenciavam influências da pop art e do movimento da transvanguarda. Realizava pinturas em grandes formatos que incorporavam muito humor, movimento e cores vibrantes, buscando liberdade de formas e expressão. Nesta época, integrei a mostra BR – Pintura Brasileira Anos 80, do Itaú Cultural”, conta Selma.

Nos anos 1990, a pesquisa a levou à ausência de formas e a experimentar novos materiais que incluíam lonas velhas, pigmentos naturais e o uso da encáustica. “Minha produção abrigava conceitos e signos, colagens, rasgos e remendos que remetem à memória do corpo e questões que envolvem o tempo e suas ações”, relata.

Seduzida por outros interesses e possibilidades de diálogos, a partir de 2000, a instalação passou a fazer parte do trabalho de Selma. “Dou continuidade a reflexões sobre tempo e memória, e investigo, também, questões de gênero”, comenta a fotógrafa.

No ano de 2005, ela participou com fotografia digital em mostras específicas desta modalidade e, em 2006 e 2007, apresentou instalação e fotografia nas edições 8 e 9 do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) de Goiás. A videoinstalação O jantar foi produzido, em 2007, enquanto aluna especial do Curso de Mestrado em Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (FAV/UFG).

Siron Franco

O artista, nascido na cidade de Goiás, em 1947, é referência na cena artística goiana, sendo um dos mais procurados por visitantes, turistas de outras cidades do interior e de outros Estados, estudantes, pesquisadores, críticos e público em geral, que demonstram interesse em conhecer obras da trajetória do artista, inclusive as produções mais recentes e, principalmente, aquelas mais emblemáticas que têm ligação com a história social, por exemplo, a série relativa ao Césio 137.

Siron projetou-se muito jovem, na década de 1970, quando conquistou inicialmente o prêmio de Desenho na Bienal da Bahia em 1968 e, posteriormente, o Prêmio de Viagem no Salão Global da Primavera (Brasília – 1973); o Prêmio de Pintura na Bienal Nacional de São Paulo (1974); o Prêmio Internacional de Pintura na 13ª Bienal Internacional de São Paulo (1975), e os Prêmios de Isenção de Júri e Prêmio de Viagem ao Exterior no Salão Nacional de Arte Moderna no Rio de Janeiro (em 1974 e 1975, respectivamente). Tal destaque nacional de Siron deu vital impulso na cena artística de Goiás, deflagrando, naquela época, o início do mercado goiano, com a abertura de novas galerias de arte e cobertura intensa da imprensa, notadamente nas colunas sociais.

De acordo com o curador Aguinaldo Coelho, doutorando e professor da FAV/UFG, naquela época, Siron conviveu com os maiores nomes, não só das artes plásticas, mas da intelectualidade brasileira como um todo, até tornar-se um dos maiores artistas brasileiros, com alcance internacional. “Tais informações foram constatadas nas minhas pesquisas, e na série de entrevistas e encontros com o artista em seu atelier, inicialmente para o meu doutorado, sobre a cena artística goiana na década de 1970, e que acabaram originando outros projetos, como este, vitorioso, de concorrer ao Prêmio Nacional de Artes Plásticas Marcantônio Vilaça 6ª edição, realizado pela Funarte e Ministério da Cultura em 2013, idéia que nasceu num daqueles encontros. Este prêmio confirma o prestigio nacional que Siron continua desfrutando, desde os anos 1970”, relata o professor.

“Cientes de que o MAG só possuía trabalhos do Siron do início da carreira e objetivando contemplar o acervo do museu com obras posteriores do artista, foi proposto este projeto ao Prêmio Marcantonio Vilaça, com a parceria do Museu de Arte de Goiânia e com o próprio Siron Franco, para permitir ao público um acompanhamento do percurso do artista e também o conhecimento de importante aspecto da história da arte local e nacional”, reitera o curador.

De acordo com ele, do conjunto de trabalhos selecionados juntamente com o artista e com a diretora, além de representativos da sua produção, até o momento, e da qualidade artística que possuem, vale notar o aspecto de notoriedade, por exemplo, da série relativa ao acidente radioativo, ou radiológico, com o Césio 137, cujas obras têm especial interesse para a História da Arte do Estado de Goiás e também nacional.

A série Rua 57 é um reconhecido trabalho de Siron que refere-se a um drama da história dos goianos e faz parte da História da Arte de Goiás, pois foi realizada na época do acidente com o Césio 137, acidente que impactou todo o Brasil e teve repercussão mundial. “Dentro de sua prática de reportagem e denúncia social, Siron trouxe o doloroso episódio à arte. Compõe-se esta série de vários desenhos em têmpera vinílica sobre papel Fabriano 360, com representações simbólicas relativas a arquitetura do local, animais, objetos, pessoas, radiação e morte. É composta, ainda, por uma grande pintura”, conta Coelho.

Embalagens foi a série exposta na Embaixada do Brasil na França, por ocasião do Ano do Brasil na França. Outros dois trabalhos da série integram os acervos dos colecionadores Justo Werlang, criador da Bienal do Mercosul, e do editor Charles Cosac, reconhecidos nomes da cena artística do Brasil. Os trabalhos apresentam pintura envolvida por arame farpado, cuja incorporação ao trabalho possibilita o diálogo entre os diferentes materiais e a sua representação simbólica.

Em sua obra Continentes, realizada em 2014, Siron desenvolve e realiza grandes exposições de pintura nos espaços de arte mais prestigiados nacionais e internacionais. As denúncias ocorrem em propostas mais sutis, sem o foco nas assemblages ou figuras deformadas das épocas anteriores, mesmo que haja utilização de materiais diversos, pois o artista quase sempre se utiliza da técnica mista. “O procedimento resulta visivelmente numa técnica pictórica de soluções bidimensionais”, finaliza Coelho.  

Fonte: O Hoje