Interior com trânsito de capital

Crescimento da frota de veículos nas maiores cidades goianas é bem maior que o registrado em Goiânia nos últimos cinco anos

Vandré Abreu 04 de maio de 2014 (domingo)
O crescimento da frota de veículos nas 14 maiores cidades do interior de Goiás nos últimos cinco anos é bem maior que o da frota da capital, segundo levantamento feito pelo Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) a pedido do POPULAR. Em Águas Lindas e Valparaíso, no Entorno do Distrito Federal, e em Senador Canedo, na região metropolitana de Goiânia, a frota cresceu mais de 100% desde março de 2009, respectivamente, 155%, 115% e 114%. Para se ter uma comparação, na capital, o crescimento foi de 33,84% em meia década.

A consequência disso é que estas cidades já começam a enfrentar problemas de cidades grandes, como trânsito mais complicado nas horas de pico e congestionamentos. A prefeitura de Itumbiara, onde a frota cresceu 49% em cinco anos, elabora estudo para a reorganização do transporte coletivo na cidade. Uma empresa foi contratada para fazer o planejamento de um transporte público com promessa de ser eficiente e atrativo, para fazer o cidadão deixar o veículo particular em casa. Itumbiara tem 98 mil habitantes e uma frota de 75 mil veículos particulares.

O superintendente de trânsito de Itumbiara, Wilson Salinas, diz que o incentivo ao transporte coletivo é a melhor maneira de resolver o problema dos congestionamentos na cidade. No entanto, Salinas reconhece que dificilmente um grande número de pessoas deixará de usar o veículo particular. “A cidade não foi projetada para um trânsito deste tamanho, as vias são as mesmas que foram feitas há muito tempo, quando eram usadas por animais. É um grande problema pra gente”, explica. Ele diz que já se faz um estudo de engenharia de trânsito, que busca rearranjar os sentidos das ruas e um estudo de tráfego, com proposição de nova sinalização na cidade.

Já em Águas Lindas, com o maior aumento da frota nos últimos cinco anos, o principal problema ocorre nos finais de semana, quando todos os moradores permanecem na cidade. Por ser uma cidade próxima ao Distrito Federal, grande parte dos moradores de Águas Lindas trabalham na capital federal. Com isso, o movimento do trânsito aumenta mesmo é durante os finais de semana. O fluxo de veículos na ida e no retorno ao trabalho no Distrito Federal até provoca tráfego nas madrugadas e início das noites, mas sempre em um mesmo sentido e nas rodovias, o que não atrapalha o trânsito nas vias municipais.

A mesma situação é vista em Planaltina, também na região do Entorno, com aumento de 86% na frota de veículos. No município, apenas neste ano um órgão regulador do trânsito está sendo criado. “Falta muita estrutura e nos finais de semana, com o aumento no fluxo, piora muito”, diz o agente de trânsito Eudes Amorim.

Superintendente Municipal de Trânsito de Senador Canedo, cidade da região metropolitana de Goiânia, Valdivino Baltazar explica que a cidade cresceu assustadoramente nos últimos anos e o problema do trânsito passou a ser um desafio diário para os engenheiros. “Tentamos adequar o município à sua realidade, com mudanças nos sentidos das vias e uma busca de organização, mas as vias são muito estreitas e essa é nossa maior dificuldade”, diz. Baltazar explica que a prefeitura já estudou rotas alternativas para caminhões e a instalação de redutores de velocidade na região central e na José de Oliveira, bairro conhecido da cidade.

O problema é muito parecido com o que se vê atualmente em Trindade, conforme atesta o diretor de Trânsito Sérgio Ribeiro. “Trindade é mais cheia nos finais de semana e durante a Festa do Divino, em que fica de fato muito complicado.” Nos dias de semana, o diretor afirmar conviver com problemas de falta de estacionamento na avenida em que está os bancos da cidade.

Metrópoles

Professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em trânsito, Márcia Helena Macedo explica que os dados de aumento da frota do Detran-GO não podem ser analisados em separado. Ela verifica que as cidades do interior do Estado também tem aumento maior que a capital em relação à população. Segundo a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2013, das 14 cidades interioranas analisadas, apenas 4 tiveram crescimento populacional menor do que o verificado em Goiânia (veja quadro).

Márcia Helena pontua que estas projeções ocorrem desde a última década e se destaca, sobretudo, nas regiões metropolitanas. “Há uma expansão imobiliária nas cidades do entorno, em que os imóveis são mais baratos e, logo, chamam a atenção especialmente das classes C e D. Moram lá, mas trabalham nos grandes centros. É uma distância maior e, como o transporte coletivo não é atrativo, usam os carros, aumentando a frota.” Isso é possível pela política econômica brasileira dos últimos anos, com facilitação para compra de veículos, pela redução de impostos e melhorias no financiamento.

Fonte: O Popular