Professor da UFG lidera em inovação,atesta MIT

Pesquisador aparece entre os dez brasileiros mais inovadores pela criação de microchips a baixo custo para diagnósticos clínicos

Katherine Alexandria 05 de maio de 2014 (segunda-feira)

O desenvolvimento de tecnologia a baixíssimo custo com uso de materiais alternativos para diagnósticos clínicos fez com que o professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Wendell Coltro, de 34 anos, ficasse entre os dez jovens brasileiros mais inovadores segundo a revista MIT Technology Review, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

A versão internacional da lista já revelou nomes como Mark Zuckerberg, do Facebook, e Sergey Brin, do Google.

Wendell é paranaense, pós-doutor em Química Analítica pela Universidade de São Paulo (USP). Está há cinco anos em Goiás e coordena o Grupo de Métodos Eletroforéticos da UFG. Com 15 alunos de mestrado, doutorado e iniciação científica, produz dispositivos portáteis para diagnóstico instantâneo de doenças tropicais, como dengue, malária, chagas e tuberculose ou para exames de rotina. Na fórmula estão simplicidade instrumental, facilidade de manuseio, de operação e custo quase zero.

Dois métodos (veja no quadro) foram apresentados para conseguir chamar a atenção dos jurados no prêmio da Technology Review, que o descreveram como muito interessante. O primeiro utiliza toner de impressora a laser e transparência – plástico usado em retroprojetores – e o outro, carimbo e papel usado comumente para coar café. A ideia é possibilitar uma revolução semelhante a que aconteceu com a miniaturização de chips em computadores. Neste caso, os microchips são fabricados com uso do carimbo ou de uma impressora.

Trilhas, como as encontradas em chips de eletrônicos, são desenhadas no plástico ou no papel, mas ao invés de transportar dados, na cavidade formada acontecem reações químicas. A amostra biológica, que pode ser sangue, urina, soro ou plasma, migra sem a necessidade de equipamentos como bombas ou fontes de alta tensão, por exemplo, que são elementos utilizados em laboratórios e que encarecem o processo. O que transporta a solução é a força capilar até regiões específicas onde encontram os reagentes.

Baixo custo

“No laboratório são usados de 5 a 10 mililitros de sangue. Conseguimos fazer oito ensaios com uma gota (microlitros)”, pontua sobre o uso do microchip em papel. Além da menor quantidade de amostra, em laboratórios ainda é preciso separar plasma ou soro e depois fazer ensaio individual com instrumentos que chegam a custar mais de US$ 100 mil, segundo o professor. “Nosso segredo é só um carimbo, que custa cerca de 50 dólares, e papel, que pode ser de diversos formatos, como toalha, lenço, higiênico.”

Um carimbo pode ser usado para fazer milhares de microchips. A técnica no papel foi desenvolvida há um ano e meio na universidade. Nela, ao final da reação ocorre alteração de cor. Wendell estima o custo de cada protótipo em menos de um centavo. Já para conseguir até 96 análises simultâneas com toner e transparência, o custo sobe um pouco. “Podemos arredondar para 10 centavos.” No sistema convencional, se comparado, chegaria a R$ 5 mil.

A tecnologia desenvolvida em Goiás ainda possui a peculiaridade de ser rápida. Em dois segundos é possível ter um resultado.

“A ideia era conseguir inovar com algo para a sociedade, possibilitar que o próprio paciente colete suas amostras, sem a necessidade da presença de um enfermeiro.” Isso para conseguir alcançar locais onde não há laboratórios, com sistema de saúde precário. “O paciente, de onde estiver, pode usar uma câmera de celular para capturar a intensidade da cor e enviar para o médico analisar e prescrever medicação”, explica sobre o que diz ser o futuro, a chamada telemedicina.

Urgência

Outro possível uso é em exames de urgência, em que em uma UTI móvel seria possível fazer as análises e ajudar a salvar vidas. “Trabalhamos para validar o projeto, e os resultados estão acima de 90%”, afirma. Protótipo para diagnóstico de dengue é testado e o grupo já consegue conduzir ensaios para glicose, colesterol, triglicérides, proteínas, albumina sérica, nitrito, lactato e ácido úrico. Isso utilizando urina artificial e amostras de pacientes com dengue.

“Trabalho nessa área, que é nova, desde 2002 e fui buscando métodos mais fáceis para implementar”, explica sobre a técnica utilizada no trabalho, a microfluídica, que é uma ciência nova ligada ao manuseio de volumes da ordem de nano e pico litros para reações químicas, separações analíticas, ensaios de diagnósticos, entre outros. É uma área que não fica restrita à Química, é interdisciplinar, diz Wendell.

Com o projeto com os sistemas descartáveis, o grupo foi vencedor do Prêmio Finep de Inovação 2013, da Financiadora de Estudos e Projetos. “Depois surgiu a indicação pelo reconhecimento do MIT. Fiz um resumo e enviei”, conta Coltro. Para ele, o que faz o projeto forte candidato à lista global da Technology Review é o potencial de gerar dispositivos de diagnóstico instantâneo para várias doenças, além dos benefícios sociais.

Fonte: O Popular