Boa Visão começa temporada 2014

A dona de casa Léia Antunes, de 33 anos, chegou apreensiva na manhã de ontem na Escola Municipal Joaquim Câmara Filho, no Jardim Cerrado 4, onde estudam os dois filhos, Marcos Luiz, de 7, e Helen Antunes, de 12. O garoto vem apresentando uma irritação recorrente nos olhos e buscava respostas para o problema. Quando soube que o ônibus do Projeto Boa Visão, da Fundação Jaime Câmara, estaria no colégio, ela correu lá para acompanhar o exame dos filhos. Ela foi tranquilizada por um dos mais renomados oftalmologista do País, Marcos Ávila, diretor do Centro de Referência em Oftalmologia (Cerof) da Universidade Federal de Goiás (UFG), parceiro do projeto ao lado da Secretaria de Educação de Goiânia.

O Projeto Boa Visão, criado em 1995 com o objetivo de prevenir, detectar e tratar doenças oculares na rede pública de ensino sem nenhum custo, abriu ontem num dos bairros mais pobres da capital a sua temporada 2014. Premiado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o projeto tem como principal característica o atendimento nas unidades de ensino através de um ônibus equipado com dois consultórios. “Se depender da mãe levar a um médico para uma consulta, ela não leva”, afirma a diretora executiva da Fundação Jaime Câmara, Raquel Teixeira, para ressaltar a importância da presença dos profissionais de Oftalmologia nas escolas.

Usando óculos desde o ano passado, Raquel de Paula, 11, ouviu da médica que a atendeu que poderia abandonar o acessório. Feliz da vida, ela deu a notícia à mãe, Carla de Paula, 37, que não tinha acompanhado a consulta. “Como assim?”, questionou. Depois de ouvir a explicação da profissional, a mulher se convenceu de que a filha estava bem. O diretor do Cerof ressaltou o grande alcance social do Projeto Boa Visão. “Desde 1997 o Cerof está engajado em campanhas de combate à cegueira, já atendemos mais de 1,3 milhão de pessoas em todos os municípios goianos e até em outros estados, como Amapá, Mato Grosso e Tocantins, mas este projeto é um dos nossos maiores orgulhos porque tem começo, meio e fim. O Boa Visão já foi objeto de duas teses no Cerof”, comentou Marcos Ávila.

Além da avaliação médica nas escolas, os estudantes que apresentam problemas de visão são encaminhados para o Cerof onde são atendidos numa fila específica. Raquel Teixeira explica que uma funcionária da Fundação Jaime Câmara tem a responsabilidade de lembrar os pais da consulta para que o acompanhamento não seja interrompido. Em caso de óculos, tratamento ou cirurgia, todo o custo é assumido pelo projeto. Marcos Ávila estima que nas escolas onde o projeto chega a taxa de repetência e evasão cai de 10% a 15%. Neyde Aparecida, secretária de Educação de Goiânia, concorda. Segundo ela, o problema é que muitas vezes, sem conseguir enxergar direito, o aluno tem consequências negativas no desempenho escolar.

Antes do ônibus-consultórios do Boa Visão chegar à unidade de ensino, uma triagem preliminar foi realizada por um técnico da Fundação Jaime Câmara. Dos 125 mil alunos da rede pública de Goiânia, cerca de 12 mil serão assistidos em 2014. Em média, o retorno à escola ocorre num período de dois anos. Ainda este mês, o projeto vai chegar também às unidades da rede estadual.

Cirurgia de catarata

Além das escolas de ensino fundamental, o Boa Visão alcança também Centros Municipais de Educação Infantil e alunos do programa Educação para Jovens e Adultos (EJA). Foi numa das paradas do ônibus-consultórios do projeto por uma unidade do EJA que a comerciária Nilza Martins de Almeida, 38 anos, descobriu porque não conseguia enxergar direito desde a infância. “Eu comecei a enxergar mal aos 10 anos e os médicos não descobriam o que eu tinha. Só falavam que era uma doença incurável. Eu trocava de óculos todo ano”, contou. Nilza foi diagnosticada em 2010 pelos profissionais do Cerof como portadora de catarata precoce e má formação congênita nos olhos.Através do Boa Visão, ela passou por todos os exames e foi submetida à cirurgia nos dois olhos. “Hoje enxergo que é uma beleza. Eu usava lupa na escola. Só tenho que agradecer a Deus e à Fundação Jaime Câmara.” Como o problema de Nilza é hereditário, o filho Gabriel Henrique, 14 anos, já está sendo acompanhado pelo Boa Visão.

Números

Programa completa este ano 19 anos de atuação

De 1995 a 2013
■ 524 mil estudantes atendidos

Em 2013

■ 44 mil alunos passaram pela triagem
■ 11 mil foram examinados
■ 4 mil óculos distribuidos
■ 766 foram encaminhados para tratamento e cirurgias

Fonte: O Popular