Furtos e roubos em ascensão

Apesar de estagnação de homicídios, crimes contra o patrimônio continuam em alta no Estado

Os dados estatísticos da segurança pública em Goiás e Goiânia, no primeiro quadrimestre deste ano, revelam uma tendência de aumento dos crimes contra o patrimônio e uma estabilização ou diminuição dos crimes contra a vida. Na capital, entre janeiro e abril deste ano, o roubo a residência e o roubo de veículos aumentaram 42,85% e 34,6%, respectivamente, comparado ao mesmo período do ano passado. Enquanto isso, o total de homicídios reduziu 1,5%. No Estado, os percentuais são semelhantes, o que contrasta com o aumento de assassinatos de 1%.


A situação, considerada complexa por especialistas ouvidos pelo POPULAR, pode ser explicada, segundo eles, por uma série de motivos. Do lado oficial, a Secretaria Estadual de Segurança Pública de Goiás (SSP/GO) atribui o aumento de crimes contra o patrimônio à maior presença do policiamento, o que estaria motivando as pessoas a denunciarem mais, e à sensação de impunidade dos criminosos, já que esses delitos possuem pena branda e os autores não ficam presos por muito tempo. Isso, conforme a SSP, gera a chamada reiteração criminal.


Entre os estudiosos, a versão é um pouco diferente. O professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), Dijaci David de Oliveira, rechaça o argumento de que o maior policiamento estaria motivando o aumento das denúncias. “Não necessariamente isso gera notificação, porque é preciso ir a um órgão, a uma delegacia para fazer isso. A polícia pode até encaminhar, mas o maior policiamento devia promover, na verdade, era a redução desses crimes e não o aumento das notificações. Não é essa a resposta que deveria estar acontecendo”, expõe.


Mesmo com o aumento significativo dos crimes patrimoniais, Dijaci acredita que eles possam ser ainda maiores, em decorrência do crescimento acelerado da cidade e da consequente carência de delegacias, postos policiais ou outras ferramentas que facilitam o acesso da população à segurança pública. “Como em todo lugar, aqui também existe subnotificação”, afirma. O professor concorda, em partes, com o argumento da sensação de impunidade e da reiteração, mas o analisa com cautela, ao levar em consideração o fato de que estados próximos, como Distrito Federal e Mato Grosso estão conseguindo reduzir os índices de criminalidade. “A lei é a mesma para todos. Temos de ver porque eles estão diminuindo e nós não”, sugere.


Entre as prováveis explicações apontadas, está a de que, geralmente, os crimes de roubo e furto estão ligados a questões sociais e à falta de oportunidades. O também professor da UFG e do curso de Ciências Sociais, Nildo Viana, acredita na força dessa tese, já que o comum é a tendência ser a mesma para crimes contra o patrimônio e contra a vida, seja de aumento ou de redução. Diante da situação peculiar, em que um está aumentando e o outro diminuindo, a hipótese do roubo para suprir uma carência social ou, até mesmo, para pagar o consumo de drogas se torna a mais plausível. E Dijaci lembra que Goiânia é uma das cidades mais desiguais do Brasil e que, tanto a capital como o Estado, sofrem processo de expansão do tráfico.


RESPONSABILIDADE


A Constituição Federal atribui competências para quem deve lidar com questões ligadas à segurança. Na visão da professora do curso de Direito da UFG e representante da universidade no Conselho Estadual de Segurança Pública, Bartira Macedo de Miranda Santos, elas são distribuídas muito entre União e Estado, enquanto o município é deixado de lado. No caso de Goiás e Goiânia, ela aponta a falta de políticas públicas de segurança, que visem resolver a questão mais no âmbito social.


Da forma como a criminalidade está na capital, a professora avalia como imprescindível a inserção e responsabilização do município, de maneira que ele participe de maneira mais ativa. Ela sugere a criação de um conselho municipal de segurança para que haja um acesso maior aos dados e informações, que, muitas vezes, ficam restritos ao Estado e à União, gerando um descompasso entre as partes envolvidas.


Sociólogo não vê melhora nos índices de homicídio


Diante da priorização da Secretaria Estadual de Segurança Pública de Goiás (SSP/GO) no combate aos homicídios, algo falado desde o ano passado, em razão dos recordes sucessivos, o sociólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Dijaci David de Oliveira, afirma não ter nada a comemorar com redução de 1,5% em Goiânia e aumento de 1% no Estado. Entre a elevação e a diminuição mínima, observa-se um cenário de estabilidade, o que quer dizer, segundo ele, “nada mais, nada menos, que a situação continua crítica, apesar dos esforços”.


O Programa Goiás Cidadão Seguro, criado pela SSP, tem como meta a redução de 10% nos homicídios em 2014. O governo tem comemorado uma redução mês a mês, desde fevereiro deste ano, em comparação ao ano passado. Segundo a Secretaria, a medida especial se fez necessária em razão do momento e da gravidade do crime, mas o órgão defende que isso não significa que os demais delitos não mereçam atenção similar. A orientação é a de que as forças policiais trabalhem também na busca da redução dos crimes patrimoniais. Em nota, a SSP enfatiza que mais de 5 mil veículos foram recuperados este ano - 95% em relação aos furtados e roubados.

Fonte: O Popular